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Publicado: Quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Padre Bento, apóstolo dos humildes na Diocese

Crédito: Jornal O Verbo/Diocese de Jundiaí Padre Bento, apóstolo dos humildes na Diocese
Dom Gil com relíquias de Padre Bento Dias Pacheco
No dia 28 de outubro passado, encerramos, felizmente, a fase diocesana do processo de canonização de Padre Bento Dias Pacheco, o apóstolo dos hansenianos da cidade de Itu. A história da Diocese de Jundiaí e, em especial a de Itu, ficarão marcadas por este significativo evento.
 
Após sigilar toda a documentação e a urna com suas relíquias, o processo foi confiado ao Postular Romano, padre Paulo Lombardi presente à celebração presidida por mim, e concelebrada por vários sacerdotes, na Igreja do Senhor do Horto e São Lázaro, com a presença inclusive de irmã Célia Cadorin, auxiliar da postulação, neste último domingo.
 
O povo ituano e de toda a região venera a memória deste santo sacerdote e confia em sua intercessão diante de Deus, sobretudo em casos de doença grave. A data de 28 de outubro é significativa, pois há exatamente 164 anos, ele era ordenado presbítero.
 
A celebração de hoje torna-se um reconhecimento público de que, na vida do Padre Bento, a prática das virtudes cristãs e a fidelidade à graça divina caminharam juntas e que, portanto, ele viveu uma vida de santidade.
 
Padre Bento nasceu a 17 de setembro de 1819, no sítio da Ponte, à margem direita do rio Tietê, em Itu. Seus pais eram Ignácio Dias Ferraz e Ana Antônia do Amaral, da alta sociedade paulista. No dia 1 de outubro do mesmo ano, foi batizado, tendo por padrinhos seus avós paternos.
 
Seus primeiros anos de infância foram passados em companhia de seus pais. Menino inteligente e vivaz, foi encaminhado ao colégio do convento franciscano em Itu. Na ocasião do falecimento de seu pai, o jovem Bento teve que deixar o convento e retornar para casa e auxiliar a mãe. Mas era incontido em seu coração o desejo de servir a Deus como sacerdote.
 
Mais tarde, expôs a inquietação à sua mãe e, obtida a licença, voltou ao colégio onde se tornou aluno exemplar pelo amor aos estudos e por sentimentos de caridade aos pobres. Aos 24 anos, em 28 de outubro de 1843, é ordenado presbítero por dom Manoel Joaquim Gonçalves de Andrade, bispo de São Paulo.
 
Sua primeira missa foi celebrada na Igreja do Senhor Bom Jesus, em Itu. Nomeado vigário da Paróquia de Indaiatuba, fica pouco tempo no lugar. Recusa por duas vezes o convite da Câmara de Itu para assumir o ofício de Capelão do Hospital dos Lázaros, tal era o medo que sentia, desde criança, da terrível doença da lepra.
 
Um dia, depois de muito orar, encheu-se de coragem, após meditar as palavras do Evangelho que lhe soavam aos ouvidos por mais de 20 anos: “Uma só coisa te falta: vai, vende tudo o que tens, reparte aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” (Mt 19,21).
 
Em 1869, vende tudo, distribui o dinheiro aos pobres, despede-se dos seus parentes e amigos e ruma para o leprosário onde vive o restante de sua existência, por 42 anos, sem temer o contágio, cuidando pessoalmente dos doentes, com visível devotamento.
 
A casa em que residia o Padre Bento, no hospital, possuía apenas o indispensável: a mesa para trabalhos e refeições, com as portas sempre abertas aos pobres, mesmo nos últimos anos de sua vida, quando experimentava extrema pobreza e dependia totalmente das esmolas da comunidade local.
 
Quando à hora das refeições acontecia de chegar algum pobre à sua casa, fazia-o entrar, sentava-o ao seu lado à mesa, e ele mesmo o servia. Como capelão, todos os dias, ouvia em confissão os leprosos que desejassem, celebrava a missa e rezava o rosário. Ele mesmo fazia curativos nos doentes e os acudia com remédios.
 
Padre Bento morreu no dia 6 de março de 1911, aos 92 anos de idade e 68 de sacerdócio, sem contrair a doença. Seu túmulo, na Igreja do Senhor do Horto é muito visitado, devido à fama de graças e favores alcançados por sua intercessão.
 
Em março de 2003, foi instalado pela Diocese de Jundiaí, o Tribunal Eclesiástico Diocesano para a Causa de sua Canonização, à qual, de imediato dei apoio, tão logo assumi a Diocese, vendo neste sacerdote um modelo eloqüente de cristão digno de louvor e de imitação.
 
O exemplo deste homem santo seja para todos nós modelo e força na vivência da Palavra do Senhor. Certamente, sua canonização representará um autêntico testemunho e constituirá em força para que derrotemos o egoísmo e a insensibilidade tão comuns nos tempos atuais, a respeito da sacralidade da vida humana e da dignidade das pessoas, sejam sãs quanto doentes, sejam com um corpo comum sejam as que são portadoras de alguma deficiência.
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