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Publicado: Quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Para além do fim do dinheiro

“Não tenho medo da morte. O que me assusta é o dinheiro acabar antes que eu morra” (Aposentado do INSS).
     
Luís é um senhor de 65 aos, recém-aposentado após uma carreira de 45 anos de trabalho. Recebe 3.000 reais do INSS, bem acima da média dos trabalhadores da iniciativa privada, mas muito longe dos rendimentos dos funcionários públicos. Ciente dos baixos valores das pensões do INSS, muito cedo resolveu poupar para complementar o valor da pensão do governo. Para isso, teve que sacrificar muitos dos seus desejos e da sua família para formar uma reserva suficiente para uma vida tranquila na velhice.
     
Luís estava feliz com os rendimentos de suas aplicações financeiras nos últimos 10 anos. Com juros acima de 12% ao ano, viu crescer o seu investimento de 500 mil reais e já sonhava com retiradas mensais de 5 mil reais, quando parasse de trabalhar. Sonhava com viagens, passeios, um plano de saúde decente e bons restaurantes. E iria, finalmente, levar a patroa a Paris!
     
A inflação correu solta nos últimos anos, corroendo o poder aquisitivo da maioria da população. Mas, para quem foi capaz de economizar e reaplicar os ganhos proporcionados pelos juros altos, os resultados foram excelentes. Contudo, em outubro de 2016 as taxas de juros começaram a cair, beneficiando os tomadores de empréstimos e o crédito em geral. Em julho de 2016 a taxa Selic estava em 14,25%, ainda sob impacto do desastre do governo petista. E veio declinando aos poucos até chegar em 7% no final de 2017. Ganham os devedores, perdem os poupadores. Taxas de juros menores estimulam os negócios, valorizam as atividades produtivas e impulsionam o desenvolvimento do país. Mas, quem construiu uma poupança pensando em viver dos rendimentos futuros, tem que repensar sua estratégia.
     
A inflação diminuiu e os preços se apresentam mais estáveis, com exceção dos preços administrados pelo governo, caso dos combustíveis e energia elétrica. Inflação menor, juros menores. Os preços dos bens e serviços consumidos pelos aposentados, porém, não tiveram a mesma redução observada nos juros, permanecendo em patamares altos. Assim, os rendimentos menores das aplicações são insuficientes para bancar o mesmo nível de despesas.
     
E agora, Luís? A poupança, formada com suor e paciência, já não cobre os sonhos da família, como havia sido planejado. Quem sacrificou o presente para comprar um futuro tranquilo, acordou sobressaltado com a perspectiva de ter que adiar as aspirações uma vez mais (e talvez definitivamente). Triste realidade de um país que vive aos sobressaltos, sem estabilidade nem segurança para investir.
     
Luís e sua família terão que se contentar com uma vida modesta, para não ver o dinheiro acabar antes da hora. A outra ameaça vem da Previdência Social, deficitária a cada ano e com risco de não ter dinheiro mais à frente para honrar as pensões, ainda mais com a pressão do funcionalismo que devora os recursos da previdência pública com seus benefícios e privilégios que a sociedade não tem como pagar.
     
Luís aprendeu a ser cauteloso com os gastos e prudente com a vida. Saberá lidar com esta reversão de expectativas e não deixará de ser feliz em suas últimas etapas aqui na Terra. Quem sabe, com a ajuda de Deus, seus filhos e netos consigam realizar os sonhos que ele acalentou.

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