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Publicado: Domingo, 28 de agosto de 2011

O Medo

O Medo

Você não admite para os outros, mas está com medo. Anda com medo. Na hora tranqüila da cabeça no travesseiro ele aparece. Faz tempo. O resultado você conhece. É um sentimento meio difuso, estranho, que acompanha o seu sono, os sonhos, os seus passos e aperta o seu coração mesmo sem nenhum perigo imediato. Está tudo bem com você, e num instante ele está lá. É uma das doenças do nosso tempo. Um filho do Kali Yuga que conta com a nossa ajuda, já que estamos sempre dormindo acordados. Ele se transveste de várias formas como agitação, preocupação, ansiedade, nervosismo, tensão, pavor, fobia, etc. e é sempre algo que poderá acontecer, nada no momento. Você, ou melhor, o seu corpo está aqui e agora, e a sua mente está no futuro. Há um intervalo aí no meio, um espaço. Nele cresce a angústia. Você está identificado com a sua mente e perdeu o contato com a simplicidade e o poder do Agora.
Essa angústia será sua companhia constante. Sabe o porque? Se ela fosse apenas um fato comum que acontece na vida, você até poderia saber o que fazer mas ela é outra coisa, é apenas uma projeção mental. Não tem jeito lidar com a pré-ocupação, com o futuro. Quando você não está no Agora, quem está por trás do seu mental é o ego. Ele é um ser mimado, vulnerável, medroso e inseguro, mesmo que se finja de forte. Ele só vê ameaça em tudo. Está aí a raiz do medo.
A gente é como uma carruagem, com o dono, o cocheiro, o cavalo e a própria carruagem. Em outras palavras, o Eu verdadeiro, a mente, a emoção e o corpo., Pense bem: se esse “eu falso, o ego” que tomou o lugar do cocheiro da carruagem é medroso, e a emoção é a reação do corpo à mente, que mensagem o corpo está recebendo do ego, o falso eu interior construído pela mente? Perigo, perigo, estamos sendo ameaçados. E qual é a emoção gerada? Medo, é claro.
O medo parece ter muitas causas. Temos medo de perder, falhar, ser feridos, mas todos os medos podem se resumir a um só: o medo que o ego tem da morte. Para o ego, a morte está rondando. Quando estamos identificados com o ego substituindo a mente, o medo da morte afeta cada aspecto da nossa vida, mesmo que a gente conscientemente não se dê conta disso.
Quer um exemplo? Numa discussão corriqueira, porque eu tenho uma necessidade de estar certo e demonstrar que o outro está errado? Se descobrirmos que estamos errados, nosso ego dentro da mente sente que corre um risco de destruição. Então como o ego, você não pode errar. Errar é morrer. Os relacionamentos terminam por isso, as guerras acontecem por isso. Se os nossos líderes estivessem no Agora, não haveria guerras.
Agora imagine que eu consiga não me identificar com o ego na mente. O que acontece? A rigor, não faz a menor diferença para o nosso verdadeiro Eu Interior se eu estou certo ou errado.
Ter sempre razão é uma forma disfarçada de violência, e na hora em que você consegue ficar no Agora ela vai desaparecer. Dá perfeitamente para a gente dar a nossa opinião tranqüila e calma sobre qualquer assunto sem ser agressivo ou tentar ganhar a qualquer preço. Sem agressividade ou defesa. Se estivermos centrados no instante exato que se levanta o ego na discussão, o sentido do eu interior passa a fluir de um lugar profundo dentro de mim, não mais da minha mente contaminada pelo ego.
Faça sempre a pergunta para você: O que eu estou de fato defendendo? Depois de algumas vezes desse exercício, a gente começa a fluir e ganhar liberdade e espaço. Tente também o seguinte: “vou entrar nessa discussão e perder deliberadamente, mesmo “tendo razão, como sempre” e tentar usufruir do resultado, seja ele qual for”. O resultado vai ser...experimente você mesmo.
Como dizem os mestres ao trazer esse padrão à consciência, ao testemunhá-lo, você deixa de se identificar com ele. À luz da sua consciência, o padrão de inconsciência irá se dissolver rapidamente.
Esse é o fim de todos os argumentos e jogos de poder, tão prejudiciais aos relacionamentos, e sempre nos arrependemos deles depois da disputa. O poder sobre os outros é a fraqueza disfarçada de força. O Tai Chi faz exatamente isso: o bom lutador aguarda o golpe furioso do adversário e aproveitando-se da força dele, sem oposição, mas num gesto redondo de acolhimento o derruba e domina.
Se você se colocar no Agora, vai perceber que o poder de fato é interior, não está fora, não pede aprovação e aplauso, e está à sua disposição. Agora. O remédio está no Agora, pois nele não há futuro, não há preocupação. O único jeito de saber se é verdade, é começar a praticar...

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