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Publicado: Quarta-feira, 12 de maio de 2010

O dia em que a Terra parou

O dia em que a Terra parou

Outro dia, eu tive um sonho de sonhador, maluco que sou eu sonhei, com o dia em que o Twitter zerou...

Abandonado e largado no esquecimento! Angústia misturada a uma sensação de desorientação. Onde estão todos aqueles nomes e rostos que acostumei a encontrar todos os dias no Twitter. O Twitter sucumbiu a algum Bug, desordem, vírus, seja lá o que for. Seja como for hoje, quando retornei do almoço nesta segunda-feira, dia 10 de maio de 2010, ele só exibia zeros! Ninguém me seguindo, ninguém lá para eu seguir!

O que mudou efetivamente na minha vida? Nada? Talvez. Mas estava acostumado àquela turma postando informações interessantes, dicas úteis e dados fúteis. Estava acostumado à ilusão reconfortante de que eu sabia onde estavam aquelas pessoas, como estavam se sentindo ou o que estavam fazendo. Eu me apoiava na sensação de que alguém se importava com o fato de eu saber onde ele estava. Fato, aliás, verdadeiro, pois ao postar cada um a sua solidão, elas se encontram e, assim, não estão mais sozinhas. Eu já estava acostumado à ilusão acolhedora de que alguém escutava minhas ideias, lia meus textos e se importava com minhas sensações e sentimentos compartilhados. Tinha desenvolvido até certo orgulho por ser seguido por outros. Pensava que algo do que eu escrevia interessava pra alguém, afinal, por uma ou outra razão, estavam me seguindo.

E agora? Será que ficarei motivado a escrever sem saber o que fazer com aquele texto? Será que seguirei expressando pensamentos que diziam respeito apenas a mim, mas que, de alguma forma, gostava de compartilhar?

Gandhi, certa vez, disse que não queria seguidores. Mas eu não sou Gandhi. Acho interessante a possibilidade de ser seguido e de seguir outros. Um dos principais medos originais descritos por Freud entre as fantasias primárias, é o medo de aniquilação. O medo de desaparecer, sumir, morrer. O medo de não ser ninguém. Ser um nada, anônimo neste universo tão grande. No Twitter, de certa forma, eu era alguém claramente, afinal, tinha os outros pra me ajudarem a saber disso. Isto vale pra qualquer uma das mídias sociais que tem entrado em nosso dia-a-dia. Seja porque navegamos nelas, seja porque escutamos falar sobre elas com estranheza.
E enquanto estou aqui na angústia, escrevendo, observo outros twitteiros postando sua surpresa e sua dúvida: O que está acontecendo com o Twitter?!

Me dou conta por um segundo que, se ainda os vejo, ainda os sigo. Ufa! Os números zerados perecem uma ilusão provocada por um mal funcionamento. Mais uma ilusão, mas, dessa vez, me felicito por perceber que estou iludido! Eu ainda os sigo e, provavelmente, ainda sou seguido. Mas nada será como antes. Minha confiança iludida acabou. O Twitter não é a imensa sala cheia de amigos. Ele pode sumir, de uma hora pra outra, assim como todas as demais mídias. Não há nada que eu possa fazer. Esses personagens representados por seus avatares digitais, em parte, se perderão da minha vida. Por fim, seguimos vivendo, e a vida virtual não é menos real do que qualquer outra. Mas pode ser mais efêmera, e, por isso, há que se mantê-la em sua dimensão. Jamais podemos perder a habilidade de viver a vida real, natural, alegre e triste; cheirosa e, por vezes, cheias de bugs. Insetos que não escondem os números, mas picam picadas que coçam. Nada virtual.

Surpreendentemente, sigo aqui, mesmo após ser zerado pelo Twitter. Com ou sem twitter, sigo aqui. Percebo que a pergunta essencial da vida jamais sumiu e jamais mudou. Ainda que às vezes silencie por algum tempo: Estou aqui no mundo. E agora? O que fazer com isso?

(Bug é o termo usado para determinar problemas em sistemas eletrônicos. Em inglês, bug quer dizer inseto. O termo surgiu na década de setenta, quando os super computadores funcionavam com válvulas, e queimavam quando um mosquito encostava em uma das válvulas aquecidas. Ah! E se quiser me seguir pelo Twitter, que já voltou ao normal. Clique aqui!)

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