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Publicado: Quinta-feira, 24 de maio de 2012

Pesadelo

Crédito: Google Imagens Pesadelo

Comer salsicha à noite não faz bem. Esqueci-me disso e comi um belo cachorro quente duplo antes de dormir. Foi a conta, pois no pouco tempo em que dormi tive pesadelos horríveis, até que desisti da cama e escrevi este despretensioso artigo.

Sonhei que vivia num país, cujo nome não me recordo. Era até um país legal. Sem torturas, sem guerras, sem terremotos, sem, sem, sem. Até aí o sonho foi bem, mas começou a complicar quando fui escolher uma profissão para viver.

Pensei em estudar num colégio militar, ficar oficial da Marinha e pilotar uma fragata, já que neste país tem muitos mares à navegar. Desisti, quando descobri que um motorista do Senado ganha mais para dirigir um carro.

Pensei então na Força Aérea, poderia ser um oficial e voar num Mirage. Também desisti, quando descobri que um ascensorista da Câmara Federal  ganha mais para voar com os elevadores da casa, sugerindo que os elevados usuários não sabem apertar botões.

Pensei num oficial-general do Exército e comandar uma Região Militar ou  uma grande fração do Exército. Desiste na hora, quando soube que um diretor que é responsável pela garagem do Senado ganha mais.

Agora sim, serei um professor universitário federal concursado, com mestrado, doutorado e prestígio internacional. Bobagem, um diretor sem diretoria do Senado, diretor do que não se sabe, ganha o dobro.

Eu poderia ser um cientista-pesquisador  com muitos anos de formado, e dedicar-me integralmente na busca de curas e vacinas para salvar vidas. Também não deu, porque neste país do pesadelo, um assessor de 3º nível de um deputado, adivinhem, ganha mais.

Já estava ficando sem opção, quando lembrei-me que eu poderia ser médico, destes com residência e especialidade, para salvar vidas. Negativo, o governo deste país paga a um médico, por uma cirurgia cardíaca com abertura de peito, a importância de R$ 70,00.

Algumas pessoas pregavam que era necessário urgentemente a aplicação de um choque de moralidade, para acabar com os oportunistas e com os cabides de emprego. Que era necessário valorizar quem estudou e trabalha sério. Insistiam que era necessário ainda ter responsabilidade social e com os gastos públicos. Insistiam que não se pode perder capacidade de indignação. Mas eram vozes que falavam sozinhas. Poucos se “lixavam”.

Como todo sonho tem um fundo de verdade, fiquei pensando se este país existe. Alguém imagina que país é este?

Não sei que país é este. Só sei que salsicha à noite, nunca mais.

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