Orientações para Investimentos - Cenário Atual
Caro leitor, diante das tendências macroeconômicas projetadas nos artigos anteriores, ou seja, baixa de juros, aumento gradual e controlado de inflação em um cenário de retomada do crescimento, muitos me perguntam onde investir e quais são as opções.
Sabemos que a taxa Selic é a principal referência para os investimentos em renda fixa, pois aproxima-se da taxa CDI, que é indexadora dos títulos. A nossa previsão e a do mercado financeiro é que continue caindo, reduzindo a rentabilidade dos investimentos indexados à mesma.
Existem muitos profissionais de mercado que desencorajam investimentos em poupança. Claro, que se formos calcular as taxas reais a poupança ficaria como última opção. No entanto, o fato de ser o maior recurso utilizado pela população não é mera coincidência ou insipiência, já que muitos sabem o que estão fazendo. Analistas e corretoras não se interessam em expor desta forma pois não há como vender suas carteiras se o cliente seguir o conselho de aplicação em poupança. Nem tudo é apenas matemática aplicada, muito menos no Brasil.
Devemos lembrar que a poupança é isenta de Imposto de Renda, é também, junto com títulos do tesouro nacional, a que mais se aproxima de algo risk-free (livre de risco) e, quando a Selic atinge o patamar de 8,5% ou menos, passa a valer a regra de remuneração a 70% da Selic, além da Taxa Referencial (TR), que é o índice que corrige a poupança, o FGTS e os financiamentos habitacionais, o que a torna mais atrativa. Sempre recomendamos uma parte dos investimentos em poupança.
As aplicações mais populares e tradicionais de renda fixa são indexadas aos juros de um dia. A maioria dos papéis privados emitidos por bancos e empresas, tais como CDBs e debêntures, é atrelada ao CDI. Esse indicador é equivalente à taxa média dos negócios diários com certificados de depósitos interfinanceiros, o instrumento de captação de recursos utilizado pelas instituições financeiras no mercado interbancário.
No Tesouro Direto, sistema de negociação de títulos públicos pela internet, a opção atrelada aos juros de um dia é a Letra Financeira do Tesouro (LFT). A diferença, em relação aos títulos privados, é que a remuneração da LFT é vinculada à taxa Selic, e não ao CDI. Aplicações vinculadas aos juros de um dia são mais seguras, se o objetivo for evitar perdas em função da desvalorização do título em um momento ruim do mercado. Isso porque se os juros subirem, o rendimento da aplicação aumentará. Em contrapartida, se as taxas caírem, o rendimento da aplicação diminuirá. Dessa forma o investidor tem a certeza de que a rentabilidade sempre irá acompanhar a flutuação dos juros.
É a alternativa ideal para quem não tem segurança sobre o prazo em que poderá precisar do dinheiro. A totalidade dos fundos DI e a maioria dos CDBs possui liquidez diária, ou seja, podem ser resgatados pelo investidor a qualquer momento. As LFTs podem ser resgatadas toda quarta-feira, pelo sistema do Tesouro Direto.
Entretanto, há muitas opções de investimentos em renda fixa com rentabilidade superior à da poupança. Entre as opções estão os Fundos de Investimentos em renda fixa, ou seja, fundos que aplicam o dinheiro dos cotistas em títulos como CDBs, LCIs, títulos do Tesouro, entre outros, com risco baixo. Fica um alerta para as taxas de administração que não devem exceder 1% ao ano, podendo ser encontradas no mercado por 0,5% e até 0,2% ao ano.
Diferentemente dos papéis atrelados aos juros de um dia, os papéis de renda fixa que pagam uma taxa prefixada apresentam oscilação de valor mais intensa. Isso ocorre porque os títulos prefixados são negociados com desconto em relação ao valor futuro, que é sempre conhecido. Isso faz com que o valor presente dos papéis oscile de maneira inversamente proporcional aos juros. Quando os juros sobem, o preço do título cai, e vice-versa. A oscilação de valor representa um risco. O investidor que precisar fazer um resgate antes do vencimento estará sujeito a essas oscilações, e terá menor previsibilidade do retorno a ser obtido.
Por serem mais arriscados, a tendência é que os papéis prefixados tenham remuneração maior do que os títulos atrelados aos juros de um dia. O que é bom para os investidores que conseguem saber, com certeza, o prazo final da aplicação. No Tesouro Direto, os papéis prefixados são as Letras do Tesouro Nacional (LTN) e as Notas do Tesouro Nacional da série F (NTN-F). Como o valor nominal dos títulos no vencimento é R$1.000, quanto menor o preço de aquisição, maior será o rendimento da aplicação.
Os fundos de Renda Fixa que concentram a carteira em papéis prefixados usam como parâmetro de referência o IRF-M, um índice que possui metodologia específica e é calculado pela Anbima, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capital.
Os títulos públicos mais conhecidos indexados a inflação são NTN-B e NTN-B Principal (títulos indexados ao IPCA, um dos índices que medem a inflação). Os títulos indexados ao IPCA são os títulos mais vendidos no Tesouro Direto, representando mais de 40% das negociações. Essa procura se justifica principalmente pela alta da inflação e também por ser uma das melhores alternativas para previdência privada.
