O Xamanismo

Segundo a Antropologia a palavra xamã nasceu entre o povo Tungus da Sibéria e significa “aquele que sabe”. É uma versão da expressão “homem de conhecimento” usada por algumas tradições como a tolteca mexicana para designar tanto os curadores espirituais como aqueles que ajudam a desvendar os mistérios metafísicos do Ser, da Consciência, da Divindade.
Já o próprio Xamanismo, segundo a Antropologia e Arqueologia nasceu na Idade da Pedra cerca de 40 a 50 mil anos atrás em várias regiões do planeta nos 5 continentes. O mistério, para a ciência mas não para os antigos, é que o nascimento deu-se simultaneamente em muitas regiões no planeta. É um mistério que o stablishment acadêmico tenta resolver sem muito sucesso com o quebra-cabeças das teorias migratórias, que em alguns poucos casos até são verdadeiras. Felizmente muitos acadêmicos que transitavam com familiaridade também no terreno de conhecimentos metafísicos, como Mircea Eliade, Jung, Joseph Campbell e outros do Grupo Eranos que se reunia na Suiça, já estabeleceram desde o século passado uma ponte entre o xamanismo e a ciência, que valoriza os estados xamânicos como veículos desses conhecimento milenar. Eles sabiam a resposta do mistério. Muitos antropólogos atuais, herdeiros desse esforço corajoso de investigação e também agentes do mesmo esforço, sabem a resposta. Aliás está se tornando um fato comum entre os acadêmicos de antropologia e outras especialidades limítrofes ao mistério, como Castaneda, Michael Harner e outros, o fato de que eles vão formalmente estudar o xamanismo como bons acadêmicos e ficam fascinados. Viram xamãs.
Quem acredita no Invisível, sabe que esse conhecimento antigo, como muitos outros, ocorre num plano onde o verdadeiro conhecimento metafísico é passadas não de forma escrita e acadêmica, mas por canais não convencionais como os estados de “consciência intensificada” ensinados por via oral controlada, na maioria das tradições esotéricas autênticas.
Hoje sabe-se que mesmo com o arraigado preconceito machista presente em toda a humanidade e que influenciou grandes estudiosos que não conseguiram se livrar do peso da cultura ocidental, as mulheres representaram um papel relevante, quando não principal, nessa área, mesclando a cura física e espiritual xamãnica com a atividade de parteiras e advinhas nas sociedades chamadas por nós de primitivas.
Os xamãs sempre foram uma mescla de curadores, psicólogos e adivinhos de suas sociedades. Existem os médicos modernos que curam o corpo, mas o que fazemos quando o espírito adoece? O xamã mobiliza o mundo espiritual para ajudar a cura, e frequentemente atua como psicopompo, função que desconhecemos, que ajuda as almas a atravessarem o bardo (intervalo) pra o outro mundo como faziam não só os budistas tibetanos, hinduístas, taoistas e uma infinidade de outras tradições. Os xamãs executavam essas tarefas sem a devida “remuneração profissional”, que por sua vez era obtida por eles trabalhando da mesma forma que os outros. Eram muito respeitados os xamãs que desempenhavam bem as duas coisas, como um sinal de qualidade pessoal.
Com o renascimento do xamanismo e da cura no mundo ocidental, estamos começando a valorizar a cultura do Invisível, diminuindo o desprezo irracional aos conhecimentos antigos, e resgatando o valor espiritual e psicológico de tudo o que os nossos ancestrais já conheciam, respeitando e compreendendo a sua importância para desvendar os mistérios da nossa saúde e bem-estar.
São encantadores, misteriosos e profundamente eficazes os rituais e as técnicas variadas que as sociedades xamânicas de todo o planeta usam de acordo comas suas facetas culturais individuais. A razão disso é que estão baseadas num conhecimento do lado oculto da essência e funcionamento de leis universais ainda inacessíveis à mente racional ocidental, que por sua vez já apresenta sinais de fadiga de eficácia. Bom sinal.
Mircea Eliade, filósofo e historiador romeno, autor de livros centrais sobre o xamanismo, diz que o xamã é uma pessoa que faz uma jornada em estado alterado de consciência além do tempo e espaço conhecidos. Michael Harner, antropólogo (e xamã) que pesquisou o xamanismo no mundo todo afirma que o xamã é diferente dos outros curandeiros porque utiliza o ritual da Jornada Xamânica, solitária ou em grupo, ritual que usa sons (tambor, chocalhos, apitos) para produzirem freqüências sonoras hoje estudadas e conhecidas que catalisam o processo de passagem para um outro estado de consciência. Usam também músicas, mantras, danças e eventualmente plantas alucinógenas e jejuns. Essas técnica tiram o xamã e a pessoa a ser curada da realidade comum. Na “outra realidade” o xamã obtém ajuda e informações de seres que o auxiliam, bem como o paciente, familiares e eventualmente a comunidade. Diferentemente da medicina ocidental, a comunidade representa um papel muito importante de acolhimento e participação das práticas de cura. Um reforço apreciado pelo paciente debilitado física e espiritualmente e que não existe mais nas frias e assépticas acomodações dos hospitais e consultórios onde se dá a cura moderna. Um dos rituais em grupo dos índios norte americanos era uma dança numa representação de uma canoa tripulada que entrava em grupo na outra realidade para obter ajuda.
Uma das jornadas mais intrigantes do mundo xamânico é descrita e estudada por Sandra Ingerman, xamã e escritora famosa do Novo México, terapeuta familiar e de casais, e fundadora da Aliança Internacional para Professores e Xamãs de Remédios para a Terra. É a jornada xamânica chamada O Resgate da Alma. Falaremos em breve dessa incrível técnica que está renascendo em várias partes do mundo ocidental graças a esses devotados xamãs modernos, pontífices entre esse conhecimento quase esquecido e a medicina e ciência ocidentais.