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Publicado: Segunda-feira, 19 de setembro de 2005

Os cristãos na Palestina

Prosseguindo na série de artigos escritos sobre os encontros e desencontros de judeus, árabes e palestinos no Oriente Médio, vem a propósito uma reflexão sobre a presença dos cristãos em Israel, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.

Os cristãos marcaram a sua presença na Palestina nos tempos de Cristo, desde que “o Verbo de Deus se fez carne”. Logo após a Ascensão do Senhor Jesus aos céus, deu-se no dia de Pentecostes a vinda do Espírito Santo, último e importante momento fundante da Igreja. Já na primeira pregação feita em Jerusalém formou-se a numerosa comunidade cristã, constituída por cerca de três mil pessoas, judeus em sua maioria.

A partir desse histórico momento, por vinte séculos a Igreja estaria sempre presente na terra santificada pelos passos de Cristo. Desde então os Apóstolos e a comunidade cristã passariam por momentos muitos difíceis, vivendo na clandestinidade e sofrendo perseguições iniciadas em Jerusalém, oficializadas pelo Imperador Nero e seus sucessores. Mas a vida exemplar dos cristãos que constituíram uma comunidade pobre, fraterna e carismática, fortemente ligada aos Apóstolos, agregando a cada dia mais e mais pessoas, partiu da Cidade Santa, estendeu-se pela cidade de Samaria da Galiléia e por todo o mundo antigo.

Somente no ano de 313, com o Edito ou Decreto assinado pelo primeiro imperador cristão, Constantino Magno, na cidade de Milão, os cristãos tanto da Palestina quanto de todo o Ocidente deixaram a clandestinidade, podendo proclamar sem constrangimento a Palavra de Deus e os valores do Evangelho, construindo suas Igrejas na Palestina e nas maiores cidades dominadas por Roma. A nova situação vivida pelas comunidades católicas tornou-as privilegiada, pois a Igreja passou a ser a religião oficial do Império, respeitadas porém, pelas autoridades, pois o referido Edito de Milão exigia de todos uma harmoniosa paz.

Essa situação privilegiada passou por momentos difíceis, principalmente com o advento do Islã muçulmano. Apesar de o Imperador Constantino Magno ter doado ao Patrimônio da Sé Apostólica de Roma os lugares sagrados do nascimento e vida de Cristo, especialmente Belém, Nazaré e Jerusalém, locais em que foram construídas as primeiras e históricas basílicas cristãs, os maometanos moveram uma “guerra santa” contra os cristãos de todo o Oriente Médio, incluída a Palestina e o Norte da África, ameaçando ainda a Europa católica, instalando-se por séculos também na Península Ibérica.

Com as Cruzadas constituindo o Reino Latino de Jerusalém, os cristãos recuperaram os lugares santos, podendo retornar às suas peregrinações. Durante o Império Otomano os sultões da Turquia respeitaram essa nova situação, que se prolongaria até o século XX, quando foi reconstituído o Estado judaico dividindo-se a Palestina entre israelenses, palestinos e árabes. A mudança radical realizada no século passado preservou, entretanto, o status anterior de liberdade dos cristãos.

Hoje a situação dos cristãos, lamentavelmente divididos entre católicos, ortodoxos e protestantes, vem se tornando sempre mais difícil. Consta que os cristãos das três confissões não chegam a cem mil. Os católicos mais presentes nas cidades de Belém e Nazaré em geral são muito pobres, carentes da ajuda do Patriarcado Latino e dos católicos melquitas. Estão preocupados com o êxodo crescente da já pequena comunidade católica, o que os levou a investir, além dos trabalhos de evangelização e catequese, em numerosas entidades assistenciais, educacionais e outras, mantendo em Belém até mesmo uma Universidade Católica e na cidade de Nazaré uma escola na qual convivem harmoniosamente tanto crianças quanto adolescentes católicos, palestinos e árabes.

A pequena comunidade católica e cristã de Israel e da Administração Palestina merece por parte de todos os católicos do mundo não só orações mas, também, além do próprio interesse, os donativos feitos para os lugares santos, anualmente, na Sexta-Feira da Semana da Paixão do Senhor.

Deve interessar aos leitores a informação de que existem cerca de 5 mil judeus cristãos, havendo também nos EUA numerosos grupos assim chamados. Para esses milhares de judeus, o Messias e Redentor prometido por Javé durante séculos, já veio e realizou a missão confiada a Ele na pessoa de Jesus Cristo. Como não se fizeram batizar, continuam como judeus, praticando a lei mosaica, porém o importante para eles é que se realizaram em Cristo, Filho de Deus, as promessas do Antigo Testamento. Esse importante fato antecipa a profecia feita por Cristo de que antes do fim dos tempos haveria a conversão dos judeus à sua pessoa, contrabalançando a perda ou apostasia por parte de bom número de cristãos.

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