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Publicado: Sábado, 9 de junho de 2012

Ponto verde

Crédito: Domínio Público Ponto verde

Era noite de quinta-feira quando o amigo que chegara das bandas da Irlanda entrou em minha casa. Largou a bolsa sobre o sofá e, com seu jeito de menino grande, xereteou pelos cômodos e estacionou no jardim. A prosa e a refeição se estenderam até a madrugada, quando partiu.

Lá fora, um ponto verde luminoso piscava embaixo da Gloxínia. Vagalume - pensei. Mas tão grande? O ponto brincou comigo, apagando e acendendo em todos os lugares. Desisti de correr atrás.

Amanhecia quando vi o minúsculo homenzinho de roupa e chapéu de três bicos - tudo verde - avental de couro e sapatos com fivelas, martelando alegremente um único pé de calçado.

Leprechaun, sussurrei - o gnomo sapateiro das fadas - o guardião do pote de ouro do fim do arco-íris. O astuto duende viajara incógnito na bolsa do amigo e, desapercebidamente, escondera-se no meio da folhagem.

Os leprechauns são espíritos antigos e sábios que devem ser abordados com respeito. Conta-se que possuem uma moeda mágica de prata, que retorna à sua bolsa depois de ser gasta. Assim eles nos ensinam a ser prudentes com os gastos desenfreados.

Vivem geralmente em pequenos arbustos, bosques ou florestas irlandesas. Quando encontrados, devem ser vistos antes que percebam a presença humana para que se tornem mais cooperativos e, quem sabe, conduzir o aventureiro a um de seus potes de ouro.

Todo mundo sabe que ninguém chega ao fim do arco-íris. O tesouro que ali se esconde é constituído por metais preciosos que simbolizam a luz do sol, pelos grãos amarelos das colheitas e pelas riquezas do espírito.

Gente grande se esquece da magia da infância, povoada de seres fantásticos. Ignora que a grande magia da vida é extrair das histórias encantadas a sabedoria que encerram: o pote de ouro da amizade que deve ficar sempre à vista, e a capacidade eterna de se encantar.

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