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Publicado: Segunda-feira, 17 de setembro de 2018

O mistério das facadas em Juiz de Fora

Adélio veio atravessando a multidão e já estava a cinco passos do candidato a presidente. Seu coração bateu mais forte, a mão direita pressionando a faca enrolada em um jornal. A hora havia chegado.
 Três meses antes, Adélio esteve em Florianópolis, passando por treinamento de tiro que custou R$ 700 na mesma escola frequentada pelos filhos do candidato. Queria estar próximo da família pela qual nutria um ódio mortal. Para ele, Bolsonaro era como Hitler e Mussolini, nazista e fascista e representava uma ameaça a milhões de brasileiros, caso fosse eleito presidente. Adélio também compareceu a outros comícios do candidato, para observar em silêncio a sua vítima e os policiais que faziam a sua proteção.
Tiro ou facada? A dúvida ficou na cabeça de Adélio. A faca ele sabia manejar melhor que o revólver e o prazer de enfiá-la no peito do ex-militar era o coroamento de sua missão. Mas, para isso teria que estar muito próximo da vítima, o que não era problema para ele, acostumado a participar de manifestações e protestos políticos. Como militante do PSOL durante sete anos aprendera as formas de radicalismo e convivera com líderes ousados e violentos. Sonhava ser candidato e cumprir uma missão redentora na política.
Adélio notou que os policiais e os guarda-costas estavam posicionados atrás e ao lado do candidato, deixando a frente livre, uma vez que ele estava sendo carregado por militantes na praça de Juiz de Fora. Colocou-se então de frente, infiltrando-se através dos correligionários que acompanhavam o presidenciável. Um golpe de faca, desferido de baixo para cima com a vítima suspensa no ar, seria mortal.
Adélio sabia que corria o risco de ser linchado pela multidão após cometer o crime. Mas, contava com a polícia para salvá-lo do linchamento. Assim, começou a criar as narrativas para o dia do interrogatório que se seguiria ao atentado.
. “Agi sozinho, a mando de Deus” afirmaria dias depois na prisão. Ele fora auxiliar de pastor evangélico e também consagrado pastor em Montes Claros, sua cidade natal. Mas, não se lembrou se Deus mandava esfaquear os infiéis ou ter piedade deles.
Duas semanas antes de cumprir a missão para a qual acreditava ter sido ungido, Adélio viajou de Montes Claros a Juiz de Fora. Estava desempregado, mas conseguiu financiar a viagem e a estadia na pousada em Juiz de Fora. Levava consigo um notebook e quatro celulares, dois deles smartphones. Sabia que a polícia iria periciar os aparelhos, por isso preferiu frequentar uma lan house na cidade, tomando o cuidado de nunca usar o mesmo computador para não ter suas mensagens identificadas.
Os brados de apoio e os aplausos ao candidato facilitaram a aproximação de Adélio, que estendendo o braço enfiou a faca de 18 cm. na barriga do candidato que se vergou de dor. O sangue nas mãos do agressor era a prova da missão cumprida. Agora bastava esperar a polícia salva-lo da multidão enfurecida.
Filho de um gari e de uma varredora de rua, o desempregado Adélio não podia contar com os pais para o seu sustento, muito menos para seu projeto criminoso. E os cinco irmãos com os quais não tinha contato não iriam ajuda-lo. Precisava de alguém interessado em custear sua missão. Seu perfil baixo era o ideal para um atentado sem deixar rastros e sua atividade errática com vinte empregos diferentes em várias cidades poderia até fazê-lo passar por demente. Um dia após sua prisão recebeu ajuda de quatro advogados que alegaram ter recebido os honorários para defender o criminoso confesso em dinheiro vivo, entregue por um doador anônimo dentro de um envelope sem marcas em um local não revelado. E imediatamente os advogados alegaram insanidade mental de Adélio.
O mistério das facadas em Juiz de Fora continua no ar. Disseram até que foi tudo armação, uma farsa para impulsionar a campanha do candidato a presidente. Teria Adélio agido sozinho, como declarou à polícia? Teria sido contratado por uma facção criminosa com medo dos planos do candidato de combater o crime? Seria Adélio um pau mandado de alguma organização política interessada em eliminar o líder das pesquisas de intenção de voto?
A Polícia Federal está investigando o caso e promete resolver o mistério. Em todo caso, conviria chamar para esta missão alguém do porte de Hercule Poirot, Sherlock Holmes ou, melhor ainda, o pessoal do CSI – Crime Scene Investigation.

 

 


 

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