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Publicado: Sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O Príncipe da Paz

Preparando o Natal do Senhor, a Igreja apresenta Cristo como o Príncipe da Paz, um dos títulos mais belos que há na Sagrada Escritura em relação ao Messias prometido.

A expressão é de autoria do Profeta Isaías, considerado o maior dos profetas do Antigo Testamento, cujas previsões se realizaram admiravelmente.
 
Isaías viveu cerca de 700 anos antes de Cristo, era de Jerusalém, provavelmente de família aristocrática e demonstra em seus escritos, muito trânsito entre os reis e governantes. Exerceu seu ministério de Profeta por mais de 50 anos e, por isso, o que se encontra na Bíblia é apenas uma pequena parte de suas pregações.
 
Ele viveu em tempos difíceis para o povo de Israel, quando predominava a dominação estrangeira, a guerra e a violência. Isaías se torna, então, o Profeta da Esperança, anunciando com objetividade, clareza e determinação a chegada do Messias, proclamando que “uma Virgem conceberá, e dará à luzumfilho e o seunome será Emanuel (que significa Deusconosco)” (Is 7,14).
 
A liturgia do Natal canta o pensamento de Isaías, com os cinco títulos dados ao Salvador, todos relacionados à paz: “Ummenino nasceu paranós, e umfilhonos foi dado e foi posto o principadosobre o seuombro; ele será chamado Admirável, Conselheiro, Deusforte, Pai do séculofuturo, Príncipe da Paz; o seuimpério se estenderá cadavezmais e haverá pazsemfim”(Is 9,6).
 
O Messias vem realizar o sonho de toda pessoa humana: viver em paz. A paz é um dom de Deus, mas como todo dom, deve ser acolhida pelas pessoas humanas. Cristo, nascido em Belém é saudado pelos anjos, segundo a narrativa de Lucas, com o canto aos pastores: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade” (Lc 2,14).
 
O Povo de Deus sempre sonhou com a paz e anunciou a paz. Os profetas protestam continuamente contra a violência (cf. Jr 20,8) e até anunciam castigos de Deus para os que usam de violência (cf. Jr 6,6-8; Ez 7,10-11.22.27; Hab 2,17). O salmo 91 (92), sempre procurado como proteção divina, é uma oração eloqüente que pede paz e anuncia Deus como refúgio, fortaleza, sombra, morada, couraça, abrigo e salvação.
 
A saudação principal do povo de Israel sempre foi e continua sendo “Shalom”, expressão forte que significa paz positiva, completa, fruto do amor e da concórdia, dom de Deus. A capital do povo da promissão foi e continua sendo Jerusalém, cujo nome significa “cidade da paz”. Nela, o Senhor Jesus deu sua vida pela humanidade.
 
Príncipe da Paz, Jesus nasce em Belém e é reclinado em uma manjedoura, num ambiente de paz ecológica, mas, ao mesmo tempo, excluído da cidade “pornãoterlugar na hospedaria” (cf. Lc 2,6). Ele viverá continuamente em perigo, sob a ameaça iminente da violência. Mateus narra a perseguição de Herodes já nos primeiros dias do menino que tem que ser amparado pelos pais em fuga para o Egito (cf. Mt 2,13-18).
 
Quando inicia sua vida pública, é expulso da sinagoga pelos judeus que desejam precipitá-lo em um precipício (Lc 4,23-30). Foi sempre vítima de grupos que quiseram prendê-lo, afastá-lo, condená-lo. Foi traído, preso, julgado e executado em menos de 18 horas, o que feria o Direito Romano e as tradições do povo de Israel.
 
Num processo de julgamento violento em que é torturado com flagelos, é esbofeteado, coroado de espinhos, humilhado, crucificado e morto, não abriu a boca a não ser para dizer palavras de paz, cujo ponto máximo se dá com a oração “Pai, perdoa-lhes, poiselesnão sabem o que fazem” (Lc 23,34). Às vésperas dessa tragédia histórica, festival de injustiças e clamorosa violência contra um inocente, sacrílega investida contra um Deus, ele já havia dado aos discípulos o resumo de todos os seus ensinamentos: “O meumandamento é este: amai-vos uns aos outroscomoeuvos amei” (Jo 15,12). Como testamento, anunciou aos mesmos discípulos: “Deixo-vos a minhapaz, dou-vos a minhapaz. Não vo-la dou como a dá o mundo.
 
Não se perturbe o vossocoração, nem se atemorize” (Jo 14,25).

Cristo, o Príncipe da Paz, convida os seres humanos para seguí-lo na busca da paz que já deve ser construída aqui neste mundo e terá realização plena e indefectível na eternidade. Não esconde, contudo, a exigência da opção: “Quem quiser sermeudiscípulos, renuncie-se a simesmo, tome a suacruzcadadia e me siga”(Lc 9,23).
 
Vê-se que, para o Filho de Deus, o necessário para se construir um mundo de paz é a decisão de colocar um ponto final no círculo da violência, não a respondendo com outra violência. A Paz de Cristo não é fruto da imposição das armas, nem do medo, nem da ameaça, mas é resultado de uma opção pela fraternidade, a solidariedade, a partilha, o estabelecimento da justiça e do amor.
 
Ter um Feliz Natal significa ter paz, semear a paz, construir a paz, proclamar a paz duradoura, fruto do amor de Deus nos corações.
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