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Publicado: Sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Papel bandeja

 

O dicionário acolhe os dois vocábulos e os classifica como sinônimos, de uso indiferente pois, um e outro.

Assim é que, num primeiro momento, resultaria em tarefa inglória e vã pretender diferenciar de alguma forma o significado das palavras “desapontamento” e “desaponto”.

Entretanto, no idioma de Camões, de jeitos e trejeitos múltiplos, doce e áspero, multiforme como nada mais o seja, encantador em suma, o escriba dedicado vai localizar minúcias e minudências, como esta de se dirimir o que exatamente expressariam esses dois vocábulos irmãos.

Quiçá se possa dizer que dessa riqueza de pormenores é que se enriquece a língua pátria, herdada de Portugal. De plano, se sabe logo, já padece de tantas diferenciações, com os dizeres próprios e assentes aqui e lá.

Os autores então, num saborear melífluo de encantos e sutilezas, se esmeram na captação da preferência dois leitores. Verdade tão límpida que só enriquece a literatura.

Ganham todos, tanto as pessoas sedentas de leitura como os escritores de escol e mil outros de bom quilate. Isso tudo sem se falar na verve de oradores de impressionante saber e incrível comunicabilidade, cuja palavra se manifesta no papel e até ao inesperado de um improviso.

Antes que o texto se encompride muito, hora então de se ir ao cerne do enfoque de hoje.

Desaponto.

Conquanto guarde similitude com desapontamento, poderia significar um uso aconselhável ou ao menos sugerido, quando alguém embora favorecido em alguma circunstância, mesmo assim venha a se insurgir contra o ofertante, o dadivoso que, no mínimo, quisera agradar. Essa atitude do mal agradecido se configuraria enfim num ato de desaponto. Ato de quem embora receba, mesmo assim renega.

Ao deixar o semelhante sem graça de vez, tornou-se ele o comitente de um desaponto. O autor dele.

Desapontamento.

O outro termo, desapontamento, seria de se admitir mais apropriadamente para classificar o estado de espírito da outra parte, de quem ficou sem graça, ruborizado quem sabe. Ao fazer o bem, mal recebido, perde o jeito, se acanha e, num sentido figurado, às vezes até se encolhe de vergonha. Entra em estado de desapontamento. A vítima.

Seja feita a ressalva, após a presente opinião do articulista: claro e evidente que continua ao critério de todos a livre utilização dos vocábulos, indiferentemente conforme sua própria e reconhecida sinonímia – desaponto e desapontamento ou, até, inverter a possível aplicação diferenciadora, ora preconizada.

Queridos amigos.

Gratidão sempre a quantos se prestam e até se declaram em encontros fortuitos, que acompanham a caminhada semanal deste jornalista. Incentivo deveras animador.

O que se acaba de ler – tomara tenham tido paciência para chegar até este ponto – é o produto de uma divagação quase ao léu, na manhã de uma segunda feira, prévia ao Natal, 23, por volta das 10h50,

E onde?

Por sobre mesinha em praça de alimentação, rascunhada no verso da folha de papel bandeja ou bandeja de papel, aquela folha que faz a vez de toalha.

Captou?

 

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