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Publicado: Sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Pensar

Disse certa vez um grande pensador espanhol do século passado, Julián Marias, escritor de notáveis livros sobre filosofia dos quais destaco “El ofício Del Pensamiento”, cujo espírito poderia ser assim traduzido: - A arte, profissão, ou artesanato do pensamento - escrito com pulcritude mental e literária. Reproduzo frase assaz significativa à nossa atual realidade cultural, sociológica brasileira, sobre a arte de “Pensar sobre as coisas, sem outro fim nem limite que a VERDADE”.

Pensamos quando lemos? Quando trabalhamos? O diálogo, quando acontece, é produto do PENSAR? É a VERDADE de quem emite uma opinião? A família brasileira, sua atmosfera, seus costumes, tradições, hábitos comezinhos, ensina a pensar? A escola, oficial ou particular, além de cumprir o programa enviado pelo Ministério da Educação Nacional, rigorosa e temerosamente obedecido e observado, tantas vezes sem a necessária pedagogia e mérito individual dos pedagogos envolvidos, ensina a pensar? Que bicho afinal será este? Será que em meus atos e divagações diárias submeto a meus circunstantes ou na privacidade de meu lar, auto recolhimento ou arguição, de algo que me desperta a atenção, o processo de raciocínio lógico, para aceitá-lo ou descartá-lo, como consequência de uma atividade psíquica consciente, organizada, a fim de exercer convictamente a necessária e treinada capacidade de julgamento, dedução ou concepção do que seja refletir, ponderar, pesar prós e contras, da conveniência ou inconveniência de optar favorável ou desfavoravelmente em pró disto ou daquilo? Qual o motivo que me conduz a decisões? Qual o filtro com que analiso circunstâncias? Qual o prisma ético, moral ou social de meus enfoques?

”Penso logo existo” a grande sentença de Descartes, tem algum significado na minha vida diária, tradicional e comum? Aquele grande filósofo, tão fundamental para a filosofia em geral, e a inteligência em particular, escreveu em latim a concisa frase “Cogito, ergo sum”. Queria dizer simplesmente que PENSAR assegura à mente com objetividade psicológica a realidade da própria existência, ou seja , quando ela se dá conta de que está pensando, perguntando-se, inquirindo-se, pode ter a certeza de que o SER existe. Quando PENSO, EXISTO, sei que não sou uma coisa! Se Penso e Existo, concebo o fundamento consciente da DIGNIDADE individual, como Ser Humano ! DIGNIDADE, CONSCIÊNCIA E EQUILÍBRIO DA FUNÇÃO E QUALIDADE PENSANTE! . . .

Quando teologicamente a Bíblia Sagrada define a concepção com que Deus teria criado o Homem, o faz “ à Sua Divina imagem e semelhança” o que sem dúvida nos traz tremenda responsabilidade, ( e, até desconforto, complicação moral, ética e prática) referente à possessão potencial da vital, indispensável e portentosa inteligência. À qual é inerente, a extensão lógica da capacidade de pensar, arquitetar, planejar, arguir, duvidar, analisar, ponderar, JULGAR, decidir, atuar, executar AFINAL, Bem ou Mal, SEGUNDO o uso de sua capacidade inteligente, racional e independente de PENSAR. Isto assegura a convicção coerente de um Ser liberto, para o exercício do LIVRE EXAME e da ação criativa. Ou seja, está implícita a DIGNIDADE HUMANA!!! E é nisto que a função política democrático-republicana tem uma etapa muito importante a cumprir: criar as condições materiais exigíveis para o efetivo alcance de todo o processo do ENSINAR A PENSAR, E SUAS CONSEQUÊNCIAS PRÁTICAS, NAS OPORTUNIDADES DE TRABALHO, HABITAÇÃO DIGNA, EDUCAÇÃO GERAL, TRANSPORTE E LAZER, SEGURANÇA, a dignidade nas relações humanas, nos princípios adotados, nos processos escolhidos, nos sistemas e ideologias propaladas, no testemunho prático e real do BEM COMUM.

Comumente, a maioria das pessoas atribuem a função de PENSAR aos ditos intelectuais ou pensadores, o que, na verdade, embora encerre uma pequena parcela da VERDADE popular, é intelectualmente incorreto, uma aberração dessa realidade deficiente, corriqueira e mal distribuída que é a EDUCAÇÃO , regularmente reinante, meramente impensante, irrelevante, raramente dialogante. A humanidade está composta por seres humanos, SUBLIME produto evolutivo ou em processo de evolução (ou de extinção?) e, estes e outros seres existentes, do reino animal ou vegetal, na sua inter-relação, interdependência, ou dependência pura e simples, determinam as condicionantes para a consciência da existencialidade, da realidade existencial perfeitamente cônscia do pensante.

Se, como Descartes sentencia, “Penso, logo existo” ou seja tenho consciência de minha existência vital, psíquica e anímica ou, Nietzche, prefere definir “Existo, logo Penso”, o importante a deduzir ou admitir é de que para estas duas grandes e privilegiadas expressões inteligentes do pensamento e da Filosofia, o fato de Pensar, a priori ou a posteriori, é a de que a essência da nossa concepção real de existência, de nossa real e inequívoca sensibilidade psíquica, moral, ética e física, está inexoràvelmente ligada ou interligada à fabulosa faculdade ou capacidade humana de Pensar. PENSAR !!! . . . PENSAR e iluminar-se !!! . . .,

Se isto é tão básico, tão vital e importante, entre os tantos objetivos a alcançar para atingir a FELICIDADE humana universal, e, esta felicidade integra inclusive os objetivos da política democrática-republicana em sua maturidade hodierna, através da propalada JUSTIÇA SOCIAL, não seria essencial que no curso de nossa infância, da mais tenra à puberdade e adolescência, tivéssemos o especial, principal e imprescindível interesse do sistema escolar nacional e dos pedagogos em geral PARA A FUNÇÃO de ENSINAR A PENSAR ? O grande Sócrates foi já definitivamente esquecido? O que era o seu maravilhoso sistema PERIPATÉTICO, UMA VEZ QUE GOSTAVA de DAR AULA ANDANDO COMPASSADAMENTE, DIALOGANDO COM SEU ALUNO, NUMA RELAÇÃO DIRETA., BI-PESSOAL, PENSANTE, DIALOGANTE, DO PROFESSOR, MONITOR, PERCEPTOR, TUTOR, INSTRUTOR, com seu aluno ou aprendiz? Perdemos definitivamente a faculdade ou interesse de Pensar, DE ADAPTAR, DE INTERROGAR, de buscar respostas às interrogações, de ensinar bem, DE PENSAR BEM, DE HUMILDEMENTE PERGUNTAR, sem deixar-se enclausurar por qualquer sistema PEREMPTÓRIO definitivo em particular, MAS AUTO ESTIMULANDO-SE A ENCONTRAR EM SI, RESPOSTAS CONGRUENTES E EDIFICANTES. Quem sabe pensar, educa-se sozinho! . . É também, não só em potencialidade, um criador! . . .

O feto, a criança, desde a sua gestação uterina, dizem os psicólogos e cientistas, já vai gravando experiências, emoções, sensações importantes e determinantes, para a formação de se

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