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Publicado: Sexta-feira, 18 de novembro de 2005

Pedofilia no Clero

Na Prece Eucarística nº 5 há uma referência ao “Povo de Deus, santo e pecador”. Exatamente assim: “Povo de Deus” e não “Igreja”. Instituição divina a Igreja não poderia deixar de ser “una e santa, católica e apostólica”, unida em torno de seu Pastor Jesus Cristo, na fé e nos seus princípios morais. Santa porque é “virgem pura, sem mancha e sem ruga”, como diz o Apóstolo Paulo. Tem a Igreja todos os meios de santificação dos seus fiéis. Quem conhece sua história sabe que nenhuma outra instituição levou tantos dos seus membros à santidade.

A Igreja é católica de direito e de fato. Jesus a enviou pelo mundo para evangelizar, sem distinção de raças e culturas. Nenhuma outra Igreja é tão universal quanto a católica. O Evangelho continua sendo proclamado em todo tempo e lugar. Assim será até o fim da história. De muitos povos a Igreja formou um só Povo de Deus, que peregrina no tempo rumo à eternidade. Somente a Igreja Católica remete aos Apóstolos, reunidos por Cristo para darem prosseguimento à sua missão salvífica e redentora. Temos a certeza de continuarmos fiéis à pregação e à doutrina dos Doze.

Nem sempre os fiéis católicos comportaram-se à altura da própria dignidade. É importante compreender que a instituição é pastoreada e integrada por homens e mulheres. Estes podem ser santos — confessores, virgens, mártires — ou medíocres e pecadores. E isso sejam consagrados ou não. O pior é quando alguns deles chegam a uma conduta escandalosa, como aconteceu há algumas semanas com o maranhense Padre Félix Barbosa Carreiro. Tendo a grande imprensa trombeteado nas páginas de jornais e revistas, além dos noticiários televisivos, não vem ao caso recordar as estripulias do decepcionante sacerdote.

Os escândalos dados por ele foram de uma gravidade imensa. Certamente fizeram um mal enorme à sua pobre pessoa de homossexual e pedófilo. Imediatamente privado de suas atribuições de pároco, foi preso. Deverá pagar pelo que fez e provavelmente será condenado a alguns anos de prisão. É pouco pelo imenso mal feito, inclusive ao bom nome da Igreja Católica e a todo o clero, em geral dedicadíssimo à própria missão de ser “sal da terra e luz do mundo”. Nenhum bispo poderá afirmar que não acontecerão outros escândalos do mesmo tipo. A ordenação sacerdotal não muda a natureza de ninguém. O padre continua um homem igual aos demais, sujeito a esses pecados como qualquer outro homem casado ou não casado.

Os Pastores da Igreja têm o dever de empenhar-se a fundo na formação humana e cristã, espiritual e moral dos futuros padres. Sempre é tempo de rever o que acontece com os seminaristas. Urge estar atento aos adolescentes chamados ao sacerdócio nestes tempos de erotismo. Posso garantir que na absoluta maioria dos nossos Seminários leva-se muito a sério a motivação dos jovens vocacionados, sua formação integral e sua conduta, hoje com acompanhamento de experientes psicólogos.

O problema do homossexualismo é mais que sério. Tem-se de distinguir entre tendência homossexual e comportamento homossexual, sem esquecer que também os heterossexuais têm os seus problemas no mundo de hoje. Nos EUA os casos de conduta homossexual no clero se multiplicaram nos últimos 30 anos, levando o episcopado norte-americano a propor ao então Papa João Paulo II o que se poderia chamar de uma “tolerância zero”. É homossexual? Nem pensar em abrir-lhe os Seminários para uma possível ordenação sacerdotal. Praticou o homossexualismo com crianças? Redução ao estado laical depois de um tratamento. Uma simples transferência de paróquia não resolve o problema...

João Paulo II e agora Bento XVI, conscientes da gravidade da situação também em outros países, não foram tão longe. Além de distinguirem entre tendência e comportamento homossexuais, optando por um sério tratamento psicológico, decidiram não fechar completamente as portas dos Seminários para homens com inclinações homossexuais. Esses perdem o cargo ministerial, submetem-se a um tratamento e caso não superem sua conduta intolerável são reduzidos definitivamente ao estado laical.

Essa diretriz prevalece no episcopado brasileiro. Temos o dever de não condescender, tomando soluções radicais, mesmo que dolorosas. Nossos 18 mil presbíteros não merecem o que vem sendo insinuado contra todos eles. E muito menos a nossa Igreja, instituição divina e humana que continua entre as de maior credibilidade em todas as pesquisas de opinião.

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