Ode ao Poeta
Encontrei tua musa na rua. Nua, despida de qualquer poder de sedução. Jogada às traças, rendida por um par de calças jeans e embrulhada nas páginas secas de um romance qualquer. Muda. Calada e desprovida de sentimentos. Feita em pó, o nó e as sobras do que um dia fez parte de suas lembranças.
Presentes de um passado incerto. Futuro de um Pretérito Imperfeito. E o peito que não mais afaga a cabeça de um poeta desconsertado. Doce e inacabado desequilíbrio que sustenta a ostentação cega do pirata embriagado. Palavras sussurradas num francês mal pronunciado. E o corpo retraído; fechado – divino veneno, suave pecado – suplicando por um segundo a mais atenção.
O balcão de Julieta não te espera. Não mais te aguardam os braços de Helena ou traços de Iracema ou tranças de Capitolina. Desdêmona afundou, num cais qualquer. Sequer a loucura de Ofélia resistiu. Desistiu. Abriu mão do devaneio - seu viver - e entendeu que não pode exigir de teu ser mais do que um verbo conjugado.
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