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Publicado: Quinta-feira, 7 de abril de 2011

O impacto que causamos nos outros

O impacto que causamos nos outros
Você sabe ouvir?

Comunicação significa expressar-se e estar aberto a receber mensagens

Dizer tudo, ouvindo tudo.

Nesta semana tive a oportunidade de realizar mais uma oficina com um grupo de mulheres que já sofreu abusos severos, físicos, psicológicos e verbais, na cidade de Plymouth, estado de Indiana nos EUA. O tema do trabalho foi “Dar e receber feedback” e minha intenção foi não só mostrar a estas mulheres que uma comunicação saudável é possível entre as pessoas, mas também trazer à consciência do grupo o quanto todos nós, em diversos momentos do nosso dia, causamos algum tipo de impacto nas pessoas que estão ao nosso redor.

A questão é:sabemos exatamente a reação que causamos nos outros? Sabemos o que as pessoas sentem quando nos expressamos? Sabemos realmente ouvir o que outras pessoas têm a nos dizer? 100% das pessoas no grupo com o qual trabalhei disse não saber. Ao final da oficina, todas apresentaram um nível de consciência e entendimento melhor sobre a responsabilidade que todos temos em relação ao que dizemos aos outros, principalmente quando estas pessoas são entes queridos, amigos preciosos ou colegas de trabalho.

Comunicar-se significa expressar-se e ouvir; significa expressar-se e permitir que o outro se expresse também. Significa ouvir a si mesmo, ouvir a outra pessoa e frequentemente checar se o que está sendo dito e ouvido está correto.

Muitas dificuldades nos relacionamentos surgem pelo fato de não nos certificarmos de que realmente ouvimos o que nos estava sendo dito ou que fomos ouvidos plenamente pelos outros. Além disso, é possível perceber que o medo exerce um grande papel no ato da comunicação. Em 100% das oficinas que ministro, os participantes relatam que sentem medo do que os outros podem ou não pensar sobre o que eles têm a dizer; eles sentem medo do que querem dizer; sentem medo de falar muito ou de muito silêncio; medo de serem rejeitados ao se expressarem; sentem medo dos julgamentos.

Por que é tão difícil para os pais ouvirem seus adolescentes? A sensação que eu tenho é a de que a maioria dos pais pensa que têm que fazer alguma coisa, tomar alguma atitude, obter algum resultado, uma solução imediata quando seus filhos tentam lhes dizer alguma coisa. Quando na verdade, tudo o que nossos filhos querem é sentirem-se ouvidos. E todos nós temos o poder de escolher fazer uma guerra ou semear a paz. Podemos escolher somente ouvir e nos conectar com nossos filhos ou entrar em conflito com eles na busca de uma solução que nos agrade.

Julgamentos são expressões trágicas de necessidades frustradas. Sentir empatia pelo outro, por outro lado, significa ficar “grudado” nos sentimentos e necessidades do outro. Significa também colocar-se no lugar do outro. Ter empatia é a solução para relacionamentos de qualidade com nós mesmos e com os outros. É a empatia que cura, alivia, alimenta. Preste atenção nos seus sentimentos de tristeza, stress, solidão quando estas emoções tomarem conta de você... Será que eles surgem por não terem sido percebidos, ouvidos, entendidos e aceitos da maneira como você gostaria que tivessem sido? Quando sofremos pela perda de alguém que amamos, por uma separação ou o fracasso de um projeto e estamos sozinhos... é um inferno. Se nos sentimos conectados e temos a empatia de uma ou mais pessoas ou de nossa família, a situação pode ser bem diferente porque podemos compartilhar o que estamos vivenciando em um ambiente de compreensão e estima mútuos.

Jovens precisam e devem ser ouvidos. Podemos aprender muito com o que eles têm a nos dizer. Mas, o mais importante é termos a certeza de que quando nos expressamos, estamos causando um impacto positivo na vida de alguém e não o contrário. Precisamos nos certificar que quando nos expressamos, estamos fazendo com que a vida de outra pessoa possa ser mais feliz. E que futuramente, esta mesma pessoa possa fazer o mesmo.

Deixo aqui meus sentimentos de profunda tristeza pela tragédia que acaba de acontecer na escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro. Precisamos dar aos jovens a oportunidade de se expressarem livremente para que seus sentimentos, sejam estes quais forem, não venham à tona algum dia, de forma violenta contra crianças inocentes. 

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