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Publicado: Sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Pílulas da felicidade

Pílulas da felicidade
Domínio Público

Nem precisa ir ao médico. Basta ligar a TV e consultar o cardápio oferecido pelos anunciantes de remédios. Tem de tudo. Pílulas para dores musculares, de cabeça, cólicas menstruais, para dormir, acalmar, para gases, ressaca, gripe e febre.

 
Existe também os alimentos reguladores do intestino, e marcas de água mineral para o perfeito funcionamento da bexiga, além das bebidas específicas para “dar um up”.
 
Há solução para tudo, baseada no conceito da indústria farmacêutica desenvolvido no final do século 20: “Remédios de estilo de vida”, certamente copiado por “Alimentos de estilo de vida”, com o grande objetivo de criar um mercado consumidor para todos esses produtos.
 
Acreditamos nisso. Quando os comprimidos terminam e a garrafa ou latinha se esvaziam, compramos outras e as indústrias agradecem. Os médicos também aderiram emitindo lautas receitas. Quando um ou outro não o faz, o paciente reclama.

Entre os medicamentos mais vendidos atualmente estão os que reduzem a ansiedade. Todo mundo odeia ficar ansioso. Ninguém se lembra que a ansiedade é necessária para adaptar o indivíduo ao meio ambiente, indicando que algo deve ser feito para mudar a sua vida.
 
É mais fácil continuar comento salgadinhos e tomar qualquer coisa para a má digestão ou para emagrecer. Mudar os hábitos, o emprego ou o relacionamento dá muito trabalho.
 
Aprendemos que a felicidade está ligada ao que consumimos e que a tristeza deve ser sempre eliminada. Como hoje existem medicamentos capazes de eliminar a tristeza, cria-se uma relação de consumo.
 
As questões essenciais de nossa vida ligadas ao sofrimento e à dor não deveriam ser reduzidas aos interesses milionários das grandes indústrias. Tristeza, vazio, solidão e descontentamento servem para o crescimento pessoal e para que façamos novas escolhas.
 
Tudo bem se você tomar sacos de “Remédios de estilo de vida”, ou escolher ser congelado aos vinte anos numa câmara frigorífica. Quando vier o degelo – e ele virá - perceberá que perdeu o trem do tempo. Trem?
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