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Publicado: Sábado, 16 de junho de 2007

O Documento da Conferência de Aparecida

A Presidência da Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e Caribenho, reunida em Aparecida, em maio último, entregou ao Santo Padre Bento XVI, no dia 11 de junho, o Documento Final daquela assembléia. O Papa, em breve, deve aprová-lo e autorizar a sua publicação.
 
Pelo testemunho dos cardeais e bispos participantes, o texto deve representar um bom instrumento para novos caminhos pastorais na América Latina e no Caribe. Quando se diz ‘novos caminhos’, não significa que sejam totalmente outros, pois isto seria irreal. Nada é totalmente novo. Ele relembra opções, reforça princípios inalienáveis, relembra métodos que são positivos e que já são aplicados há anos. Mas é novo porque aponta novas idéias, analisa de forma mais perfeita a realidade, fugindo de defeitos do passado como o fixismo em determinados aspectos e o perigo das ideologias. É novo também em seu espírito, pois aponta uma espiritualidade renovada, reconhecendo a ação do Espírito em novas experiências eclesiais do tempo atual. Ele procura abrir mentes e corações para que todos sejam capazes de derrubar preconceitos e se unirem naquilo que é essencial.
 
Percebe-se que a Conferência de Aparecida trabalhou continuamente no sentido de procurar nas fontes da salvação, ou seja, na Palavra de Deus e na Eucaristia, os caminhos novos a serem sugeridos para a vida pastoral. Nada sem a oração, sem a leitura orante da Sagrada Escritura, sem a liturgia, sem a mística da presença de Cristo. Todas as manhãs, o povo brasileiro e de outros países podiam acompanhar, pelos meios de comunicação, a Celebração Eucarística com Laudes, concelebrada por todos os bispos e presbíteros, participada pelos diáconos, ministros e povo presente na Basílica. Ali se ouviam homilias bem preparadas e se via uma exímia e envolvente liturgia.
 
É interessante também observar que os bispos da Conferência procuram fazer uma análise globalizante da situação atual, de forma diferente das análises de Medellín e Puebla que respondiam desafios próprios e urgentes de sua época. Os grandes problemas, hoje, não são só os relacionados a uma sociedade injusta em suas estruturas econômicas e políticas, com desigualdades sociais gritantes, mas também a um mundo secularista, relativista, hedonista, pansexualista. Vê-se atualmente ainda uma sociedade marcada pela deformação do genuíno sentido religioso, transformando a fé como espécie de produto de mercado onde vence quem faz a melhor oferta de soluções para problemas individuais, prometendo milagres fáceis e, a toda hora, gerando o fenômeno da mobilidade religiosa. Outra característica do momento atual é o problema da desvalorização da vida humana e o desrespeito à natureza. A violência estabelecida, o desprezo pela vida intrauterina gerando leis abortistas são sinais negativistas de uma sociedade em decadência ética e moral.
 
Vê-se que os problemas são muitos e complexos. Para essa realidade, a Conferência de Aparecida pretendeu dar uma resposta animadora e despertar coragem nos discípulos atuais de Cristo, ou sejam, todos os batizados.
 
Pode-se perceber que o centro prático do Documento de Aparecida está na ação missionária efetiva, praticada por todos os fiéis e não só por ministros ordenados ou pessoas consagradas à vida religiosa. O Documento poderá impulsionar as comunidades à missão permanente, preparando os fiéis para irem de casa em casa rezar, ler a Sagrada Escritura, convidar e motivar as pessoas para se integrarem à vida eclesial.
 
Porém, como visto acima, o problema da Igreja hoje não está restrito à mobilidade religiosa e nem só ao ateísmo real ou prático. Há muitos outros desafios, muitas outras barreiras, muitos outros problemas a serem resolvidos. Neste sentido, as opções pastorais muito definidas e quase isoladas não ajudariam muito. Elas não podem se restringir a um campo, como nas conferências passadas, mas devem ser muito mais abrangentes, sem perder de vista, é claro, o que já escolhemos como prioridade e que seja resposta à situação atual ainda que parcial.
 
Além do Documento final, os bispos quiseram deixar de imediato, a mensagem ao Povo de Deus. Esta mensagem indica o que estava no coração dos 260 membros da Conferência, incluindo também os peritos e auxiliares. Percebe-se no trecho abaixo, o espírito e a direção apontada, a partir daquela assembléia que, sem dúvida representa um novo Pentecostes para a Igreja hoje: “Do cenáculo de Aparecida nos dispomos a empreender uma nova etapa de nosso caminhar pastoral, declarando-nos em missão permanente. Com o fogo do Espírito vamos inflamar de amor nosso continente: ‘Recebereis a força do Espírito Santo que virá sobre vós, e sereis minhas testemunhas até os confins da terra’ (At 1,8)”.
 
E podemos completar com a profissão de fé na presença mística de Jesus Cristo entre nós: “Eis que estarei convosco, todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20).
 
Aguardemos, como discípulos, na expectativa da fé, a publicação do Documento, nova luz orientadora de nosso trabalho missionário em favor da Vida que Cristo veio trazer para todos.
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