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Publicado: Terça-feira, 3 de agosto de 2010

O sequestro

Com a mochila de lanche na costa, Bruno saiu de casa correndo rumo a Escola, pois já estava atrasado, mas, quando virou a esquina viu, decepcionado, que o ônibus de excursão já ia saindo.

Já estava pensando tristemente em voltar para casa, quando um carro parou junto a ele e um rapaz bem apessoado ofereceu:
- Perdeu o ônibus, garoto? Entre ai que eu levo você...

Sem pensar duas vezes Bruno entrou no carro, mas, percorridos poucos quarteirões percebeu que o rapaz dirigia-se para outro lado da cidade.
- Ei! Não é por ai! É lá no parque, perto da represa!

- Fique quieto! Se fizer barulho eu te mato.

O rapaz mostrou-lhe um revólver e Bruno ficou paralisado de medo.

Fique calmo. Se colaborar não vou fazer nenhum mal para você.
- O que você vai fazer comigo?

- Nada. Nós vamos até uma casa abandonada, daí você vai ligar para sua casa e pedir que seu pai coloque um dinheiro em um lugar que vou determinar. Assim que eu pegar a grana você ficará livre.

Bruno tentou telefonar, mas ninguém atendeu.
- Meu pai está trabalhando e a minha mãe deve ter saído de casa.

- Não faz mal. A gente espera.

A mãe de Felipe, já há algum tempo estava preocupada com ele.

Estava saindo com uns amigos de comportamento duvidoso, chegando tarde em casa, faltando na escola e ela desconfiava até que ele estivesse usando drogas..

O pai não queria nem ouvir falar nisso. Para ele o filho estava acima de qualquer suspeita:
- Você tem coragem de pensar mal de nosso filho?

- Estou preocupada com ele. Só isso.

- Pois fique tranquila e dê graças a Deus pelo filho maravilhoso que temos.

Quando ele completou dezoito anos tirou a carta de motorista, o pai liberou o carro para ele usar a vontade e ele começou a passar as noites fora para angustia da mãe..

O pai parecia achar normal o que o filho fazia..
- Coisas de rapaz! Deixe ele se divertir.

Mas, Felipe realmente estava indo por um caminho muito perigoso.

Fez amizade com um grupo de rapazes viciados em droga e de péssimo comportamento.

Já se envolvera em pequenos furtos para comprar droga e os amigos diziam que bom mesmo era sequestrar uma criança. Os pais ficavam tão nervosos que davam tudo o que se pedia e fechava a boca com medo da represaria.

Fizeram vários planos que não se concretizaram e agora ele tinha resolvido sequestrar o menino, só que não sabia bem o que fazer com ele.

E se o pai chamar a polícia?

Um frio percorreu-lhe a espinha:
- E se eu for preso?

As horas foram passando.

Bruno tentou mais algumas vezes, mas ninguém atendeu ao telefone na sua casa.

- Você não está com fome?

- Não

- Pois eu estou. Vamos repartir seu farnel? O lanche que as mães arranjam sempre dá para dois.

Acabaram comendo juntos.

Bruno já não sentia medo. O rapaz era muito jovem e não tinha cara de bandido.

Começaram a conversar. Felipe acabou contando que era o primeiro crime que cometia e que o revolver era de brinquedo.
- Uma imitação fajuta que só mesmo um bobinho feito você ia acreditar que fosse uma arma.

Riu, mas o Bruno estava muito sério.
- E você acha que é bom ser bandido?

A palavra "bandido" machucou o Felipe. Protestou:
- Eu não sou bandido!

- Desculpe!

Tirou do bolso um pacotinho e ofereceu ao Bruno:
- Cheire! É muito gostoso!

- Eu não! Isso é droga! Deixa a gente doente e maluca. Às vezes faz até a gente cometer crimes sem querer.

Felipe deu uma gargalhada:
- Você aprendeu bem a lição do Pastor.

- Não foi o Pastor que disse isso. Foi meu pai. Ele disse que se eu visse alguém se drogando, que dissesse isso a ele.

Felipe continuava rindo, mas a atitude do garoto o impressionou, realmente nada de bom o esperava no caminho que escolhera.

Já estava arrependido da sua proeza e com muito medo das consequências.
- Vamos fazer um pacto?

- Eu não! Não quero ser um marginal. Quero ser respeitado e viver em liberdade.

- Mas você não ouviu o que eu ia lhe dizer. É o seguinte, eu levo você embora e você me promete que não conta nada disto para ninguém.

- E você promete que não cheira mais esse negócio?

- Vou tentar.

- E não vai mais assaltar com esse revólver de mentira?

- Não. De agora em diante vou ser um menino bonzinho do jeito que Mamãe gosta.

Falava com ironia, mas estava realmente convencido de que o caminho do crime não era fácil e já não tinha tanta certeza de que queria continuar por ele.

Sorriu para o Bruno estendendo a mão.
- Felipe! Um amigo!

- Bruno!

Quando Bruno chegou à casa a mãe logo percebeu que ele não tinha ido ao passeio.
- Perdi o ônibus e...

Resolveu contar o que tinha acontecido. Prometera ao Felipe que não contaria, mas para a Mamãe, ele precisava contar.

A mãe ouviu o relato e quando ele terminou disse:
- Você está mentindo! Devia escrever histórias. Mas, agora conte onde você foi, realmente.

- Fui...

Lembrou-se da promessa que fizera ao Felipe e, já que a mãe não acreditou no que ele disse, ótimo!
- Fui brincar na casa do Samuel.

- Quem é Samuel?

- Um colega

- Na próxima vez, quando quiser ir â casa de um colega tem que pedir permissão.

- Ah! E se um desconhecido lhe oferecer carona, não aceite, pois na vida real as coisas nem sempre acabam bem, como na sua história.

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