Colunistas

Publicado: Segunda-feira, 6 de março de 2006

Por Menos Desigualdade Social

Dias atrás, lendo um artigo sobre as imensas desigualdades entre ricos e pobres, levei um susto. O autor retornava a meados do século XVIII e simplesmente afirmava, com boas estatísticas, que a rigor não havia ricos. Todos eram pobres e a maioria miserável. Na Inglaterra, na Alemanha e na França, países com piso salarial altíssimo, de até 30 mil dólares per capita, o salário da maioria absoluta seria de apenas 3.500 dólares, valor semelhante ao dos nossos dias na América e na África.

O que explica essa significativa superação de um ganho anual tão baixo, insuficiente para uma vida condigna em nossos dias? A resposta não é fácil de ser dada. Somente em parte a exploração das riquezas da América Latina e da África, pelos colonialistas europeus, pode ser uma possível explicação. O fenômeno da industrialização e especialmente o da laboriodidade dos países poderá dar razões mais consistentes. Os que possuíam certas economias passaram a investir pesado no desenvolvimento da indústria. Deu-se uma verdadeira revolução na economia, com a produção em série dos bens de consumo. As tecnologias do vapor e da eletricidade imprimiram à indústria um desenvolvimento tecnológico impressionante, cuja tendência futura é ainda mais impressionante, com a robotização e a aplicação da energia nuclear para fins pacíficos.

Superado o “capitalismo selvagem”, Pastores da Igreja, empresários, políticos e líderes sindicais empenharam-se a fundo na superação das injustiças sociais entre os séculos XVIII e XX. Não foi o capitalismo e nem o neoliberalismo que acabaram revendo as condições injustas das crianças, mulheres e operários que deixaram os campos em busca de trabalho, morando na periferia das cidades e inchado-as de favelas. Aos poucos foram sendo propostos os grandes princípios da Doutrina Social da Igreja, a partir do amor e da mais justa partilha do necessário. Acabou-se promovendo uma justiça social e econômica em todo o Ocidente. Não é ideal a situação em que nos encontramos mas, certamente, é uma nova situação mais digna e menos injusta, restando muito a ser feito.

Vem a propósito lembrar que há uma “destinação universal de todos os bens produzidos”, o “primado da dignidade da pessoa humana que supera infinitamente a de qualquer irracional”, “a natureza social do homem e da mulher sujeitos a direitos e deveres”, o “primado das instituições familiares e outras que são intermediárias entre a pessoa e a sociedade”, “os direitos e deveres do Estado colocado ao serviço e não ao domínio do cidadão, “a prevalência do bem comum sobre o bem particular”. Acrescenta-se a tudo isso “as competências dos grupos intermediários entre o Governo, o Estado e a Igreja”. Estamos assim diante de um quadro bem definido, do qual deverá resultar uma sociedade menos desigual, mais justa e fraterna, convivendo harmoniosamente.

Aos que poderiam insinuar ser os princípios da Doutrina Social da Igreja algo inatingível, lembro que a democracia cristã — não a liberal -, o cristianismo — não o marxismo ateu e materialista -, reconstruiram e salvaram a Europa depois da Segunda Guerra Mundial. Destacaram-se lideranças democratas-cristãos como: Konrad Adenauer na Alemanha, Gorge Bidault na França e Alcides De Gaspari na Itália, assim como vários outros. Pena que os acontecimentos dos anos 1980 e 1990 viriam a diluir os sonhos dos democratas-cristãos.

Será possível voltar a inspirar-se na Doutrina Social da Igreja mais adiante? Acredito que sim e venho me empenhando nesse sentido, inclusive relendo minha obra “Por Uma Nova Sociedade no Terceiro Milênio”. Pode-se não falar em “terceira via”, mas de fato é um novo caminho já testado e com bons resultados no campo da justiça e da caridade. O resto é egoísmo destinado à exploração dos mais fracos, distanciando ainda mais os ricos dos pobres. Não é esse o plano de Deus, que nos fez todos à sua “imagem e semelhança”, com idêntica dignidade, os mesmos direitos e deveres.

Comentários