Colunistas

Publicado: Sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O Samba do Ouro Verde

Crédito: Divulgação O Samba do Ouro Verde
A Roda de Samba do Ouro Verde

9 de Julho, 48. Um dos endereços mais famosos do bairro do Marapé. Todos os sábados, a partir das 19 horas, religiosamente, um grupo de amigos nascidos e crescidos no bairro se juntam para tocar samba. Samba de todas as formas e maneiras. Desde os clássicos ao partido-alto.

A sede é de um tradicional clube de várzea chamado Ouro Verde FC. O Ouro Verde mostrava o seu talento no futebol desde a década de 1940, quando nem todas as ruas do bairro do Marapé tinham sequer pavimentação. Um bairro de imigrantes açorianos, trabalhadores das docas, estivadores... A classe trabalhadora era a força daquele pedaço da cidade que se encostava nos cantos dos morros.

O Marapé, até mesmo quando me mudei para a Vila Belmiro, em 1980, tinha a fama de ser um bairro barra-pesada. O que é uma grande mentira. Tudo bem, tinha lá um ou outro entreveiro. Mas o pessoal era da rua, festeiro, e gostavam de se reunir para tocar música, beber cerveja, comer churrasco. 

Tanto que há quase 50 anos atrás, Seu Lili encabeçava um grupo de lenheiros rápidos no gatilho, pessoas ligadas ao mundo do samba na cidade. Os mais virtuosos músicos de samba se encontravam ali. Seu filho, o mestre Zinho, cresceu no meio daquela tertúlia e não tardou a empunhar o cavaquinho com garbo e talento.

E os amigos do Zinho foram crescendo juntos, ao longo da história do Marapé. Há 25 anos atrás, resolveram voltar ao bom e velho Ouro Verde FC, que com o declínio da várzea santista, dedicou-se mais a malha, apesar de não ter nunca abandonado o futebol, para tocar seu samba, dessa vez, com endereço fixo.

Hoje, Zinho, Pio, Mavi, Mário, Renê Ruas, Roberto, Pytisca, Jair Tinoco, Fábio, Carioca e Flávio Ruas, comemoram o Jubileu de Prata, sempre no mesmo endereço, sempre aos sábados, numa frequência e pontualidade de dar inveja a muito inglês por aí.

Muita gente boa já passou pela Roda de Samba do Ouro Verde. Visitas ilustres como a de Krishna Das e do jornalista Luis Nassif. Comecei a frequentar o local por conta do meu irmão, admirador de samba e bom de balada. Na época, a Roda contava com figuras ilustres com o Nelson Miller (conhecido pelo apelido avestruz, apelido esse que ele não gostava muito) e pelo Roger (Vagabundo é Vagabundo).

Hoje eles estão no Regional do Céu, com certeza tão felizes quanto suas passagens por aqui, vendo a eterna festa desses amantes do samba que arrastam um público de número bem considerável todo sábado à noite.

Como as apresentações são de graça, muita gente que gosta de samba sempre acaba batendo ponto na 9 de Julho, 48. Nem preciso dizer que são anos onde uma multidão dentro e na porta do Ouro Verde FC se reúne para beber cerveja, encontrar com os amigos e ouvir o bom e velho samba, executado com paixão, amor e carinho pelos magistrais integrantes dessa instituição da cidade.

Tudo bem que sempre acaba sobrando algum rebuliço com a vizinhança tamanha quantidade de pessoas que aparecem lá todos os sábados. Mas os próprios moradores também sabem que o samba não morre. Enquanto existir o pandeiro, o surdo, o cavaco e o tamborim, as noites do Marapé continuarão na mesma batida idealizada por Seu Lili.

E vem aí mais um sábado. E mais uma vez, a Roda de Samba do Ouro Verde.

Comentários