Colunistas

Publicado: Segunda-feira, 27 de abril de 2009

O Sannyasin

Um dia meu Mestre de Ásanas me levou à floresta para conhecer um velho saddhu que havia renunciado a tudo: família, casta, nome, propriedades, roupas, tudo. Sua única posse era uma cuia que utilizava para comer e beber água. Imagine uma pessoa que só possui uma cuia e nada lhe faz falta!
 
Como ele falava inglês, conversamos bastante. Parecia ser um homem muito culto. Era um verdadeiro sábio. Em dado momento, percebi que no calor da conversa ele passava a frente da velocidade com que eu conseguia colocar as idéias em palavras e começara a responder minhas perguntas antes que as formulasse. Estava simplesmente lendo meus pensamentos.
 
Aproveitei para consultá-lo sobre os siddhis que eu havia despertado, pois no Brasil os professores da "yóga" tinham tanto medo disso que o assunto virou tabu e não se podia, sequer, mencionar o assunto sem gerar violentas reações de protesto. Uns porque achavam perigoso. Outros declaravam que era censurável desenvolver as paranormalidades.
 
‑ Isso é meramente uma questão de opinião. Há Mestres que são a favor dos siddhis porque estes facilitam a vida do praticante e ainda lhe dão a convicção de que está obtendo progressos com a sua prática de Yôga. Outros Mestres são contra porque opinam que tais progressos observáveis ocorrem só na área do psiquismo e que as verdadeiras conquistas estão muito além desses planos medianos.
 
Alguns Mestres ‑ continuou ‑ são a favor porque nem se detêm a analisar a questão e encaram os siddhis com muita naturalidade. Pode haver, afinal, milagre maior do que o fenômeno da digestão, da reprodução, da vida em si? Diante de tais milagres da natureza, que notoriedade pode ter uma simples viagem astral? Outros são contra porque os siddhis dispersam o interesse e a concentração dos discípulos para simples folguedos tais como levitar ou materializar objetos. Tais poderes são tão fúteis comparados com o samádhi, que muitos yôgis não lhes dão importância alguma, embora o leigo fique fascinado com a idéia. Outros despertam o siddhi da palavra, o do olhar, o da criatividade, o do carisma, que são mais importantes e produtivos do que levitar. E concluiu:
 
‑ Se você quiser usar os seus siddhis, use-os. Mas jamais fale deles. Se alguém duvidar de que você os tenha e o desafiar a demonstrá-los, diga a essa pessoa que ela pense o que quiser e que você não perde tempo com tais bobagens. É o que são: bobagens, úteis e fúteis a um só tempo.
 
Terminada a conversa, agradeci:
 
‑ Obrigado, sannyasin.
 
Mas ele me corrigiu categoricamente:
 
‑ Não sou sannyasin.
 
‑ Pensei que fosse, pois vejo que o senhor fez voto de sannyasa (renúncia) e desapegou-se de tudo...
 
Foi quando ele me deu a resposta contundente:
 
‑ De tudo não. Eu ainda tenho o meu ego.
 
 Foi mesmo uma lição para aqueles pretensiosos ou iludidos que não renunciaram a nada e saem por aí alardeando-se sannyasins, só porque se converteram a alguma seita exótica.
 
Este artigo é um extrato do livro Yôga: Mitos e Verdades, do Mestre DeRose.
Correspondência para o autor: Mestre DeRose
Al. Jaú, 2000 - 01420-002 São Paulo SP
Comentários