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Publicado: Segunda-feira, 4 de outubro de 2004

O mundo mais humano de Lula

Dia 22 de setembro, “O Estado de São Paulo” ofereceu aos seus leitores, a íntegra do depoimento feito pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na abertura de mais uma Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas. Além de tradicional, sem dúvida é uma honra para os Presidentes do Brasil terem o privilégio de abrir essas Assembléias anuais, de que participam os quase 200 Chefes de Estado dos países membros.

Recomendo a todos, com insistência, a leitura desse histórico pronunciamento transcrito, em boa hora, na página A-5 do “Estadão”. Interessa pouco saber quem redigiu o texto. É certo que pronunciando-o, o Presidente Lula o fez seu, falando por todos os brasileiros. Foi ouvido com grande atenção e interesse por líderes como Bush e Chirac, pelos governantes da América, África, Ásia, Europa e Oceania.

Li e reli o texto, e conhecendo o pensamento cristão sobre a dignidade do homem e da mulher, sobre os direitos dos povos e os valores proclamados nos Evangelhos, pessoalmente subscrevo o que foi dito pelo Presidente Lula. Impressiona que um ex-metalúrgico e migrante do nordeste brasileiro, apenas com o curso primário, mas experiente na vida, tenha tido a coragem de apontar aos principais governantes dos povos, uma defesa tão bem elaborada do humanismo.

Permito-me, para facilitar e comprovar o que venho escrevendo, transcrever algumas das frases mais destacadas do discurso de nosso Presidente: “A humanidade está perdendo a luta pela paz. Só os valores do humanismo, praticados com lucidez e determinação, podem deter a barbárie. A solução exige dos povos e dos seus líderes, um novo senso de responsabilidade individual e coletiva... O caminho da paz duradoura passa, necessariamente, por uma nova ordem internacional que garanta oportunidades reais de progresso econômico e social para todos os países. Exige por isso mesmo, a reforma do modelo de desenvolvimento global e a existência de instituições internacionais efetivamente democráticas, baseadas no multilateralismo, no reconhecimento dos direitos e aspirações de todos os povos...”

Nos quase vinte minutos que ocupou em uma das mais altas tribunas do mundo, de onde falaram, também, os Papas Paulo VI e João Paulo II, o Presidente Lula desceu a reflexões e críticas à miséria e à fome, à política econômico-financeira do FMI, aos graves problemas de milhões e milhões de homens e mulheres dos povos em desenvolvimento, à urgência de uma colaboração efetiva das nações desenvolvidas e superafluentes da Europa, América do Norte e Ásia. Reafirmou o direito de unirem as suas economias, os países do Mercosul, como já o fizeram os da União Européia e da América do Norte, Estados Unidos, Canadá e México.

Lamentando a pobreza de mais de 500 milhões de homens e mulheres, que precisa ser superada quanto antes, porque beira à miséria e à falta do mais essencial para as suas vidas, o Presidente Lula refere-se aos esforços e empenho do Brasil e outras nações, apontando Metas para o Milênio em que nos encontramos. Urge, afirma ele, superar quanto antes o terrorismo, os graves conflitos do Oriente Médio entre judeus, árabes e palestinos, as lutas tribais das nações negras da África, a miséria do Haiti e de outros povos sofridos, colocados à margem da civilização e dos serviços de que a humanidade dispõe nos dias de hoje.

Recordando o empenho do Brasil na formação da Comunidade Sul-Americana, dos Acordos conseguidos em encontros da Organização Mundial do Comércio, na luta contra o HIV-AIDS, o Presidente Lula insiste na urgência de uma reforma na organização da própria ONU e, especialmente, do seu Conselho de Segurança, organismo que deve ser ampliado, valorizado e respeitado como o foro mais elevado do encontro dos povos, da superação dos atuais e futuros conflitos.

Vale a pena destacar no pronunciamento do Presidente Lula, mais o seguinte: “O que distingue civilização de barbárie é a arquitetura política que promove a mudança pacífica, faz avançar a economia e a vida social pelo consenso democrático. Se fracassarmos contra a pobreza e a fome, o que mais poderá nos unir? Creio que é o momento de dizer, com toda clareza, que a retomada do desenvolvimento justo e sustentável requer uma mudança importante nos fluxos de financiamento dos organismos multilaterais. Esses organismos foram criados para encontrar soluções mas, às vezes, por excessiva rigidez, tornam-se parte do problema. Trata-se de ajustar-lhes o foco para o desenvolvimento, resgatando seu objetivo natural”.

Como fez na finalização do discurso de sua posse como novo Presidente do Brasil, em princípio de 2003, o Presidente Lula terminou seu discurso de abertura desta Assembléia da ONU fazendo, discreta mas claramente, uma referência à inspirada palavra do profeta Isaías: “A paz só virá como fruto da justiça”. Assim terminou ele o seu notável pronunciamento.

Se no plano interno e na política internacional, na segunda metade do seu mandato, o Presidente Lula e os seus Ministros, contando com o apoio da maioria do Senado e Câmara Federal, dos Governadores de Estados, independentemente de suas opções ideológicas e programáticas, tiverem a sabedoria de unir-se, empenhando-se nessa linha humanista e personalista mereceremos, com toda certeza, o aplauso dos demais povos integrados providencialmente na ONU desde 1945.

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