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Publicado: Segunda-feira, 28 de junho de 2004

Parábolas do Reino

Vimos que o anúncio e instauração do Reino de Deus, uma ou outra vez também chamado de Reino dos Céus, a proclamação dos seus valores, entre os quais o amor é sem dúvida o maior, ocupam boa parte das pregações de Cristo. As parábolas do Reino narradas pelos evangelistas ainda hoje impressionam. Ao lado de tantas outras como a do bom samaritano, a do filho pródigo, a da dracma perdida e a do tesouro oculto, destacam-se as parábolas que tratam do Reino de Deus.

Eram meios freqüentes dos quais o Mestre se servia para ensinar as multidões que o seguiam. Eram estórias de fácil entendimento tanto por parte dos Apóstolos, o grupo dos Doze chamados um a um para u’a maior convivência com Cristo e a darem continuidade à sua missão salvífica através dos tempos, quanto para as multidões que seguiam o Mestre porque falava com autoridade. Aliás, São Lucas argutamente lembra que Jesus “fazia e depois ensianava”.

Os que conhecem a vida pública de Cristo como é narrada pelos vários evangelistas, sabem que na Galiléia ele reuniu em torno de si os Doze e, também, 72 chamados discípulos e um grupo menor de algumas piedosas mulheres. Estas, além de ouvirem os seus ensinamentos, providenciavam tudo de que o Mestre e os Apóstolos necessitavam. Os 72 teriam outra missão. Aos Apóstolos, nos últimos dias de sua vida terrena, Cristo confiaria o mandato missionário de proclamarem o Evangelho e implantarem a Igreja por todo o mundo, até o fim dos tempos.

Antes João Batista viera para “aplainar os caminhos” do Senhor. Pregando a proximidade da vinda do Cristo, administrava um batismo de conversão. Penitente e autêntico, ele realizou, exemplarmente, a sua missão de precursor do Messias. As suas pregações incentivavam todos a uma conversão de vida, à penitência e ao acolhimento da pessoa e mensagem daquele que proclamava “maior que si mesmo e de quem não se sentia digno de desamarrar as correias das sandálias”.

Aos 72 discípulos, Cristo confiaria a missão de o precederem de aldeia em aldeia e de casa em casa. Dois a dois deveriam proclamar a paz, insistindo na “chegada do Reino de Deus”. Mais tarde, pouco antes de subir aos céus, Cristo confiaria aos Doze a desafiadora missão de proclamarem o Evangelho a todos os povos, até o fim do mundo, na fidelidade a “tudo que Ele havia ensinado”. É o que se lê nas últimas linhas do Evangelho de São Mateus, no capítulo 28, versículos 18 a 20. Na realização dessa trasncendente missão no espaço e no tempo, eles sempre contariam com a presença do Senhor, as luzes e a força do Espírito Santo, chamado de Paráclito, advogado, intercessor e consolador...

Entre as parábolas, belas histórias narradas por Cristo, todas à altura da limitada capacidade das multidões que o procuravam sedentas de salvação, mereceriam destaque as do filho pródigo e do bom samaritano, as da dracma perdida e a do tesouro oculto. Aqui, porém, nos interessam as do Reino de Deus que são, especialmente, três: as do agricultor que semeia à mão farta a semente da Palavra divina, a do grão de mostarda tão pequenino, e a do joio e do trigo, tão expressiva.

Saiu o semeador lançando à terra a boa semente, disse Cristo. Parte dela caiu pelo caminho e foi pisada pelos homens. Outra lançada em terreno pedregoso, em um espinheiro, tornaram-na estéril. Não puderam crescer. Mas a que foi lançada em terra boa, felizmenrte produziu frutos cem por um. O grão de mostarda é, lembrava o Mestre, a menor entre todas as sementes. Mas acrescentava Ele que, quando crescia, tornava-se uma árvore em cujos galhos vinham aninhar-se os pássaros e em cuja sombra podiam abrigar-se os homens.

Mais expressiva ainda é a parábola do joio e do trigo. Este, o trigo, é semeado pelo próprio Deus, comparado a um agricultor. Aquele, o joio, foi lançado no campo pelo Maligno. Ambos cresceram assemelhando-se um ao outro. Criticando o Mestre, os que desejavam arrancar quanto antes a erva-daninha, Jesus aconselhou que se esperasse o momento da poda e da colheita. O campo é a Igreja. O terreno árido ou fecundo é quem ouve a Palavra de Deus. Lamentavelmente convivem lado a lado na Igreja, o Reino de Deus. Chegará, certamente, o momento em que o trigo cortado será recolhido nos celeiros de Deus Pai. E em que o joio será arrancado e lançado ao fogo para ser queimado. Assim tem sido a longa história da Igreja.

As parábolas são belas histórias, ricas de ensinamento. O Reino de Deus é comparado à pequena semente, o grão de mostarda, que pouco a pouco vai crescendo, tornando-se uma grande árvore. No Reino de Deus que se inicia já aqui na terra, mesmo na Igreja, seu primeiro e mais importante espaço, os bons sempre terão de conviver ao lado dos maus. Os que ouvem e praticam a Palavra de Deus, transformadas em boas obras, terão de conviver com os. Medíocres e os maus. A paciência suporta os que desmerecem a sua graça, deixando de produzir bons frutos. Chegará, porém, com toda certeza, o dia da separação dos bons e dos maus, dos que viveram no amor e dos que odiaram (Mt 25, 31-43).

Essas e outras parábolas comprovam que Cristo mereceu ser chamado de Mestre. Ele foi, de fato, o grande pedagogo dos Apóstolos e das multidões do seu tempo. Soube acomodar-se às limitações dos que o seguiam. Serviu-se das parábolas para transmitir a todos as verdades que salvam. Elas continuam chegando ainda hoje até nós, narradas nos Livros Sagrados e também lembradas nas pregações proféticas e no magistério dos Papas e Bispos.

Já em seu tempo, há vinte séculos, Cristo alertava para os falsos profetas que se apresentariam contradizendo o seu ensino. Os que conhecemos a bimilenar história da Igreja sabemos da fidelidade de muitos e, lamentavelmente, também da falsidade de outros. Até entre nós entre nós, no Brasil, multiplicam-se a cada dia pseudo-profetas e falsas Igrejas, em geral contraditando as belas lições das parábolas recordadas acima.

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