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Publicado: Sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Pelas esquinas litorâneas

Crédito: Marcelo Rayel Pelas esquinas litorâneas
Tolentino com Ana Costa, o Gonzaga vibra

 

Um dos aspectos interessantes da vida nas cidades são as esquinas. Esquinas significam muito e nada ao mesmo tempo. É o resultado da divisão urbana por quarteirões. Foi o seu aproveitamento que fez toda a diferença.

Quase todas cidades do mundo possuem suas esquinas. E nelas se vê a vida passar, pessoas se encontram, se despedem, choram e ri. Pessoas se apaixonam, se separam, brigam, compartilham, dividem, somam, multiplicam. As histórias de uma cidade estão nas suas esquinas. Não foi à toa que o próprio Caetano Veloso, na famosa canção Sampa, disparou: "Alguma coisa acontece no meu coração/Que só quando cruzo a Ipiranga com a Avenida São João".

Cada um tem a sua história de esquinas, cada um no lugar onde mora. Algumas esquinas ficaram muito famosas, como a esquina da Rua Divinópolis com Paraisópolis, no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, onde nasceu o Clube da Esquina. E tantas outras canções que falam de esquinas, e tantas outras vidas que surgiram nas esquinas desse nosso mundo.

A esquina da foto é o cruzamento da Rua Tolentino Filgueiras com Avenida Ana Costa. Ponto da cidade que sempre teve ares de nobre. Em tempos dourados e idos, foi o coração da antiga Cinelândia. Hoje até mantém o charme, mas os cinemas foram embora.

Em uma das quatro esquinas desse cruzamento, funciona a Chopperia Barramares. Até onde me conheço por gente, existe há mais de um bom par de décadas.

Tem gente que torce o nariz. Acha o lugar meio caidaço. Uma pena, porque perdem, certamente, um templo do colóquio, da conversa, o melhor da festa, o playcenter de gente grande. Como há todo tipo de gosto nesse mundo, há aqueles que curtem lugares transadíssimos. Outros que perdem o melhor que um bate-papo por proporcionar. E, vão por mim, não há melhor lugar do que no Barramares.

É o primo santista do Gáudio, em São Vicente. Na hora do almoço, refeições individuais, o famigerado prato-feito. E é justamente nesse horário que o local fica tremendamente democrático: doutores, professores, funcionários, peões de obra, descolados, artistas, carolas, insanos, hereges, crentes, ateus, frentistas, floristas, engraxates, embarcados, nacionais, locais, estrangeiros, chineses, coreanos e uma fauna variada se acotovelam sobre as mesas para derrubar o prato do dia e matar a fome.

Ao longo da tarde, happy-hour e noite, tem o velho e bom frango à passarinho com fritas e arroz, aquela cerveja e chopp gelado e um monte de gente à vontade, vendo a vida passar entre os olhares dos passantes, transeuntes, gente que sai do trabalho, gente que vai trabalhar, uns saindo da aula, outros indo, a velha toada urbana das coisas por fazer.

Um detalhe curioso: no Barramares não se aceita cheque, nem tampouco cartão-de-crédito ou débito. É tudo no cacau. Peculiaridades estranhamente caiçaras.

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