Publicado: Segunda-feira, 22 de janeiro de 2007
O Poço das Ariranhas
Há alguns anos um sargento, do exército se não me engano, passeando no Zoológico de Brasília, com a família, viu quando um menino caiu no poço das ariranhas, animais parecidos com focas. Mansos, normalmente, esses animais tornam-se agressivos quando se sentem atacados. E foi o que aconteceu!
O Sargento não teve dúvidas, vendo o semelhante em perigo, ainda mais uma criança, entrou no poço das ariranhas e salvou o menino. Porém não teve a mesma sorte, foi atacado pelos animais e sofreu sérios ferimentos.
O veneno de defesa das ariranhas é letal, pois não temos, ainda, antibióticos para combatê-los, e os ferimentos foram muitos.
Em poucos dias o sargento morreu. Antes, porém, foi perguntado por alguém sobre o porquê de ter feito isso. Então, respondeu: “fiz, não sabia do risco, mas o faria novamente. O que vi, naquele momento, foi a necessidade de se salvar uma vida, não havia tempo para pensar se os animais eram venenosos ou não, se havia riscos maiores ou não. Tinha que ficar no foco principal, só isso! E o foco principal era a vida de um semelhante, o importante naquele momento era a manutenção da vida!”
Muitos de nós conhece a famosa frase “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Pois bem, este é exemplo prático disso. É o exemplo de “sair de si mesmo”, de ser grato à existência, ser grato pelo novo dia que sempre nasce.
Tantas e tantas vezes vemos companheiros e companheiras de viagem em perigo, algumas vezes com risco de vida, e ficamos nos perguntando o “quê” fazer, enquanto o problema se agrava. Outras tantas, ficamos nos perguntando se vale a pena, ficamos avaliando os resultados, analisando se iremos ganhar ou perder...
O nosso sargento nos dá uma lição de amor infinito, um exemplo de bondade natural, nos mostrando que tudo, absolutamente tudo, vale a pena, quando a alma não é pequena. “Entrar no poço das ariranhas era apenas um detalhe”, o importante é que uma vida fosse salva.
Em nossa jornada neste planeta azul, não raras vezes somos convidados a “entrar no poço das ariranhas”, e não o fazemos. Não o fazemos por sermos calculistas, materialistas ao extremo, egoístas. Assim, deixamos companheiros e companheiras de jornada sucumbirem, e ficamos assistindo.
Existem muitas teorias cristãs, e não cristãs, espiritualistas e materialistas, sobre a amizade, a solidariedade, o amor verdadeiro.
Todos nós estamos cheios de teorias, de soluções pré-fabricadas, soluções lidas em livros dos mais diferentes tipos, no “orkut”, no “msn”, que, nas páginas, dão respostas para todos os males. Mas e a prática? Onde está a prática do amor solidário, do amor verdadeiro, daquele amor que nos faz mergulhar de cabeça no ”poço das ariranhas” para resgatarmos uma vida?
Viver em um mundo de maravilhas, com pessoas que nos dão só alegrias, é muito fácil. E dar a mão aos companheiros perdidos nos vários poços da vida? Estamos dispostos a correr riscos?
Parece que nosso querido sargento de Brasília nos dá o exemplo prático:
“O que importa de fato é a manutenção da vida!” O poço das ariranhas e apenas um detalhe!
Acho que neste, ainda, início de ano, vale a pena refletir sobre isso.
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