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Publicado: Quinta-feira, 10 de maio de 2012

Parabéns mães do Hospital do Pirapitingui

Parabéns mães do Hospital do Pirapitingui

Em busca de inspiração para um artigo do Dia das Mães, visitei hoje, na antevéspera, algumas pacientes do Hospital do Pirapitingui. Algumas pacientes mesmo, porque lá também as mulheres vivem mais tempo. Não procurei, mas também não vi nenhum paciente homem. É como dizem: não se vê excursão ou clube de viúvos, somente de viúvas, numa prova de que a mulher realmente vive mais tempo que o homem. Sorte delas.

Era bem o que eu procurava. O Hospital do Pirapitingui tem uma história triste. Em 1926 entrou em vigor uma lei que ficou conhecida como “Compulsória”. Ela previa a internação compulsória e isolamento em colônias de doentes acometidos de hanseníase (lepra).

Foram construídos então, quatro hospitais no Estado de São Paulo, um deles aqui em Itu, o Hospital do Pirapitingui, que recebeu os primeiros doentes em 1931. A inauguração viria a ocorrer apenas em 1937.

Doença epidêmica fatal na época, a hanseníase foi a doença que mais matou em Itu entre os anos de 1939 e 1942.

Uma vez identificados, normalmente através de denúncias, os doentes eram capturados e internados compulsoriamente nos hospitais. Dali só saiam depois de curados. A maioria nunca saiu e permanece sepultada no cemitério São José, dentro da área do hospital.

A colônia foi crescendo e chegou a ter mais de cinco mil pacientes. O governo construiu casas, (hoje são mais de 400), forneceu e ainda fornece tratamento médico, medicamentos, alimentação e pensão aos internos, numa tentativa louvável de conter a epidemia e de dar um mínimo de conforto aos doentes.

Com esta intervenção, o Governo conseguiu o seu intento. Contudo, nada pode fazer a fim de evitar o mar de horrores que os pacientes viveriam.

Os horrores eram muitos: pacientes procuravam os políticos para fazer alguns pedidos que, no mínimo, eram muito estranhos, como: “eu gostaria de amputar os pés”. A dor e o desespero que os assolavam eram tamanhas, que pedidos como esse eram tidos como normais. Ouvi um relato de uma paciente que se declarou grata até hoje à um político da cidade que conseguiu para ela uma cirurgia de amputação dos seus dois pés.

Dor maior, porem, do que a provocada pela doença que gangrenava as extremidades do corpo, era reservada às mães. Para evitar a contaminação, logo que nasciam os bebês, eles eram arrancados das mães e entregues à um educandário. As mães nem sequer recebiam os bebês no colo por uma única vez. É de chorar. Eram privadas de tudo o que há de mais belo na vida, beijar o seu filho.

Esforcei-me para ouvir até o fim, sem chorar, o relato de D. Isabel Pontório. Internada no hospital há 48 anos, teve com seu marido Valdomiro Pontório, quatro filhos: Valdir, hoje com 46 anos, Carlos com 44, Ademir com 42 e Luciene, a caçula com 37. Todos os filhos lhe foram arrancados no leito natal e encaminhados ao Educandário de Santa Terezinha em São Paulo. Todos nasceram livres da doença e assim permanecem. Visitam a mãe regularmente. Seu marido Valdomiro jaz há 20 anos no cemitério São José localizado no hospital.

Encontrei ali, com a D. Isabel a inspiração que precisava para escrever este modesto artigo do Dia das Mães.

Feliz Dia das Mães, D. Isabel.

Feliz Dia das Mães para vocês, mães do Hospital do Pirapitingui.

Feliz Dia das Mães para você, mãe que teve o seu filho arrancado de seus braços pelas drogas, pelos vícios, pela vadiagem, pelos acidentes.

Feliz Dia das Mães para você mamãe, à quem Deus permitiu ter ainda perto de você o seu maior tesouro.

Feliz Dia das Mães para você, minha querida mãe. Saudades.

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