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Publicado: Sexta-feira, 13 de julho de 2007

O som do PAN

Crédito: Moacyr Lopes Jr/Folha Imagem O som do PAN
A pira iluminou o Maracanã e aqueceu corações
Raças, cores, tipos, cheiros e sons se misturaram na emocionante abertura dos Jogos Pan-Americanos, que ocorreu nesta sexta-feira 13, no Rio de Janeiro -  cidade considerada “cartão postal do Brasil”.
 
Assisti grande parte da abertura e o que mais me marcou foram os rostos se iluminando com sorrisos, o corpo querendo dançar, e muita, muita alegria.
 
Sei que esta é apenas uma face da história. Aliás, aprendi às duas penas que toda história tem muito mais faces do que podemos imaginar. Acreditar que um fato é somente o que a gente vê é uma miopia tão grande quanto achar que a nossa opinião é mais certa do que a dos outros. E achar que o que aparece na TV é a única realidade é mais ingênuo ainda. Mas, por incrível que pareça, é essa a balada que inspira o cotidiano da maioria das pessoas.
 
Enfim, estava lá assistindo o Pan na TV. Eu e milhões de brasileiros. Nós, brasileiros, e milhões de pessoas de todo o mundo. Que big evento! Quanto poder!Antes mesmo da abertura, o Maracanã virou um grande palco para a manifestação dos mais diversos movimentos sociais. De religiosos a indígenas, os grupos aproveitaram a deixa para chamar atenção para suas causas. Não questiono se eram nobres ou revoltadas, pró-ativas ou destrutivas, certas ou erradas. Olho e vejo todo esse poder, só isso. E penso: e se todo esse poder fosse usado para o construir e unir?
 
Na abertura, luzes especiais e fogos iluminaram o Maracanã e aqueceram os corações. A bandeira brasileira, carregada por Vanderlei Cordeiro, se misturou às outras bandeiras celebrando todas as cores dos países participantes. Acrobatas, dançarinos, percussionistas, técnicos, esportistas, levantavam as mãos, com câmeras em punho, dançando ao som do batuque brasileiro.
 
Pensei: Que coisa! Quanto contraste! O Rio tem sido freqüentemente veiculado na mídia nacional e internacional como uma das cidades mais violentas do Brasil. Ao mesmo tempo, no último sábado, o Cristo Redentor foi eleito uma das novas sete maravilhas do mundo (The New 7 Wonders), disputando com outras 19. E se isso for bem aproveitado, com certeza incrementará a economia carioca e o turismo (apesar da violência). E não podemos esquecer que, afinal, não é qualquer maravilha: é o Cristo. E ele abre os braços para dar um grande abraço.
 
Talvez seja isso que o mundo esteja mesmo precisando. Abraço. Encontro. Não é à toa que o vídeo “Free Hugs” fez tanto sucesso no Youtube, atingindo milhões de leitores online. Mas isso é assunto para outro artigo.
 
O que eu senti, vendo a abertura do Pan, foi a emoção do encontro. Vi atletas estrangeiros desfilando na pista, impregnados com o som brasileiro que carrega tanta alegria e raça, apesar da dor. É mesmo impressionante ver como o povo brasileiro contagia. Por mais que tantas coisas negativas ocorram paralelamente ao evento, ver que somos capazes de gerar grande alegria aos nossos visitantes e a nós mesmos me acalentou.
 
Que seja o Pan um marco de encontro.
Que traga o sabor da competição, regado com respeito e admiração.
Que seja cenário de abraços e vitórias.
Que a maior conquista seja a de celebrar em paz.
Que permita a superação de limites com sabedoria e acolhimento.
Que contagie pela criatividade, amizade e generosidade.
Que inspire desafios com humildade e abertura.
Que dê ao nosso Brasil motivos de orgulho. Não apenas pelas medalhas esportivas, mas também por nos fazer acreditar que sabemos, queremos e podemos fazer o som do batuque ser mais forte que o som das balas perdidas, do choro da fome e de tantos outros sons que endurecem o coração.

E que o som do Pan continue ressoando as canções dançadas coletivamente, na alegria, na beleza e no amor.
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