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Publicado: Quarta-feira, 26 de março de 2014

Oportunidade perdida

Crédito: Divulgação Oportunidade perdida
Fuleco, o mascote da Copa do Mundo

Com nove meses para finalizar a gestão e às vésperas da Copa do Mundo no Brasil, o governo promoveu a troca da guarda no ministério do Turismo e Embratur. Uma manobra de altíssimo risco, triste indicador do descaso com que o turismo é tratado pelas autoridades federais.

O novo ministro, Vinicius Lages, funcionário público de carreira e com experiência na área, conhece bem o tamanho da encrenca, mas demonstra entusiasmo em atacá-lo com urgência. Reconhece que nada acontecerá no setor sem a integração de esforços públicos e privados. Apenas dois dias depois da posse, ele já estava a postos para ouvir as principais lideranças do turismo em encontro durante o Workshop da CVC, em São Paulo.

Lembrou que a contribuição do turismo à receita brasileira é modesta. E com razão: estimada em 4% do PIB, não chega à metade da média mundial de 9% – isso sem falar de economias que vivem do turismo. Ele disse ainda que seu próprio Ministério deveria ser repensado, “para dar respostas em políticas públicas que contribuam de fato para o desenvolvimento do setor”.

Diante desta oportunidade ímpar, depois de uma série de administrações públicas pífias no turismo, qual a reação dos mais importantes representantes do setor privado, quando lhes foi dada a palavra? Com raras exceções, a maioria optou por salamaleques e adulações pessoais ao ministro, citando suas qualidades e adequação ao cargo. No lugar de informações, prioridades, críticas e recomendações, os representantes da iniciativa privada ora discursaram sobre seus próprios feudos, ora ofereceram vagos préstimos. Alguns rogaram pela providência divina para ajudar o novo executivo em suas funções.

Ficaram visíveis tanto a falta de articulação do grupo quanto o péssimo cacoete de bajular autoridades, talvez herança dos tempos do Império, quando se costumava cortejar majestades. Tudo se passou como se o ministro pedisse colher para tomar sopa e recebesse um garfo. Ele não estava lá para ser paparicado, mas sim para medir a temperatura do setor. Se aquela não era a hora para reivindicações, quando seria o momento?

Uma lástima que ninguém falou sobre o que registrei junto a importantes empresários e especialistas da cadeia econômica do turismo em recente matéria que escrevi para a revista Viagens S.A. A título de contribuição, eis as principais preocupações citadas, não necessariamente em ordem de importância:

• Falta de foco e planejamento estratégico

• Não há gestão técnica, e o turismo não é considerado prioritário

• O número de visitantes estrangeiros é baixo perto do potencial do país

• Os custos do Brasil são absurdos

• A infraestrutura é precária: aeroportos, portos, estradas, transportes etc.

• Falta segurança

• Há baixa capacitação da mão de obra, despreparada em todos os níveis: hotéis, restaurantes, receptivos, agências, taxistas

• Dificuldade para obter financiamentos e reduzidos investimentos públicos

• A falta de conexão direta com os destinos torna o acesso caro e difícil

• Pouca divulgação dos destinos

* Este texto foi publicado originalmente na coluna Viagens de Negócio, de Fábio Steinberg, no dia 25 de março de 2014, no Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo.

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