Colunistas

Publicado: Terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Os Exames

Não me lembro qual grupo de rock dos anos 70 gravou o meu hit musical 30 Days in a Hole, talvez Three Dog Night ou Humble Pie. Desci ao inferno, para conhecer a escalada celeste ou o Everest. Foram 32 dias de crise depressiva. Não comia. Bebia sucos, caldos, tomava sopas com esforço. Dormia nos braços de Morfeu-Lexotan e sempre acordava com um aperto no peito, uma garra do abutre de Prometeus dilacerando meu fígado e a outra, carregava a pedra de Sísifo e soltava no meu peito e, novamente pegava a pedra pelas garras e soltava no meu peito. Eu permanecia resistente ao medicamento, que poderia afastar essa angústia e depressão. Cansado de não fazer nada, apatia total e fome zero, resolvi tomar o remédio milagroso.

No primeiro dia, a expectativa fez com que eu ficasse mais excitado ainda. Diminuí a dosagem e melhorei. Pronto para a coleta de sangue, às 7:00 horas da manhã, já estava com o braço esticado, esperando a picada. Foi-se o tubo, com meu combustível adulterado, para análise laboratorial. Ansioso, esperava o resultado, mas quebraram o tubo de vidro, na centrífuga do laboratório.

_ Sangue eu não tiro mais! Disse à mulher, médica.

_ Então vai fazer uma ultra-sonografia!

_ Ultra-som eu não faço!

_ Então ...

_ Tá bom, eu faço!

Estava marcado para 14:30h. Cheguei às 14:15h, o médico, às 14:46h. Foram os 31 minutos mais longos da minha vida. Aproveitei para, sem interesse, ler uma revista.

_ Sr. Luiz, por favor, o Dr. Luiz o aguarda.

Fui para a sal e deitei na maca. Levantei a camisa e senti o frio do gel na barriga.

_ Você pode acompanhar pelo monitor ao seu lado.

_ Obrigado, prefiro não olhar!

Ao final do exame, apreensivo, perguntei:
_ E aí, doutor, tô com câncer onde?

_ Sinto decepcioná-lo, mas tá tudo bonitinho. Você não tem nada.

Saí do consultório, quase chorando de felicidade. Pessoas que estavam na recepção não entenderam o que se passava e, preocupadas, não disfarçaram a curiosidade.

_ Eu não tenho nada!

Cumprimentei um por um. Já na rua, pulava e batia os dois pés no ar.

Hoje sou dependente do medicamento e mais cinco outros, para controle das sequelas das varises esofágicas, mas depressão nunca mais. Trabalho muito e com prazer; seria mentira, dizer que não aguento mais trabalhar 10 horas, sete dias por semana. É um prazer enorme, é a minha droga, meu vício, desde o início.... Sinto vontade de dividir com outros, o que aprendi, vivendo intensamente a vida, sem medo de nada, à exceção de duas coisas: Anestesia Geral e homem bêbado, com arma de fogo.

Mas há outros medos menores ... Altura, elevadores, tigres, leões e felinos de modo geral, bancos, multidões, mar revolto, siris, tubarões, fumaça de cigarro (fumante passivo), catalepsia, eletricidade, raios, et coetera. Meninos, meninas, sejam corajosos e vivam felizes, sem tensão e stress corrosion, amém.


Ao lado de minha cama, há sempre um criado, MUDO, cego e surdo

Comentários