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Publicado: Segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O Xará

O técnico de computador apresenta-se na casa onde foi chamado para um serviço.
 
 - Bom dia! Meu nome é Môzar...
No momento seguinte um enorme cachorro aparece correndo e pula-lhe no ombro.
O rapaz assusta-se e a moça agarra o cachorro rindo:
- Não tenha medo. Ele é manso. Acontece que ele também se chama Môzar e, quando ouviu seu nome pensou que você o estivesse chamando.
 - Ah!
 - Interessante! Nunca conheci ninguém com esse nome. Pensei que o meu Môzar não tivesse um xará
 - Era o nome de meu avô. Meu pai quis homenageá-lo. Também não conheço outro Môzar.
Sorri amarelo.
- Isto é, agora conheci...
A moça dá uma gargalhada.
- Meu nome é Julieta. 
O cachorro corre a volta dos dois, excitado por ouvir tantas vezes o seu nome.
- Vamos entrar! Por aqui, Môzar!
- Por aí não, Môzar
O rapaz detêm-se, olhando para ela, sem entender bem.
Oh! Eu estava falando com o cachorro, você entra por aqui..      
Môzar acompanha a moça e o cachorro vem logo atrás.
Chegam ao escritório e o rapaz senta-se diante do computador.
- Aí não Môzar!
 Levanta-se e olha para ela meio aturdido.
- Oh! Eu falei com o cachorro que estava querendo subir no sofá. Você pode sentar-se ao computador, é claro!
- Você quer uma almofada, Môzar?
O moço não responde. Ela devia estar falando com o cachorro.           
– Não quer, Môzar? Essa cadeira é um pouco baixa.
- Oh sim, aceito!
- Aqui está, Môzar!
Mas, antes que ele sentasse o Môzar (cachorro) adiantou-se, subiu na cadeira e ficou olhando marotamente para ele.
- Môzar! Desça já daí!
- Desculpe, mas o Môzar não sabe que mais alguém pode ter o nome dele, cada vez que falo com você ele pensa que é com ele.
O Môzar (gente) pensa:
Eu, também, nunca sei se ela está falando comigo ou com o cachorro.  - Môzar! Você quer tomar um leitinho?
- Não, obrigado, não tomo leite.
-Oh! Eu falava com o cachorro. Você aceita um café? Um suco? Uma água?
-Não, obrigado (o que ele queria era acabar de uma vez com aquilo).
Enquanto Môzar trabalhava, Julieta brincava com o cachorro.
O rapaz assustava-se cada vez que ouvia o seu nome (será comigo ou com o cachorro?).
 - Môzar! Você está estragando o tapete!
Aturdido o moço olha para os próprios pés, para o tapete e para ela.
Ela ri:
- Eu falava com o cachorro. Ele estava mordendo o tapete.
- Ah!
Eu vou sentar mais perto para ver o que você está fazendo, Môzar.
Mas, quando puxa a cadeira, quem sobe é o cachorro e põe as patas sobre o teclado.
- Sai daí Môzar! Você não entende nada de computadores.
Môzar (o técnico) sente-se desconfortável.
Julieta quer fazer perguntas, mas não consegue porque o cachorro está sempre entre eles.
Ela ri, divertida:
- O Môzar é muito ciumento.
- Môzar! Eu sei que você está querendo fazer xixi. Vá lá fora, vamos!
O moço percebeu logo que era com o cachorro, mas não pôde evitar um leve constrangimento que ela percebeu e quis ser gentil:
O banheiro é logo ali, Môzar!
 - Sei, obrigado! (droga de computador que não pára de dar defeito!).
Mas, como tudo na vida tem fim, Môzar conseguiu terminar o serviço e ir embora.
Ufa!
Julieta acompanhou-o até o portão. (Ela e seu indesejável canino)
Despediu-se rapidamente, entrou no carro e já ia saindo quando ouviu que ela chamava:
- MÔZAR!
- Abriu o vidro e atendeu-a
- Oi!
- Não é com você. O Môzar escapou!
Não agüentava mais! Acelerou o carro, mas teve de brecar de repente, pois o Môzar atravessou a sua frente, seguido da dona, é claro.
Que droga! Atropelar este cão até que era pouco, mas matar a sua dona, também, já era demais!
E foi embora resmungando:
- Não sei por que essa mania de homenagear antepassados colocando nomes esdrúxulos. Meu avô não podia chamar-se Zé Antônio?
Mas, também, NUNCA MAIS hei de ver essa Julieta e seu nojento cachorro!
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