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Publicado: Segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Paris-Manhattan

Paris-Manhattan

Godard disse uma vez que cinema não é uma arte. Cinema não é um trabalho de equipe. O diretor está só diante de uma página em branco. Essa frase explica muito bem o trabalho de Woody Allen. Os filmes dele sempre foram um cinema mais teatral e não mais técnico. Se caso formos comparar com Stanley Kubrick que usavam alguns planos específicos e difíceis de realizar ou até Hitchcock que era bem preciso com tudo no set. Woody Allen também é um grande gênio no cinema, sou um pouco suspeito para falar já que sou um fã incondicional dele, vi quase todos os filmes dele, tenho coleção de filmes e tenho até um quadro dele na minha parede. Sou bem suspeito mesmo.

Mas citando uma outra frase para “Paris-Manhattan”: “Da ousadia de uma homenagem, chega ao embaraço de uma copia mal feita.” E é isso que acho desse filme, se a diretora iniciante tivesse pegado às obras de Allen e seca-se a trama, ela ia perceber que os filmes dele não são felizes, o tema morte, infidelidade e ateísmo. É só a ponta do iceberg. Bergman e Kubrick mostram isso muito bem, de tratar o que o ser humano tem de pior e é isso que os filmes de Allen falam; Como “Manhattan”, “Annie Hall”, “Simplesmente Alice”, “Setembro”, “A Outra” e “Desconstruindo Harry”. Woddy Allen nunca quis acomodar o seu publico e se um diretor faz algum filme que o publico saia entendendo, alguma coisa ele fez de errado.

Em “Paris-Manhattan”, Alice (Alice Taglioni) é uma solteirona que pula de relacionamentos em relacionamentos e nunca consegue se identificar com o cara certo, e tem como seu confidente um pôster de Woody Allen que fala com ela o tempo todo. Até ai tudo bem se pegarmos um tempo atrás um filme de Allen chamado “Sonhos de um Sedutor” o seu personagem interage com “Humphrey Bogart” (Casablanca)

A sua irmã tem mais sorte e se apaixona por um cara que estava a fim de Alice, digno de um filme de Allen, mas aos poucos essa trama que poderia se transformar em “Hannah e suas Irmãs” se mostra um filme cansativo e boçal. Uma trama tão água com açúcar que você enjoa nos primeiros minutos de filme. Victor (Patrick Bruel) surge para dar uma mexida em Alice, ele é ateu, analítico e super-racional, totalmente contrario de Alice que é uma sonhadora e religiosa. O casal não chega a se envolver num ponto que você compre as dores deles, eles simplesmente brigam e se afastam e depois num passe de mágica eles voltam a se falar normalmente e isso acontece, 2 vezes no filme. Realmente cansativo e novamente contrariando uma homenagem aos filmes de Allen. Victor conhece Woody num hotel onde ele vai consertar uma fechadura. E Allen da dica de amor para o coitado, e me pergunto por que a diretora do filme simplesmente não usou o monólogo inicial de Annie Hall, como séria genial usar isso “Duas velhinhas em um hotel fazenda em Catskill. Uma diz: “A comida aqui é um horror.” A outra diz: “Eu sei, porções minúsculas”. É assim que eu vejo a vida: cheia de solidão, miséria, sofrimento e tristeza... e acaba rápido demais.” Esse diálogo resume bem a vida.

Fazer um filme e colocar algumas citações de Woody Allen não é fazer um filme de Woody Allen, e sim uma coisa boba e digna de pena. Use o que ele nos ensinou e que outros diretores ensinaram também, faça filmes em que os personagens são reais, não trate o publico como um animal burro.

Pessoas que estão acostumados com filmes bobos e com finais felizes perfeitos vão amar o filme, mas se você tem uma bagagem de filmes de Allen, você vai achar uma ofensa aos filmes dele. Que é um terror de 1 hora e 14 minutos

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