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Publicado: Segunda-feira, 30 de março de 2009

O Cristo Partido

O ditador Franco governava a Espanha com mão-de-ferro. Extra-oficialmente, apoiava a política de Adolf Hitler e via o líder da Alemanha como um possível aliado. Incomodado com a ação dos católicos e dos opositores ao regime franquista, o ditador espanhol pediu ao Führer que promovesse alguns ataques pelo interior do país.
 
Hitler e sua fúria adoraram a ideia. No mínimo seria uma forma de movimentar as tropas e demonstrar ainda mais a força de seu Terceiro Reich. Naquele período, inúmeros vilarejos foram atacados. Tanques e metralhadoras destruíram casas e igrejas, o comércio e as lavouras. Homens e mulheres, crianças e idosos foram presos ou assassinados.
 
Após os ataques não houve ocupações. O objetivo não era agregar, apenas destruir. E então os alemães foram embora, deixando para trás um rastro de dor e destruição. As vilas deixaram de ouvir o barulho das tropas e da máquina de guerra. As pessoas, ainda em choque, começaram a avaliar tudo o que havia sido destruído.
 
O ser humano é feito de carne, osso e esperança. Logo os vilarejos começaram a ser reconstruídos. A comunidade uniu-se em torno desse objetivo. Reergueram casas e prédios, recomeçaram os trabalhos na lavoura. A dor pelos que partiram desta vida foi um pouco sufocada pelo desejo de proporcionar à próxima geração um futuro melhor.
 
Em um dos vilarejos, os camponeses começaram a reconstrução da igreja local. Remexendo nos escombros da antiga edificação, encontraram um crucifixo. Com os impactos que sofreu, o Cristo de gesso acabou ficando sem os braços. Refizeram as paredes, o forro, o telhado, os sinos. Recolocaram os bancos, o altar, as imagens sacras.
 
Pensaram em comprar um novo crucifixo para substituir o que havia quebrado. Mas enfim, pensaram melhor. O Cristo partido ficaria em destaque no altar-mór. “Faz parte da nossa história”, concluíram os fiéis. E assim foi feito. Abaixo do crucifixo, colocaram também uma placa com os dizeres: “Os braços Dele, somos nós”. A história é verídica e a mensagem emociona. Os detalhes estão no livro “O Meu Cristo Partido”, um dos best-sellers da literatura católica mundial.
 
Duas reflexões podemos tirar deste belo acontecimento. A primeira nos lembra o quão perto de nós Jesus está. Ele é um Deus presente em nossa vida, que não fica distante nas galáxias. Cristo está ao nosso alcance, escuta a nossa respiração. Nos momentos de dor, o Filho de Deus sofre conosco. E ao mesmo tempo nos consola e aconselha, nos dá forças para prosseguir e vencer as dificuldades.
 
A outra reflexão nos lembra que a missão de transformar a humanidade e o mundo é nossa, não de Cristo. Jesus fez sua parte nos indicando o caminho e nos deu a própria vida como prova de seu amor, para nossa salvação. No plano temporal, podemos contar com suas bênçãos e com os dons do Espírito Santo. Mas a ação deve ser nossa.
 
Podemos pedir a intercessão do Filho de Deus, dos santos e dos anjos. Mas a tarefa de reconstruir o mundo é nossa. É nosso o dever de colocar a mão na massa, reerguer paredes, reconstruir pontes e telhados. Os chamados a seguir o Cristo, devem ser mesmo os braços do Filho de Deus entre os homens.
 
Se tivermos fé do tamanho de uma azeitona, acreditando no poder de Deus com todo o coração e realmente agindo, através de atitudes e não somente com palavras bonitas, poderemos fazer maravilhas em nome do Senhor!
 
Importante é que possamos assumir essa tarefa de sermos os braços de Jesus na construção de um mundo novo, mais unido, justo e fraterno. Ou alguém prefere o Cristo partido, aleijado e sem ação?
 
Amém.
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