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Publicado: Segunda-feira, 29 de agosto de 2005

Paz na Terra Santa?

Finalmente vêm sendo tomadas medidas práticas para promover a paz na Terra Santa. O direitista Ariel Sharon, chefe do governo de Israel, conseguiu encerrar 38 anos de permanência de 21 acampamentos judeus na Faixa de Gaza. Alguns milhares de judeus muito bem organizados foram removidos para terras de Israel. Da Cisjordânia sob administração palestina, em uma primeira etapa quatro das 120 colônias judaicas também chegaram ao fim. Houve resistências, como já se previa. Mas o exército israelense alcançou êxito até mais rápido do que se esperava. Viram-se cenas comoventes de resistência passiva, com mães colocando seus filhos frente a frente com os soldados. Mesmo com lágrimas, o plano de retirada aconteceu.

De sua parte a administração palestina conseguiu conter as ameaças do radical Hamas. A opção pela demolição de todas as casas dos ex-assentados foi feita de comum acordo. Em alguns dias as terras ocupadas desde a guerra de 1967 por Israel passarão à jurisdição de Mahmud Abbas. Nelas serão construídos blocos para acomodar milhares de palestinos vivendo precariamente em tendas e campos de refugiados. O êxito da histórica operação marcou pontos em favor do general Sharon entre a maioria moderada de Israel e em seu Partido, o Likud. Menos mal, pois essa nova situação prova que a sensatez conseguiu prevalecer sobre o radicalismo de parte a parte. É possível antever dias de paz entre judeus e palestinos na Terra Santa, embora haja ainda um bom caminho a percorrer até a constituição do Estado Palestino e sua harmoniosa convivência com os israelenses.

Nesse novo quadro geopolítico no Oriente Médio, parece oportuno voltar atrás na história dos desencontros milenares entre judeus, palestinos e árabes. Tudo começou com o patriarca Abraão, 1800 anos antes da era cristã. Morador da cidade de Hur, na Caldéia, o atual Iraque, Deus fez que ele partisse para Canaã, a Palestina dos tempos de Cristo. Tinha um belo plano quanto ao seu futuro. O grande Patriarca, de que nasceriam primeiro Ismael, da sua escrava Agar, e depois Isaac, de sua esposa Sara, conviveu harmoniosamente com filisteus, jebuseus, cananeus e outros povos menores, anteriormente residentes na Terra Prometida aos judeus.

Lê-se no livro do Êxodo que a seca e a fome acabaram levando os judeus para o Egito, onde foram escravizados pelos faraós. Como Javé não suporta qualquer tipo de escravidão, Moisés recebeu a missão de libertar o seu povo. Peregrinando por 40 anos no deserto, finalmente a multidão entrou novamente em Canaã, “terra onde corriam leite e mel”. Conquistada Jericó e vencidos os reis de vários povos, as doze tribos de Israel dominaram toda a região. Houve mais desencontros que convivência, especialmente entre os judeus, então sob o reinado de Saul, Davi e Salomão, por volta do ano mil antes de Cristo.

É mais que conhecida a luta entre israelitas e filisteus. Com sua funda o pequeno Davi venceu o gigante Golias. Os judeus dominaram toda a Palestina, incluídos os filisteus, que se tornaram os palisteus de antes de Cristo e os palestinos dos nossos dias. Tais fatos residem no mais profundo da consciência coletiva dos dois povos, que passaram a odiar-se durante séculos, até hoje. Pode-se verificar o ódio mortal entre uns e outros nos atos de terrorismo de parte a parte. A Palestina, depois dos anos gloriosos de Davi e Salomão, viveu dominada por assírios, persas, gregos e romanos.

No ano 70 d.C. os romanos liderados pelo general Tito arrasaram Jerusalém, Cidade da Paz, fundada por Davi como sede do reino de Israel. Foi quando os judeus sobreviventes partiram para uma “diáspora” que se prolongaria até o século passado. Na verdade já havia comunidades judaicas nas maiores cidades do Império Romano. Depois de quase dois milênios, teve início o movimento sionista no fim do século XIX. Milhares de judeus foram comprando terras dos palestinos. Nunca lhes faltaram recursos. No século passado constituíram um exército clandestino, dispostos a reconstruir o Estado de Israel, o que veio a acontecer em 1948, sendo reconhecido pela Organização das Nações Unidas.

Desde então foi sempre tornou-se sempre mais difícil a convivência entre palestinos, árabes e judeus. Milhões de palestinos foram expulsos de suas terras migrando, paupérrimos, para a Jordânia, o Líbano, o Egito e nações mais distantes. Saltando sobre as três guerras em que o forte exército judeu venceu palestinos e árabes, chegamos aos dias de hoje. Finalmente parece haver condições para uma convivência harmoniosa entre esses povos que, aliás, descendem do mesmo Patriarca Abraão, embora de mães diferentes. Voltarei aos desencontros da segunda metade do século passado e à situação atual, pedindo a Deus que haja paz na terra santificada pelos passos de Cristo.

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