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Publicado: Segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O dia da noiva

Houve tempo em que o casamento, no cartório e na igreja, era muito mais valorizado do que hoje.

Um casal que não fosse “casado” era mal visto na sociedade. A mulher era chamado de concubina, o casal não podia ocupar uma suíte em um hotel respeitável e os filhos traziam na certidão de nascimento a pecha “filho ilegítimo”.

Não havia também nada que regulamentasse a participação dos bens adquiridos no nome de um ou de outro e no caso de separação a mulher não tinha nenhum direito assegurado.

Tudo isto levava as pessoas a formalizarem seu casamento e era pouco comum os casos de união ilegal.

Depois tudo isso foi mudado e hoje a união estável tem todos os direitos e o respeito de um casamento formal.

Sendo assim muitos casais resolvem unir-se para o resto da vida, assumindo as alegrias e as dores de um casamento simplesmente indo morar juntos sem ter que dar qualquer satisfação a sociedade e sendo por esta, naturalmente, bem aceitos.

Foi assim com Julia e Paulo.

Tinham pouco dinheiro e o que gastariam com uma festa de casamento dava para montar a casa.

Se fossem casar na igreja teriam que convidar pelo menos os familiares e alguns amigos mais íntimos e oferecer alguma coisa que, por simples que fosse, representaria uma grande despesa.

Como estavam apaixonados, ansiosos por assumir uma vida em comum, simplesmente juntaram, como se diz, suas escovas de dentes e declararam-se marido e mulher.

Seu casamento teve como todos os casamentos, alegrias, emoções, arroubos e dificuldades, desalentos, decepções.

Mas se amavam e na contabilidade da vida eram um casal feliz.

Entretanto, Julia, que desde menina sonhara com o longo vestido branco, o véu, a grinalda e o buquê, guardava uma secreta mágoa, faltava-lhe a lembrança do tradicional "Dia da Noiva" e a clássica fotografia que é tudo o que fica perpetuado de uma festa de casamento.

Nunca disse isso ao Paulo. Afinal haviam decidido de comum acordo como seria a sua união e ela não se achava com direito de reclamar agora.

Mas Paulo que tinha o dom de ler-lhe o coração sabia disso e sentia que faltava esse pequeno detalhe para completar-lhes a felicidade.

Quando o prefeito local anunciou que a Prefeitura patrocinaria um casamento coletivo, gratuito com a participação da Igreja para que os casais amasiados pudessem legalizar gratuitamente a sua situação, com direito a uma fatia de um enorme bolo festivo, Julia e Paulo se animaram como dois jovens enamorados, o que nunca deixaram de ser e apressaram-se a inscrever-se.

Só havia uma dúvida, será que devia vestir-se de noiva?

Houve época em que o vestido branco e a grinalda de flores de laranjeira eram um simbolismo da virgindade da noiva.

Já não era mais assim, mas, as mulheres que estavam casadas ha muito tempo, que já tinham filhos, escolhiam outro traje para a cerimônia.

Julia, entretanto, estava tendo a oportunidade de realizar o seu sonho, usar a clássica veste nupcial, tirar uma fotografia abraçada com o Paulo, ter a sua festa de casamento.

Isto, para ela, era muito mais importante do que a certidão do cartório e a bênção do padre.

Leviandade?

Não. Apenas uma questão de valores.

E foi assim que a Júlia pode ter finalmente o seu Dia da Noiva.

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