Publicado: Quarta-feira, 21 de junho de 2006
O alvorecer da civilização
Há 80 mil anos, a Terra era um imenso cenário quase vazio de homens. Provavelmente, pelas savanas da África perambulavam alguns grupos de seres humanos primitivos, de feições grosseiras, de hábitos animalescos, mas já dotados de um comportamento invulgar entre todos os demais seres da criação. Já fabricavam suas armas com fragmentos de sílex ou pedaços de madeira e chifres de cervos. Porque não poliam o sílex para a preparação das suas flechas, hoje nos referimos àquela época como período da Pedra Lascada. Acredita-se que há uns 30 mil anos, ainda contemporaneamente com os neanderthalenses, começavam a proliferar os bandos de um novo tipo, mais humano, de traços mais finos, o Cro-Magnon. Era o início do Paleolítico Superior, era que ficou conhecida como Período da Pedra Polida. O sílex, obtido em lâminas afiadas, era usado para cortar outros materiais e para polir machados, aguçar pontas de lança ou mesmo para destrinchar a carne de suas caças. O homem primitivo vivia em hordas selvagens, pois o instinto e a inteligência, que nele começavam a se iluminar, mostravam que a vida em grupo trazia maior segurança contra os perigos, contribuía para afugentar as feras e tornava de certa forma mais fácil a caça, mesmo quando ela consistia em dominar um animal de grande porte, como o mamute, o rinoceronte peludo ou o urso das montanhas. Era habilidoso trepador de árvores e competia com muitos animais ferozes para instalar sua habitação nas cavernas. Inicialmente, os bandos de homens de Cro-Magnon viviam errantemente, pois dependiam exclusivamente da caça e da pesca. A prática de fazer o fogo para evitar o frio muito deve ter ajudado no aprendizado do preparo de alimentos, pela cocção dos mesmos. Quando a caça se rarefazia no local, os grupos partiam, no seu nomadismo, à procura de novas regiões. Só quando o homem descobriu que poderia plantar sementes de vegetais e esperar que dali surgissem seus alimentos, foi que nasceu a agricultura, com o plantio do trigo e da cevada, cereais de fácil cultivo, permitindo a fixação regional dos grupos. Um passo decisivo no alvorecer da civilização foi a necessidade de desenvolvimento da comunicação verbal entre os integrantes de um mesmo grupo. A linguagem falada é, sobretudo, a maneira mais eficiente de transmitir o aprendizado. Toda experiência anteriormente vivida ou já herdada de gerações passadas é facilmente assimilada quando transmitida através de palavras. Os exemplos tornam-se significativos; as narrações de fatos e de descobertas livram os novos indivíduos de cansativas observações ou de arriscadas empresas. Essa conveniente necessidade estimulou o desenvolvimento da linguagem falada. Das armas toscas de pedra, primeira matéria-prima utilizada pelo homem, o Cro-Magnon evoluiu para o fabrico de utensílios domésticos e de armas mais aprimoradas. Aos poucos, foi abandonando as cavernas e passando a construir choças de junco nas planícies, ou palafitas sobre os alagadiços. Era mais uma segurança que ele dava à sua família, habitando em choças construídas sobre estacas, em terrenos lacustres, de difícil acesso para os animais ferozes. No correr do Período Neolítico ou do Paleolítico Superior, o engenho humano se desenvolve, pois, já nessa época, a prática de uma medicina primitiva, com métodos cirúrgicos, já tinha lugar. O fogo, as compressas de ervas, as cataplasmas de barro quente eram integrantes do arsenal terapêutico do homem pré-histórico. E a abertura do crânio, o parto Cesário e a cirurgia de amputação, está provado, já eram praticados na idade da pedra. Datam de 20 mil a 30 mil anos as pinturas rupestres e os baixo-relevos de animais deixados pelo homem primitivo nas grutas e cavernas e que são hoje motivo de atração turística. Nas escavações arqueológicas são também encontrados objetos de cerâmica, revelando o emprego de argila cozida e modelada, no fabrico de utensílios domésticos. Apareciam as tribos. O homem descobriu que, ao invés de matar os animais, seria mais producente domesticá-los, procriá-los e deles obter os alimentos, como o leite e a carne. Assim floresceu lentamente a pecuária. Surgiam os rebanhos de cabras, ovelhas, bois, porcos e cavalos. Não tardou que o camponês primitivo percebesse a utilidade de alguns desses animais para o trabalho pesado, como o boi, que foi utilizado para arar o solo. Em algum lugar do mundo, numa época ainda não determinada, foi inventada a roda. Dela se teriam, mais tarde, importantes aplicações, como no carro puxado por animais e, bem posteriormente, na roda de tecelagem para o fabrico da lã, do linho, do algodão e da seda. Como forma de veículo, é construída a, que dispensa as longas caminhadas. Estima-se que há mais ou menos 5 mil anos a.C. tenha sido criada a forma mais rudimentar de escrita. A esse tempo, também iniciava-se o comércio, com o intercâmbio de produtos de caça por materiais manufaturados ou por medidas bem pesadas de cereais. Provavelmente, há 4 mil anos a.C. desenvolveram-se na Mesopotâmia, na Palestina, na Pérsia e no Egito as primeiras cidades do mundo, com organização em sociedade e divisão de trabalho. A agricultura e a pecuária floresciam. Começava a surgir a especialização de indivíduos não interessados em lavrar a terra ou criar animais, mas voltados de vocações para outras atividades. Distinguiam-se, então, artesãos, metalúrgicos, sacerdotes, tecelões, etc.. No lento passar dos milênios, os povos se propagaram , enquanto o engenho humano descobria novas formas de vida, na indumentária, na alimentação, na moradia, nos transportes, nos combates, nas artes e na ciência. O homem havia vencido todas as dificuldades da Pré-história; ele saía do passado e entrava no presente, com pó destemor dos nórdicos, enfrentando os mares como os vikings, afrontando os desertos, como os egípcios, empenhando-se em duras e sangrentas batalhas, como os hunos, mas conquistando uma nova posição, já então na História
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