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Publicado: Terça-feira, 25 de novembro de 2008

O que seria da indústria do antivírus sem o vírus?

O que seria da indústria do antivírus sem o vírus?
Os crimes virtuais movimentaram U$ 276 milhões
Quem não se lembra da famosa cena do filme O Garoto, de Charles Chaplin, que na história se tornou vidraceiro, onde um menino contratado pelo vagabundo atira pedras nas vidraças das lojas e logo a seguir, "por coincidência" o profissional passa no local para vender seus serviços? Pois o filme pode ser bem antigo, mas o conceito não. Ele apenas se atualizou e agora pode ser aplicado a tempos mais modernos. Desconfio até que se aplica às empresas que comercializam antivírus. Afinal, o que aconteceria com elas se não existissem hackers para contaminar os computadores?
 
Vamos dizer que um dia os meninos travessos cresceram e, arrependidos das estripulias tecnológicas, resolveram abandonar a diversão para se tornar gente séria. Sob o sério risco do assistir à falência do negócio, seria preciso que uma nova geração de pilantrinhas informáticos se interessasse em produzir novos vírus para evitar que corporações como Symantec, McFee, CA, Panda, entre outros, não fechassem as portas de vez. Ou seja, há aqui uma inversão estranha: é como o fabricante de cadeados e cofres se tornar dependente da existência do ladrão. E que, num rasgo de inteligência, faz chantagem e diz que se recusa a se manter na marginalidade se não for subsidiado pela industria que vive às suas custas. Não seria engraçado?
 
Pela mesma lógica, a sorte destas empresas que dependem dos hackers é que surgiram os crimes virtuais, que hoje movimentaram em um ano, segundo a Symantec, 276 milhões de dólares. Mas com potencial para se multiplicar mais de 25 vezes, até atingir 7 bilhões de dólares, informou a empresa. É muito dinheiro de um business sério e estruturado para deixar o assunto só na mão de amadores. Simples assim: sem os engraçadinhos desocupados da internet ou ladrões bem preparados tecnicamente, não há negócio.
 
Existe o maior interesse da industria de antivírus não só em estimular, como eventualmente até treinar secretamente esta gente para que mantenha um mínimo de sofisticação e inteligência – e com isto dar margem à produção de antídotos à altura. Pois hoje em dia não basta apenas ser marginal. É preciso também ser cada dia mais criativo e ousado para alavancar o desenvolvimento de novos e caros softwares e recursos que evitem os estragos produzidos. Curioso ninguém falar nisto. Será que é só paranóia da minha parte?
 
publicado também no blog de Fabio Steinberg, Confissões de um Consumidor da Revista Info online
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