Colunistas

Publicado: Segunda-feira, 16 de agosto de 2004

O analfabeto político

Dias atrás, coordenando uma Mesa-Redonda promovida pelo Grupo “Fé e Política”, da cidade de Itu, abri os trabalhos reafirmando a importância das Câmaras Municipais e, por extensão, também das Assembléias Legislativas, da Câmara e Senado Federal. Pessoalmente, estou convencido, pelas razões que darei adiante, de que o Poder Legislativo é até mais importante que o Executivo.

Antes, porém, quero referir-me a uma página de Bertold Brecht, insuspeito, pois se chegou a ser cristão, viveu como se não fosse e, consta, tinha idéias revolucionárias, marxistas. É uma página que vem bem a propósito nesta nova campanha eleitoral. Afirma ele que não poucos cidadãos alheios ao bem comum, não interessados apenas consigo mesmo e com o seu mundinho, pouco ou nenhum valor dão aos problemas humanos e sociais dos que os cercam. Aos que assim procedem, Bertold Brecht chama de “analfabetos políticos” que, aliás, é dos piores analfabetismos, pois ignora ou finge ignorar as carências dos outros, como se não tivesse nenhuma responsabilidade na miséria, desemprego e violências que se abatem sobre milhões de pessoas.

Analfabeto político é, também, acrescento, quem deixa de votar ou anula o próprio voto, abrindo mão de um dos mais sagrados direitos e deveres de qualquer autêntica democracia. Analfabeto político é também quem lava as mãos nas eleições que se sucedem, pouco se informando sobre os candidatos e tendo a ousadia de vender o próprio voto. É quem vai para as urnas e deposita o seu voto em candidato sem as qualidades que ofereçam garantia de estar comprometido com a solução dos maiores problemas do Município, do Estado e da Federação.

A Mesa-Redonda promovida pelo Grupo “Fé e Política” de Itu, que venho acompanhando ultimamente, reuniu nove candidatos de nove diferentes Partidos, alguns já tendo exercido um, dois, três e até mais mandatos como Vereadores. Fiquei frustrado com a presença relativamente pequena de eleitores. Em sucessivas reuniões, a Mesa veio sendo preparada com muita seriedade. Foram distribuídos mais de 500 convites às Autoridades civis e militares, aos dirigentes de entidades ituanas, aos sacerdotes e diáconos da cidade. Contamos com cerca de 60 interessados! Foi decepcionante, embora a dinâmica adotada, as perguntas e respostas dos candidatos à Câmara, o ambiente de respeito e a seriedade de todos nada deixassem a desejar.

Em avaliação feita no dia seguinte, reconhecemos que talvez tivesse sido mais acertada e oportuna a iniciativa da Mesa-Redonda, em princípio de setembro. Nessa altura, é possível que o eleitorado tenha maior interesse em conhecer, entre tantos, os melhores candidatos à Câmara Municipal. Mas, a experiência que tenho no campo da Fé e Política, me permite dizer que, lamentavelmente, o nosso eleitorado não vem dando ao Legislativo de seus Municípios a decisiva importância que tem. O interesse pelos prefeituráveis, candidatos ao Executivo, supera de muito o pouco e relativo desinteresse pelo Legislativo. Coisas de uma democracia incipiente.

E isso é uma pena, porque os Vereadores – como os Deputados Estaduais e Federais – é que legislam, aprovando projetos e leis que cumpre aos Prefeitos, Governadores e Presidentes da República cumprirem. São eles, os Vereadores, que aprovam ou não o Orçamento do Município e, portanto, a boa aplicação dos tributos. Cabe a eles fiscalizar os atos e procedimentos dos Prefeitos, seus Secretários e Chefes de Departamentos, nas decisões que vierem a tomar. Em não poucos casos há Câmaras que têm deposto Prefeitos, quando pesam sobre eles graves atos de corrupção ou decisões que não levem em conta os projetos aprovados. São competências que cabem aos Legislativos pela Constituição Federal. Em outras e nesta atual campanha eleitoral, sempre me perguntam: que qualidades deve ter um bom candidato? Deixando claro que a Igreja e nós, seus Pastores, não temos Partido ao qual sejamos filiados e insistindo em que o eleitor tem o dever de votar no melhor entre os melhores candidatos, com freqüência vou adiante enumerando as qualidades que tornam alguém merecedor de um voto consciente, levando-os a sobrepor aos seus interesses os de sua cidade. Essas qualidades eu as enumero na ordem que segue: honestidade, qualificação para o mandato pleiteado, grande sensibilidade e empenho na solução dos problemas dos mais carentes e marginalizados, inspirando-se nos valores do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja. O eleitorado católico, é evidente, dará o seu voto para candidatos à Câmara e Prefeitura que tenham essas qualidades. Assim procedem os que sejam adultos na própria fé e sinceramente inseridos na vida da Igreja. Tornarei ao assunto logo mais.

Comentários