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Publicado: Segunda-feira, 27 de junho de 2005

Pecados da Igreja

Estou a cada dia mais impressionado com o número de anticlericais, gratuitos ou não, que vêm ocupando amplo espaço na grande imprensa. Seria fácil lembrar aos leitores certos editoriais dos dois maiores jornais paulistas, os destaques dados nas páginas amarelas da revista Veja, algumas reportagens da revista Época e outras publicações que circulam por aí. E isso sem referir-me a certos programas de baixo nível das maiores redes de televisão, que chegam ao coração das nossas famílias.

Em geral se acentua o que há de negativo na longa história passada ou atual da Igreja. Não quero negar alguns desacertos disciplinares e pastorais cometidos nos dois mil anos da instituição que venho servindo desde jovem, há 53 anos como presbítero e 28 como bispo. Mas, conhecedor da história e autor de livros sobre a Igreja fundada por Cristo, sei da existência de problemas, de poucas páginas sombrias ao lado de inúmeras páginas de luz.

O capitalismo, o comunismo e o nazismo carregam desde a Revolução Industrial e a Bolchévica, desde a subida de Adolf Hitler ao poder, responsabilidades muito maiores que as Cruzadas e a Inquisição. É bom o leitor lembrar-se, também, das 300 vítimas das bombas atômicas lançadas pelos EUA sobre Hiroshima e Nagazaki. E isso em pleno século XX, da Declaração Universal dos Direitos Humanos!

A Igreja Católica é uma instituição divina, fundada por Cristo. Mas é, também, uma instituição humana, pastoreada e integrada por homens e mulheres. O próprio Cristo antecipou as negações do Apóstolo Pedro e a traição de Judas Iscariotes. Não é, portanto, dirigida por anjos. Sempre haverá em seu meio santos, medíocres e pecadores. Se não fosse divina e contasse com a promessa da presença de Cristo – “Estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos... Tende confiança, filhos: Eu venci o mundo!” – a Igreja há séculos já não existiria.

É certo que nem todos os Papas, entre os 265, foram o que deveriam ter sido. Mas é justo recordar que 70 dentre eles foram martirizados e muitos outros, como Pio V, Pio X e João XXIII foram canonizados ou beatificados. Sei dos contra-testemunhos dados ontem e hoje por alguns patriarcas e bispos, certos pastores e sacerdotes, não poucos filhos e filhas da Igreja. Apesar de tudo a barca de Pedro segue em frente pois nela continua presente o próprio Filho de Deus. É verdade que alguns marinheiros e passageiros de vez em quando naufragam. Os anticlericais, daqui e alhures, esquecem que nenhuma instituição conta com tantos santos e santas, confessores, mártires e virgens, adolescentes e jovens, casados e não casados.

O artigo de J.A. Drummond, administrador de empresas (sic!) diplomado pela Escola Superior de Guerra destacado em jornal de Várzea Paulista, de 23 de junho último, é mais um e, certamente, não será o último escrito para atacar a Igreja Católica. Pode não ser conhecido como outros articulistas. Mas o pior é que, inoportuna e injustamente, volta a lembrar certo número, não mais de 3% a 4%, de sacerdotes que não se comportam como deveriam. Refere-se, especificamente, aos lamentáveis casos de pedofilia nos EUA que, aliás, também não faltam em menor número entre nós.

Os Pastores da Igreja estamos conscientes desses e outros problemas tomando, com a discrição aconselhável, as medidas necessárias. Posso atestar, tranqüilamente, que a minha Igreja não costuma empurrar o lixo para debaixo do tapete. Teria vários casos para provar que, pessoalmente, tomei medidas rigorosas contra três dos meus 103 presbíteros. Somando tudo, qualquer pesquisa bem conduzida e feita com rigor científico, coloca a Igreja Católica como a instituição que goza da maior credibilidade entre todas as demais. Mas lembro que nenhum jovem vocacionado para o sacerdócio ou presbítero chamado para o episcopado se transforma em anjo, mesmo quando tem as suas mãos ungidas para o serviço do Evangelho e do Povo. Aliás, isso vale para todos os batizados.

A corrupção que em nossos dias aparece em vários níveis da política, a truculência com que vem agindo a Polícia, o número de empresários sonegadores e de maridos adúlteros supera, de longe, os pecados que humildemente reconheço haver na minha e em outras Igrejas. A liberdade da imprensa avança o máximo possível, não raro contra tudo e todos. Também contra a instituição bi-milenar que humanizou, civilizou e evangelizou o Ocidente. Orgulho-me de pertencer a essa Igreja, apesar dos pecados de certo número dos seus sacerdotes e de não poucos de seus fiéis.

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