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Publicado: Domingo, 30 de março de 2008

Obrigado, Mamãe

Crédito: Google Imagens Obrigado, Mamãe
A natureza sempre mostrou-se pródiga ao nos brindar com plantas para todas ou quase todas as moléstias, de quadros irreversíveis de Parkinson a furúnculos de ocasião. Assim foi durante séculos com o chá de couve-manteiga, que não obstante o nome frágil da verdura era capaz de dinamitar em minutos a mais titânica pedra no rim. O mesmo se pode dizer do alecrim, célebre por sua propriedade de deter a leucemia em estágio avançado, pelo menos entre os eunucos da Ásia Setentrional, que em número de 47 serviram como grupo de controle nos estudos levados a efeito pelo “The New England Journal of Medicine”. Há que se citar também o alívio que o reino das ervas oferecia ao masturbador contumaz, que em 97,3% dos casos relatados lograva aplacar o vício solitário com a ingestão diária de três cápsulas de semente moída de tangerina anã, até então empregada com sucesso enquanto antídoto e estancador do priapismo provocado pela catuaba.
 
Mas os tempos são outros, e a camomila, a hortelã, a erva-cidreira, o boldo, o sapotizinho do mato e a babosa espinhuda já não abundam nos quintais das tias velhas. Por seu turno, os congêneres de saquinho, vendidos nos supermercados, são sabidamente de efeito retardado e duvidoso. E confirmando Lavoisier em sua máxima de que “na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”, o fato é que ela hoje nos oferece substitutos tão ou mais eficazes em sua ação curativa e profilática. Como o espaço de que disponho e a paciência do leitor não me permitem citá-los todos, aí vão alguns que me acorrem de momento para ilustrar minha tese.
 
O chá de pneu em lascas, que para gagueira é tiro e queda – seja ela de manifestação congênita, hereditária, patológica ou psicossomática, entre as pessoas que cantam e as que mal sabem assoviar. Encontráveis facilmente às margens de qualquer banhado ou ribeirão, sua contundência terapêutica observa-se também na forma de ungüentos e emplastros, contanto que associados à ingestão intermitente de papéis de bala Juquinha. Temos ainda a infusão tríplice de tocos de cigarro, pet Bacana 2 litros e preservativos usados, largamente prescrita pelos plantonistas do SUS de Xique-Xique para as luxações de cadeirantes, sendo opcionalmente aplicada como escalda-pés. Os florais formulados com extrato concentrado de níquel-cádmio, oriundo de baterias as mais diversas, cuja seiva escorre a se perder aos pés das árvores, sem que o homem saiba aproveitá-la devidamente para a cura de “n” gêneros de enfermidades. O xarope caseiro de isopor e mercúrio, que muitos erroneamente renegam a crendice ou simpatia, contradizendo centenas de relatos avalizados por baluartes da ciência - que indicam seu uso nos casos de astigmatismo e transtorno bi-polar. A garrafada feita com folhas de papel alumínio e cartucho de impressora, também chamada de “Levanta-Defunto”, responsável pela reabilitação de inúmeros casamentos no interior do Piauí. Enfim, é infinita a generosidade de mamãe natureza a nos presentear, em quantidades cada vez maiores, com estes e tantos outros santos remédios. Bálsamos mágicos a que todos devemos ser gratos e saber retribuir, repondo em dobro aquilo que extraímos.
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