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Publicado: Segunda-feira, 3 de maio de 2004

O Reino de Deus

O Reino de Deus, seus valores, construção entre os homens e na sociedade, é dos temas mais trabalhados e belos nos quatro Evangelhos. A pregação do Nazareno nos três últimos anos de sua vida pública, em que se apresentou como Mestre, Caminho, Verdade e Vida, está centrada na proclamação da chegada do Reino de Deus. As parábolas do Reino, os valores que o distinguem entre os homens retornam, com freqüência, em sua pregação pelos caminhos e cidades da Palestina. Continuam ecoando no mundo pela pregação da Igreja, seus Pastores, filhos e filhas.
   
   "Chegou a vós o Reino de Deus, o Reino de Deus já está entre vós e dentro de vós" são expressões que se repetem no início da vida pública de Cristo. É dos temas que mais freqüentemente retornam nas pregações do Filho de Deus. Certamente, a afirmação do Mestre refere-se somente ao começo do Reino de Deus nos corações dos homens e mulheres do seu tempo e das gerações futuras. O Reino de Deus somente irá consumar-se quando Cristo retornar como juiz inapelável para colocar um ponto final na história humana. Entre o ontem e o hoje, o aqui, o agora e o amanhã, ainda poderão correr séculos e milênios. Somente Deus Pai, afirmou Jesus, sabe quando se dará a parusia ou segundo advento de Cristo, momento em que o Reino de Deus será definitivo e perfeito.
   
   Cristo tornou-se o primeiro proclamador do Reino de Deus, o arauto que definiu o início e a amplitude, os valores e a consumação desse Reino. Sempre é oportuno lembrá-lo, até porque posicionamentos ideológicos como os do ex-franciscano Leonardo Boff, do conhecido irmão dominicano Frei Betto, além de outros teólogos e pastoralistas ligados à Teologia da Libertação que durante décadas prevaleceu no Brasil e na América, ousaram apresentar a ex-União Soviética e a Cuba de hoje, ditaduras marxistas e atéias, como espaços modelares do Reino de Deus na história...
   
   A referência a tais posições não significa, por outro lado, que o Reino de Deus coincida com as nações do Ocidente liberal e capitalista. Na realidade a Igreja, dom de Cristo para a humanidade é, sem dúvida, o primeiro espaço do Reino de Deus. Nela se encontram com maior freqüência em inúmeros dos seus filhos, os valores que o caracterizam. Em certo sentido, porém, pode-se afrimar que o Reino de Deus também já chegou e tem o seu espaço no coração de toda pessoa, família e grupo nos quais se encontram pelo menos alguns dos valores do Reino de Deus.
   
   Sem dúvida, há alguns excelentes livros escritos sobre o Reino de Deus e seus valores. Poucos leitores têm acesso aos mesmos. Antecipo desde já a importância do livro "A Cidade de Deus" e "A Cidade dos Homens" do grande Agostinho de Hipona. É obra clássica, traduzida nas mais importantes línguas modernas, em que o genial e santo bispo do século V contrapõe a cidade marcada pelos valores do Reino de Deus, à cidade em que predominam desvalores em contradição com os do Reino.
   
   Foi, certamente, refletindo sobre as numerosas parábolas do Reino de Deus e, em especial os seus valores, que o venerando Papa João Paulo II decidiu-se, anos atrás, a incluir na tradicional devoção do Rosário da Mãe de Deus, os "mistérios da luz", acrescentados aos mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos da vida e paixão, morte e ressurreição de Cristo. Todos os cristãos temos, a partir dessa inesperada mas importante decisão de alto sentido espiritual, do atual Sucessor de Pedro, a oportunidade de refletir e orar sobre o Reino de Deus, lutar por seus valores e exigências, empenhar-nos por sua instauração.
   
   Mais adiante espero, se Deus permitir, poder dedicar alguns artigos às belíssimas parábolas do Reino, aos principais valores que o caracterizam e, também, aos desvalores que se contrapõem aos mesmos. Aos Pastores da Igreja, aos seus filhos e filhas, compete a responsabilidade da proclamação, construção e dilatação dos espaços do Reino de Deus em todo homem e mulher, na sociedade em que vivem. Felizmente, são inumeráveis, em todos os continentes e países, também em nosso Brasil, os arautos do Reino e seus valores ainda que em não poucos casos esse empenho lhes tenha custado calúnias e incompreensões, processos e até mesmo o martírio.
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