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Publicado: Sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

O menino e uma galinha - Parte I

Crédito: Internet O menino e uma galinha - Parte I
Subjetividade

Há algumas semanas atrás, uma amiga muito próxima me contou uma história sobre uma galinha e um menino, que me chamou a atenção e, que durante cinco dias seguidos me fez refletir, refletir e refletir.

Simplesmente não conseguia parar de pensar sobre aquele acontecimento e sobre os seres vivos envolvidos e o quanto discutível, controverso e polêmico pode ser o entendimento desse fato para a maioria das pessoas, hoje em dia.

Porém, com uma visão um tanto imparcial – mas não muito (a imparcialidade absoluta não existe) - vou tentar contar a você sobre esse episódio que, a meu ver, deve ser mais frequente do que eu e você podemos imaginar.

Por meio desse artigo, somente aspiro que você reflita. Se está certo ou errado, se é verdade ou mentira, “se”, “se” – deixe isso de lado, deixe os julgamentos de lado – se coloque no lugar de cada um dos personagens e repense pelo olhar de cada um.

Essa minha amiga mora em uma pequena chácara no interior de São Paulo, onde há muito espaço para alguns animais como pássaros (soltos), galinhas e outros pequenos animais. Ela sempre me relata sobre as fotos que tira dos pica-paus e maritacas, os quais parecem ter um ciclo integral de crescimento, desenvolvimento e procriação na própria área.

Por vezes, até relata sobre os sons que os filhotes de passarinho fazem quando estão com fome e chamam pelos pais, chega a ser interessante como ela percebe os movimentos que os pássaros fazem aos cuidar dos filhotes ou mesmo brigarem por comida em algumas épocas. Dá para notar quando existe algo diferente entre as aves ou os outros animais dentro da chácara: um piar diferente, uma movimentação díspar ou um latido em um momento anormal.

Mês após mês, um jardineiro trabalha cortando a grama e organizando a horta de sua chácara dois a três dias por mês, sempre com um zelo exemplar – por esse motivo ele era adorado por todos naquele lugar. A mãe costumava dizer que confiava “de olhos fechados” naquele senhor, simples, honesto e muito, mas muito trabalhador.

Sempre que alguém estivesse fazendo um bolo e o jardineiro estava trabalhando, ele era convidado a comer ou levar um pedaço de bolo para a sua casa para tomar com café ou suco natural – o qual o mesmo tanto gostava.

Era quando alguém parava para servi-lo uma jarra de água gelada que, ele tirava uma pausa e começava a contar alguma história recente da sua vida ou da época de quando era “mais moço” junto aos seus pais.

Essa minha amiga dizia que gostava de ouvir as histórias que o jardineiro relatava durante horas, porque acha interessante as formas de se viver, se conversar e agir diante a diferentes pessoas e contextos – ela é uma senhora um tanto curiosa pela maioria das coisas.

Então, há cerca de um mês, quando a reencontrei para uma conversa em um café na cidade vizinha, ela me relatou esse episódio que vou escrever a você e o qual me deixou – como dizem por aí – “cabreira”. Eu digo “cabreira” porque enquanto ela me relatava, foram sentimentos de desconfiança com intriga, compaixão com empatia e mais um pouquinho de tudo mais que eu senti ao longo do relato.

E, acredito que por esse motivo, eu precisava escrever: para poder elaborar melhor sobre esse assunto e sobre as formas de ver a história pelos diversos ângulos, como a visão “ampla” que temos quando observamos uma cidade, sobrevoando dentro de um balão, olhando com mais vagareza todos os possíveis pontos da cidade.

Vou chamar essa minha amiga de Ana – porque não quero aqui divulgar ou abrir a vida de alguém ou deixá-la numa situação desagradável. Contudo, ela leu e aprovou a publicação desse texto, antes de ser publicado.

Ana começou me dizendo que há algumas semanas - em um dia ensolarado - o tal jardineiro foi aparar a grama da sua pequena chácara pela parte da tarde e, levou junto, o seu filho de cerca de 10 anos.

O pequeno menino acompanhava o seu pai na época de férias, sempre que não tinha ninguém para ficar com ele em casa. E, assim o pequeno garoto ficava percorrendo pela chácara comendo frutas ou fazendo suas peripécias.

O avô de Ana já havia dito a ela que aquele pequeno garoto era um “pestinha”, pois já havia visto o garoto misturando tintas com verniz, tirando as coisas do lugar e mexendo nos armários próximos a uma área de recreação. Contudo, como Ana sabia o quanto os pais dela amavam aquele jardineiro, ela nunca quis se intrometer no assunto e também não procurava saber mais sobre o perfil do “pestinha”.

Ana tem, na sua pequena chácara, meia dúzia de galinhas, que ficam em sua pequena casinha ao fundo do terreno e são soltas durante o dia, quando está sol ou o dia está agradável. E, naquele dia, como de costume para não incomodar o jardineiro que estava trabalhando, Ana manteve as galinhas presas.

Ao fim da tarde, depois de ter trabalhado o dia dentro de casa, Ana foi tomar um banho e logo após, o seu avô chegou. Enquanto conversava com ele, Ana comentou que o jardineiro esteve cortando a grama pela parte da tarde, mas que já havia ido embora e que, naquele dia, trouxe o seu filho caçula.

Eles continuaram conversando por aproximadamente uma hora e, no momento de despedida do seu avô e meio que sem pensar, Ana falou que estava até com medo de ir até o galinheiro para alimentar as galinhas, com o pensamento em conexão com as peripécias do menino, filho do jardineiro.

Quando Ana não soltava as suas galinhas durante o dia, ela apenas ia até o galinheiro para verificar se estava tudo bem, alimentá-las ou trocar a água. Ela tem um carinho especial com os animais, “mesmo” sendo as suas tais galinhas garnizés.

Ana caminhou até o galinheiro, abriu a porta, observou as galinhas, olhou para o chão e então visualizou uma galinha semienterrada na terra, a qual, de acordo com Ana, não dava para ver a cabeça, nem o pescoço ou mesmo o lado direito do que seria o seu tronco e peito. Apenas era possível visualizar uma das patinhas da galinha (a esquerda) e parte do seu tronco esquerdo, todo o resto estava enterrado na areia, dentro do galinheiro.

Nessa primeira parte do texto, meu objetivo foi tentar contextualizar sobre a rotina de Ana e sobre aquele dia, para tentar colocar você, leitor, mais adentro da história, contando detalhes sobre os personagens e local onde ocorreu o episódio. Na segunda parte do artigo, vou explorar mais sobre os detalhes e questões a serem refletidas.

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