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Publicado: Segunda-feira, 28 de maio de 2012

O humor na história de Itu

História também tem graça. Pincei dos muitos escritos do grande historiador ituano Francisco Nardy Filho, na coleção A Cidade de Itu, volumes de 1 a 6, 3ª. Edição, fatos engraçados da história de Itu que nem o mais experiente dos humoristas imaginaria.

Vamos a eles. Boa leitura.

Na era setecentista, em 1.782, a rainha D. Maria I, determinou que todas as Câmaras adotassem um livro no qual o vereador-segundo deveria anotar todos os fatos importantes ocorridos no ano. Seria um material valiosíssimo para qualquer historiador, porem na Câmara de Itu isso não funcionou. Pelo menos no ano de 1.785, pois o vereador-segundo daquele ano registrou apenas que em Cuiabá foi batizada uma criança cuja metade do corpo era branca e a outra preta. (Seria o primeiro corinthiano?). No ano de 1.787 também não funcionou, pois declara que "não descobriu notícia alguma". Já em 1,788 a única notícia foi uma grande enchente do rio Tietê. (Quantos livros ele preencheria num ano com as enchentes de hoje?).

O recenseamento na cidade de Itu, registrou em 1.777: 216 nascimentos e 191 falecimentos. (Ufa! Saldo de apenas 24 cidadãos num ano. Com esta miséria de gente, como será que conseguiriam construir aqui uma cidade? E olha que naquela época não tinham televisão.).

Igrejas & negócios. Emolumentos eclesiásticos em 1.777: missa cantada: 1$280; encomendação e acompanhamento de defunto, de qualquer estado e condição: sendo livre 640 réis, sendo escravo 320 réis; missa de corpo presente: 640 réis; certidão com teor: 320 réis, sem teor 160 réis; as ofertas de casamentos e batizados são livres; a pároco que percebesse côngrua, não podia cobrar conhecenças; o pároco de Itu percebia a côngrua anual de 50$000 e mais 23$985 para guizamentos e 5$000 para a fábrica, e de pé do altar 200$000 anuais tinha ainda o que lhe davam os paroquianos pelas Aleluias.

O periódico “Imprensa Ituana” em 26 de outubro de 1.886 traz os sete pecados mortais e as virtudes que lhe são opostas, da Província (de São Paulo), transcrito do “Amparense”, autoria de um sacerdote não identificado. São as seguintes: 1- Contra a soberba de Campinas, a humildade de Porto Feliz. 2- Contra a avareza de Itu, a liberalidade de São Paulo. 3- Contra a luxúria de Tatuí, a castidade de Jundiaí. 4- Contra a ira de Botucatu, a paciência de Itapetininga. 5- Contra a gula de Tietê, a temperança de Sorocaba. 6- Contra a inveja de Taubaté, a caridade de Lorena. 7- Contra a preguiça de São Roque, a diligência de Santos.

Os antigos ituanos dizem que a fama de avareza vem do hábito dos ituanos de comerem em gavetas, de modo a fechá-las rapidamente caso algum incauto vizinho adentrasse a casa sem aviso prévio. Eram chamados pelos vizinhos campineiros de comedores de gaveta, forretas e retrucavam dizendo que economizavam sempre para poder socorrer os campineiros em seus apertos financeiros.

Já a fama de preguiça de São Roque, fica por conta de uma missão religiosa que esteve na cidade para confessar 40 homens, e registrou que havia somente uma camisa para todos, que eles iam revezando na hora de se aproximar do confessionário. A inveja de Taubaté? De suas vizinhas, especialmente Campinas. A luxúria de Tatuí, deve ser porque em 26 de julho de 1.888, foi ali julgado e condenado um cidadão de nome Antonio Victor Modesto, polígamo, que mantinha cinco esposas vivas, uma em Curitiba, outra em Iguape, uma na Lapa, outra em Bragança e uma, é claro em Tatuí. Este cidadão inaugurou o turismo sexual.

Aconteceu ainda em Itu, que um histórico “mala” de nome Tristão, conhecido por aprontar todas, resolveu dar um tremendo susto no padre titular da vara ituana, de nome Fiúza. Para tanto, aproveitou-se de um momento quando o padre estava em sua casa absorto em suas leituras. Meteu a cabeça por dentro da janela e soltou um sonoro berro de cabra. Assustado, o padre Fiúza rogou-lhe uma praga: Hás de morrer berrando, seo malcriado. E não é que passados, dois ou três meses, Tristão caiu gravemente enfermo e veio a morrer ... berrando como uma cabra.

Conhecido por suas estrepolias, este “aprontão” do tamanho de Itu, era também um exímio ... ladrão de cavalos e gados, chegando ao requinte (para a época) de envolver as patas dos animais em panos antes de subtraí-los das estrebarias sem fazer ruídos e nem deixar rastros. Esse especialista em ludibriar à todos, inclusive a polícia, só não escapou da praga do padre Joaquim Manuel Fiúza.

Artigo escrito em 2011, parte integrante do livro Um Olhar sobre Itu, da Academia Ituana de Letras.

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