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Publicado: Terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Ontem ...

Seja tomado o sentido do vocábulo ontem, que encima esta crônica, não no seu significado óbvio e primeiro, mas sim com o de dilatado alcance das pessoas com pelo menos cinquenta anos e daí por diante.

Desse alerta no nascedouro da prosa, salta-se de imediato para concluir que o enfoque e conteúdo, explicitam uma provável idade avançada de quem escreve. E para que disfarçar?

Uma das consequências então, de para onde se leva a atenção do leitor, quem sabe provoque a desistência antecipada dos novatos.

Natural a afeição dos idosos, até pouco tempo, nas rodinhas de esquina. Diga-se Floriano versus Sete de Setembro; bancos da praça da Matriz e fronteiriços à agência de revistas; cômodas e amplas cadeiras de metal na calçada da doceria Senzala; banca do Toledo, Padaria Santo Antônio e outras por aí. Sem esquecer o antigo banco aposto na calçada do Tonilu, não obstante a estreita largura daquela passagem, espaço hoje liberado de vez só ao trânsito de pedestres.

O contingente de idosos e outros nem tanto nesses locais, ainda visitados, diminui  gradativamente.

E se for dito que muito da vida aparentemente ingênua e alimentadora, de conceitos  entusiasmados, feneceu ao quase nada?

Isto porque o empurrão da simplicidade e espontaneidade para fora, dos costumes consagrados, quase dói.

Todos têm pressa. A televisão impõe decisões e substitui escolhas melhor ponderadas. Vai-se de roldão na mesmice de programas das tardes de domingo, em especial.

Sem nenhuma intenção de sectarismo de qualquer tendência, mesmo os hábitos religiosos são substituídos pelos mais leves pretextos, urgência e desculpas. E, num processo de repetição (até de certo alívio) acabam postergados de vez.

- “Passe em casa para a gente conversar.”

Esta uma frase-convite, expressa diante-mão na certeza de que se trata de pura formalidade.

Interessante que esse desvio de hábitos que alimentavam as amizades duradouras, advém ainda pela expansão da mídia, ampliada ao excesso, mas pela ocorrências de repetidas mediocridades. Ver televisão sistematicamente, condiciona as atenções à pessoa que dela se escraviza, como fiel seguidor.

Outro aparelhinho que corta distância entre interlocutores, é o celular, hoje nas mãos de todos nós, indiscriminadamente. Há constatações óbvias de alienação completa de pessoas, sem tempo para mais nada. Perderam-se a tal ponto, de modo a parecerem exemplos de alienados incapazes de voltarem à tona. Uma modalidade de nova disfunção mental.

Iria este cronista estar a salvo de todos “avanços-retrocessos” que se permitem, no criar essa figura antagônica. Não.

Fui o último a ter em casa em mãos, como surpresa para todos, talvez os parentes inclusive, a me considerarem antes como ermitão perdido, no meio do alvoroço social. Fiquei porém sensibilizado com tal demonstração de afeto, da parte da família que assim me presenteou.

Agora, então, diminuiu a estranheza por não ter aparelho celular, mesmo na idade avançada.  Ainda assim, censurado volta e meia, por não ter visto esse ou aquele recado.

Que fiz eu?

Somente agora me dei conta.

Por que enveredar crônica inteira num tema tão desprovido de novidade, inventos, disparos para o espaço, etc. etc. etc.

Desculpem, tá?

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