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Publicado: Sexta-feira, 13 de junho de 2008

O turismo no céu

O turismo no céu
Itu: turismo, só no céu
Certo dia, o centro histórico surgiu cheio de cartazes e faixas que anunciavam uma festa no céu. Seria um turismo no céu?. Afinal, uma novidade!. Seria um passeio religioso? Como a entrada era livre, a comunidade judaica foi a primeira a aprovar a viagem. Os católicos deixariam de ir à missa naquele domingo, pois iam conversar diretamente com Êle. Evangélicos estavam eufóricos, pois iam ver de perto o “Jesus, Senhor da cidade de Itu”. Os islâmicos não viam a hora de aproveitar a viagem e achar logo as sete virgens.

De início, todos queriam ser os patronos da idéia. Nem havia chegado o IV Centenário e alguém inovou com uma festa de arromba. Como aconteceu isso?, perguntou a Prefeitura. A Secretaria de Turismo não sabia de nada. Afinal, tal festança não estava no calendário. Protur, Comtur, as Fazendas Históricas, o Ceunsp, a turma do Di Ciero, todos brigavam pela autoria do projeto. A ABAV, AMITUR, ABIH, todas olhavam de longe, com inveja do sucesso ituano.

Era uma festa que também iria comemorar São João. O trade foi chamado a participar. Alguns empresários estavam preocupados. Teriam que “contribuir” com alguma coisa? A quantas reuniões temos que ir? Outros achavam que era um passo grande de mais para o pequeno turismo da cidade. Alguém fez “folders”?. Haviam monitores de turismo nos portais da cidade?

Mas, apesar da grande Itu não ter a divulgação que merece, na imprensa nacional, sem querer, a notícia do turismo no céu chegou a São Paulo. Agências de turismo começaram a preparar caravanas, tudo em dez vezes sem juros. Duas semanas no céu, com meia pensão, traslado e hospedagem, tudo por 500 reais. Ué, mas não era de graça? Sim, a viagem oficial era de graça, mas a que as agências ofereciam era muito mais confortável e pontual e por isso a cobrança. Prefeitos das cidades vizinhas reclamavam: como não tivemos essa idéia antes?

O domingo da festa chegou. E vinha gente de todo o lado. Os hoteleiros, donos de campings, fazendas, pousadas, restaurantes, antiquários mantinham esquema de propaganda até na Castello Branco. E todos concordavam: Nunca neste país houve uma festa como essa e Itu fazia história. Na rodoviária muita confusão. Como a administração não funciona aos domingos ninguém sabia explicar para os milhares de turistas que chegavam, sem parar, aonde seria a festa. Até no Varvito havia muita gente, não para ver o abandono, mas para acompanhar a subida do foguete.

Como os acontecimentos ficaram fora de controle a NASA decidiu intervir e mandou um ônibus espacial para cá. Aí a organização melhorou. Dias antes dos festejos de São João já havia uma fila enorme. Na frente, um bando de peões guardando o lugar na fila para os políticos da região que queriam ser os primeiros a falar com Deus. Imaginem um santinho de campanha com uma foto junto ao Todo Poderoso? Era eleição na certa. Os americanos logo entenderam o jeitinho brasileiro – um suborninho aqui, outro acolá e a bandeira do Corinthians foi colada no foguete.

O local de lançamento do ônibus para o turismo no céu seria o Itusão. Mas os vizinhos reclamaram do barulho e a festa teve que ser transferida para o Novelli Júnior. O pessoal do ituano ganhou três lugares na fila. De helicóptero, chegaram os representantes da FIESP. Logo reclamaram do esgoto a céu aberto, do mau cheiro e perguntaram: cadê o saneamento básico?

Pipas coloriam o céu. As crianças de boca aberta, pois nunca tinham visto um avião tão grande e de verdade. O céu era de brigadeiro. Tudo pronto. Só se viam câmaras fotográficas, filmadoras, vídeos... Os ambulantes vendiam de tudo: hotdogs, coca, café, pipoca, CDs piratas, lembrancinhas de Itu, artesanato, quinquilharia da 25 de março etc.

O reverendo Moon, aquele que vendia terrenos no Céu, também não perdeu a oportunidade e oferecia lotes de diversos tamanhos. Pacheco anunciava sua cavalgada que não chegava ao céu, mas alcançava a Lua Cheia. A Capoava cobrava dez mil reais de cada turista que quisesse acompanhar o lançamento através de modernos telescópios. Depois, haveria um “brunch”, é claro.

Aí a fila andou e todos começaram a entrar no ônibus espacial. Em primeiro, os que tinham credenciais de imprensa, como o Bonner, Fátima, Jabour, Hebe, Xuxa, Betting, Heródoto, Boris e, obviamente, a Deborah e o Gazzola. Depois, os políticos e, em seguida, o povo, muito paparicado, afinal estamos em ano de eleições. Logo descobriram alguns clandestinos a bordo. Eram guias de turismo que os organizadores se “esqueceram” de convidar. Mas como não há turismo sem guias, lá estavam eles, por conta própria. Aliás, o dia nacional do guia de turismo foi 10 de maio. Alguém se lembrou?

Todo o mundo com cinto de segurança. Os motores começam a roncar. As aeromoças já demonstraram as “saídas de emergência”. Aí o comandante entra no ar com voz firme: “ladies and gentlemen, in two minutes we’ll be in heaven”!!!. Um calafrio percorreu as espinhas dos que entenderam a mensagem, pois a informação soava muito estranha. Por isso, jovens estudantes de turismo, estudem inglês. Mas, aí, entra Roberto Carlos cantando “Jesus Cristo, eu estou aqui”. O pessoal relaxa e goza.

Na hora da partida, uma última homenagem do Coral Vozes, com um solene Aleluia. Os sinos das igrejas tocam. E lá vai a nave. Os arranha-céus de Itu e as palmeiras imperiais começam a sumir. Todos se esquecem da falta de água, do museu fechado para reforma, do trânsito...Surgem as nuvens e muitos anjos acenando. Entre uma e outra, vê-se o padre balão que grita – “vocês sabem como funciona este GPS”? Os Mamonas Assassinas tentam explicar, mas ele não entende. Madre Maria Theodora abençoa o vôo. Padre Bento, com toda a sua fé, espera que o primeiro passeio turístico ao céu dê certo. Almeida Jr. e Jesuino registram o evento em telas douradas. Prudente de Moraes não entende o que ituanos modernos estão fazendo lá no céu. E o Lula não veio?

É o turismo no céu, presidente. Talvez dê certo, porque o aqui da Terra, da estância Berço da República............ Boas festas juninas a todos.
 
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