A remuneração acontece da seguinte forma: no momento da compra, já é definida uma taxa que será paga. Além dessa taxa, o título também é corrigido anualmente pelo IPCA. A principal diferença entre os títulos está na forma de pagamento. Enquanto o NTN-B Principal só devolverá o montante principal, acrescido dos juros e IPCA no vencimento do título, o NTN-B pagará semestralmente cupons relativos à taxa do período, deixando apenas o montante principal, corrigido pela inflação, para ser pago no vencimento. Em outras palavras, você receberá a cada seis meses na data de pagamento do cupom. Como esses títulos vencem sempre nos meses de maio (pagamento em maio e novembro) e agosto (pagamento em fevereiro e agosto), é possível receber cupons trimestralmente (em fevereiro, maio, agosto e novembro), bastando comprar títulos com vencimentos em meses diferentes em igual proporção.
Utilizar os títulos indexados ao IPCA como estratégia para previdência privada é um ótimo negócio, justamente pelo prazo e pelas taxas pagas pelos títulos. Quanto ao prazo, temos NTN-Bs com vencimento para mais de 30 anos. A desvantagem é que o recebimento dessa “aposentadoria” seria trimestral, e não mensal. Entretanto, como provavelmente se tratará de um complemento, já que a grande maioria das pessoas já é contribuinte da previdência social (INSS, previdências municipais, estaduais ou federais) ou de alguma previdência privada, trata-se portanto de uma excelente estratégia de investimento para aposentadoria.
No que tange títulos privados, há opções com ou sem cobrança de imposto de renda. No caso das LCIs e LCAs, por exemplo, que são isentas de imposto de renda, o investidor precisa optar por títulos que tenham taxa igual ou superior a 75% do CDI. No caso dos CDBs e LCs, também é preciso ficarmos atentos à taxa que deve ser a partir de 95% do CDI para que a rentabilidade seja superior à da poupança. Como vimos, existem os títulos de renda fixa indexados a índices de preços, que remuneram o investimento com inflação mais juros. São alternativas mais complexas, porque a rentabilidade envolve duas variáveis que precisam ser analisadas conjuntamente. Dependendo da combinação entre elas, o impacto no valor de mercado do título pode mudar.
A correção pela inflação tende a reduzir as oscilações dos títulos indexados, num efeito semelhante ao que ocorre nos papéis atrelados ao CDI ou à Selic. No entanto, o componente prefixado do rendimento contribui para aumentar a volatilidade, tal como acontece com a LTN e demais papéis prefixados. Os títulos públicos indexados a índices de preço são as Notas do Tesouro Nacional da série B (NTN-B). Existe uma série especial, negociada apenas no Tesouro Direto, na qual o resgate do principal e juros ocorre apenas no vencimento. É a NTN-B Principal. Entre os fundos de investimento, as carteiras que aplicam em títulos indexados a inflação adotam como parâmetro de referência o IMA-B, que também é calculado e divulgado pela Anbima.
A principal vantagem dos papéis indexados é proporcionar um fluxo de rentabilidade previsível no futuro, com garantia de preservação do poder de compra da moeda. É um título adequado para o planejamento financeiro de longo prazo. Apesar da Selic baixa, a renda fixa continua sendo um bom negócio no Brasil. Isso porque o chamado juro real ainda é alto (Taxa de Juros Real = {[1+ 7,5% (Selic)] / [ 1 + 3.08% (IPCA)] } – 1 = 4,28%), ou seja, quem consegue rentabilidade de 9% ao ano com renda fixa, ainda tem ganhos reais em torno de 6% sobre o valor investido. Para decidir quais tipos de títulos de renda fixa você deve ter na carteira, é necessário ter clareza do objetivo do investimento e entender detalhadamente os mecanismos que afetam o desempenho das aplicações. Só assim será possível obter uma boa rentabilidade e evitar que oscilações transitórias dos valores dos títulos se transformem em perdas permanentes de capital.
Para os investidores que buscam maior rentabilidade, o caminho é assumir um pouco mais de risco com outros tipos de investimentos, não sendo adequado migrar todo o seu dinheiro da renda fixa, que apresenta menos variações, para um investimento mais arrojado.
Como especialista, não aconselho comprar ações diretamente. É preciso, antes, conhecer bem o mercado e estudar as operações para não perder dinheiro. Fazemos análises diversas e cálculos de inúmeras variáveis significantes, considerando inclusive séries históricos e impacto das informações dos novos projetos e do mercado. Uma solução mais conveniente são os fundos multimercado e de ações, arrojados, mas contam com a experiência dos gestores profissionais que aplicam o dinheiro dos investidores para comprar e vender os ativos com maior potencial de valorização, conforme a estratégia de cada fundo.
A Proteste dá mais algumas dicas para quem quer investir em um fundo:
1. Confira o número de cotistas do fundo. Se o número for pequeno, a saída de um deles pode afetar o rendimento dos demais;
2. Opte por títulos cobertos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC);
3. Avalie a captação líquida do fundo. Evite os que estiverem captando um valor menor do que estão recebendo por meses seguidos;
4. Cheque a classificação de risco daquele fundo em agências como Fitch, Moody’s e Standard&Poor’s. A Proteste recomenta investir em aplicações com notas superiores a investimento não especulativo.