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Publicado: Terça-feira, 5 de junho de 2012

Podemos aprender a não sofrer com a morte?

Podemos aprender a não sofrer com a morte?
Voltaire - A Morte de Sócrates

Vida e morte são temas que estão muito próximos de nós, porque não existe nada que não morra.

Enquanto não chega a vida que sonhamos, de uma infância até os 25, começar a estudar aos 30, ter uma adolescência que chegue aos 55, casar aos 75, ter filhos aos 105 e carregar os netos no colo com 140 anos, vamos tocando a vida como podemos e permitindo que os afazeres e compromissos joguem para o lado os cuidados com o nosso eu.

Viver é gastar-se. Estamos todos morrendo desde o momento em que nascemos, mas é bonito notar o esforço insano que faz a natureza para nos manter vivos e retardar ao máximo esse momento. A natureza precisa que a vida de cada ser exista pelo maior tempo possível. Será que podemos colaborar um pouquinho com ela?

É chegada a hora de aprendermos não sofrer com a morte, nossa e dos outros. A morte dói só de se imaginar que ela chegará, talvez pela ausência de sentido, muito bem retratada no verso de Vinicius de Moraes: “Então pergunto à Deus, escute amigo: se foi prá desfazer porque que é que fez?”

Será que os outros animais sofrem com a morte como nos seres humanos?

Algumas pessoas vivem para o trabalho, outros vivem para o lazer, outros vivem para outras pessoas, mas poucos vivem para si próprios. Não tem nada errado viver para outras pessoas, até o dia em que elas morram. Quantos casos conhecemos de pessoas que não superam a dor de perder um ente querido. Um bom começo é ensinar as crianças a entenderem e aceitar a morte. Dê-lhes, por exemplo, um animalzinho que um dia morrerá e a criança começará a entender essa que é a única certeza da vida.

Nesse pequeno intervalo entre o nascimento e a morte, vamos procurar viver de forma intensa. Uma vez que nascer e morrer é certo, resta-nos decidir como viver. Que tal começar livrando-nos dos adornos e armaduras pesadas que juntamos durante toda a vida. Ouvir mais música, passear mais, abraçar mais, amar mais, dizer para os nossos familiares o quanto os amamos.

As palavras que se seguem foram ditas por Sócrates, pouco antes da sua morte por execução. Ele que foi um dos homens mais sábios de todos os tempos. Foram escritas por um dos seus mais dedicados discípulos – Platão.

“Quando meus filhos forem homens senhores, puni-os como eu vos punia, no caso de eles cuidarem mais do dinheiro e de coisas semelhantes do que da virtude; e se porventura julgarem valer alguma coisa, sem nada valerem, repreendei-os tal como eu vos repreendi para que não cuidem do que não devem e não se arroguem valer o que não valem. Se assim fizerdes, tereis sido justo para mim e para os meus filhos”.

“Chegado é o tempo de partirmos. Eu para a morte, vós para a vida. Qual dos destinos é o melhor? A não ser Deus, ninguém o sabe”.

Assim como comemos as melhores comidas e não as que aparecem em maior quantidade, faça assim com a sua vida. Viva intensamente seus melhores momentos, pratique a sinceridade do riso, do abraço, na justiça, na paz, no repartir e acredite que assim um dia o lucro vai perder para a solidariedade, o amargo vai perder para o doce e a correria para o descanso.

Fonte principal: Debates do “Encontros Filosóficos”, quinta edição, Itu, 02 de junho de 2012.

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