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Publicado: Sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O colecionador de sonhos

O colecionador de sonhos Foi embora. Saiu sem levar o abraço de saudade dos dias que chegou do trabalho, como um amante esperado. Foi sem o beijo pendurado, como canguru, ainda na sala. Sem plateia, saiu pela porta da frente olhando para trás em busca de algo que pudesse levar. Podia ser um aroma; quem sabe um toque na perna, embaixo da mesa do jantar; ou ainda uma discussão frágil, que fosse, sobre o melhor filme para se assistir antes de dormir. Desceu até o jardim, sentou no banco por alguns minutos, depois bateu os calcanhares e se levantou. Saiu sem levar os corpos se freando um no outro, embaixo do chuveiro. Pra falar a verdade, nada coube na pequena mochila que ficara guardada aqueles anos todos, bem atrás das toalhas no guarda-roupa. Nem a conchinha embaixo do edredon, nem os sorrisos embrulhados em presentes baratos. Saiu sem levar fotos, pipocas na mesma tigela ou violação de privacidade nos celulares. Já na calçada, fechou o cadeado e foi sem levar a chave. Era sábado. Saiu mais vazio do que entrou.

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