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Publicado: Sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Onde estão as crianças?

Esta, uma pergunta, talvez não feita explicitamente, mas guardada na mente e no coração de muitos dos avós. 

Para alguns, quem sabe, ainda sem vir à tona, porque alojada por ora no recôndito ainda do inconsciente. Vivem, porém sem o saber essa circunstância, ou necessidade.

Com a consciência de que não existe nada mais sem sal nem pimenta do que rever o passado, coisas de antanho, costumes abolidos, teima-se em por em dúvida, se a evolução só traz benefícios.

As mudanças e a tecnologia não deixam nenhum invento envelhecer, sobrepostas que são no dia seguinte todas as inovações. 

Aquela cadeirinha voadora já, já, aparece por aí.

Retome-se contudo o cerne do assunto.

Os pequeninos, a começar até dos aprisionados em muros altos e com reduzida área de circulação, esses então se soltos num centro movimentado, talvez fiquem estupefatos, mudos e parados.

Seja mais abrangente porém o foco. 

Fale-se das crianças de um modo geral.

Será?

Será que não faz falta a singeleza do boizinho de chuchu, com perninhas de palitos de fósforo.
Será que não lhes faria bem a ingenuidade do folguedo no mero rodar de pneus velhos?

O pega-pega nos recreios, no jardim do Carmo ou da Matriz, sem risco algum. Quase a extensão da próprias casas, tamanha era a segurança.

Os avós, sim, fossem vistos na sua infância, seriam tidos quase por bobinhos. Motivo de riso até, para as crianças de hoje.

Santa inocência.

Por que esburacar antecipadamente a mente infantil, como hoje, em que o menor de três anos brinca de escutar o irmãozinho na barriga da mamãe, barrigas expostas nuas em público muitas vezes? Até nas praias antigamente as grávidas, - aquelas que iam, poucas – tinham ao menos o pudor de ter uma veste ampla que lhes encobria o abdomem.

Pois é. 

Outrora o nascimento de alguém na casa, era quase uma novidade. Percebido de última hora. Irmãos pequenos vibravam. Ignoravam – por ora de modo algum lhes interessava saber – como se geravam filhos.

Quem conheceu no passado, há vinte, trinta anos, mocinhas solteiras darem à luz em tenra idade e fora do casamento? Rotina de hoje.

Aquilo que seria preâmbulo a este enfoque sem graça se estendeu em demasia.

Crianças modernas são levadas a serem adultas – e não se estica a idade de forma milagrosa, até o físico deles a isso se recusa – ao se lhes atribuir ocupações em excesso.

É elegante, bonito, gabam-se os pais, de que meninos e meninas não tenham tempo mais para brincar. 

Cursos infantis, berçários, creches e quejandos, suprem (não suprem) a ausência das mães, modernamente entregues a quaisquer ocupações externas.

Nada substitui o calçar das meias e sapatinhos de manhã, aquele feito pelas mamães. Nem as vovós nem as babás. O instinto infantil é penalizado por não ver a genitora nesse e em outros momentos importantes de seu crescimento, em que deveriam ser acompanhados de perto.

Vejam. 

O papo fluiu e se desconcertou de novo. Saiu da intenção inicial. Perdoem a desordem.

Onde estão as crianças, mote principal da crônica, é a pergunta dos avós, que não mais os encontram em casa. 

Aulas de tênis, natação, informática, inglês, coral, futebol, dança  do ventre e sabe-se-lá o que mais..

Com tudo isso também os avós estão prejudicados.

Durante a semana, pensar que sobre um tempinho para conviver com os netos, como? Nos fins-de-semana, quase sempre e é justo, estarão com os pais.

Os netos, poder tê-los consigo algumas horas, creiam, são importantíssimos aos avós.

Tampouco se ignore que não fossem solicitados nos raros minutos deles, os menores, pela atração dos brinquedos eletrônicos e videogames, aprenderiam sim e muito na convivência com os pais de seus pais. Pais duas vezes.

Papo careta, este, é sabido.

Nenhum pejo porém do cronista em trazê-lo  aqui.

Será?

Será que algum dia vai-se perceber que é vital permitir que as crianças sejam primeiramente crianças?

Brincar é preciso.

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