O turismo sob a mão do governo
A recente polêmica provocada pela Embratur ao questionar os preços considerados altos praticados pela hotelaria e aviação é mais uma demonstração de que o governo parece não ter encontrado o seu papel. Lembra um artista desesperado para achar um script e justificar a sua permanência em cena. Será tão difícil entender que em pleno século 21, onde imperam as leis da oferta e procura e a vontade do consumidor, não é mais possível decretar o comportamento do mercado?
Quem acompanha a trajetória recente do Ministério do Turismo sabe que a iniciativa de controlar preços saiu do mesmo balaio de quem decidiu criar um sistema de classificação de meio de hospedagens. Algo tão extemporâneo que interessa apenas a hotéis independentes ou decadentes que podem usar esta medida para ganhar visibilidade. Ao colocar a colher nessa sopa, o governo age como se não existissem mecanismos que orientam o viajante de forma barata e eficaz como o Trip Advisor, a segmentação das redes hoteleiras, ou mídias especializadas como o Guia 4 Rodas.
A falta de sintonia entre as autoridades do turismo e a iniciativa privada é histórica e endêmica. Nasce da incapacidade do governo em estabelecer um ministério voltado aos interesses legítimos da indústria, e não fruto de acomodação política para dar lugar a quem entende tanto de turismo quanto um cantor de tango de fissão nuclear. A questão ganha importância adicional na véspera de eventos de peso como a Copa das Confederações, Olimpíada e Copa do Mundo. "Quando o Brasil foi escolhido para sediar esses eventos, o governo ficou preocupado se o parque hoteleiro atenderia à demanda.
Hoje, graças a investimentos privados da ordem de R$ 7 bilhões, o gargalo não existe, enquanto outros, de responsabilidade do setor público, continuam aí, como infraestrutura, leis trabalhistas ultrapassadas, capacitação e atração de mão de obra", comenta Roberto Rotter, presidente do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil).
Ele tem razão. Mais que controlar preços, o governo precisa criar mecanismos importantes como um plano estratégico para o turismo. Se cada um fizer o seu papel, o setor hoteleiro e de aviação civil contribuindo com investimentos em ativos e mão de obra, e o governo com a infraestrutura e arcabouço legal para uma operação saudável, todos ajudarão a desenvolver o turismo e a economia brasileira.
Até porque, tanto no caso dos hotéis como das companhias aéreas, o raciocínio é simples. Os investidores aplicam dinheiro em troca do retorno financeiro, reconhecendo que isto ocorre a longo prazo, e não em função de eventos ocasionais. Assim, o ciclo virtuoso se completa dando lugar a mais aplicações, o que por sua vez serve para aumentar a concorrência e reduzir os preços. Já ao contrário, se o governo tenta espremer artificialmente o valor das diárias ou do ticket, a rentabilidade cai, os investidores se desinteressam, e transferem recursos para outro lugar. "É importante que cada um cumpra e se preocupe com aquilo que lhe compete", conclui Rotter.
*Este texto foi publicado originalmente na coluna Viagens de Negócio, de Fábio Steinberg, no dia 13 de março de 2013, no Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo.