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Publicado: Quarta-feira, 2 de julho de 2014

Novos tempos para a hotelaria no interior

Crédito: Arte / Jair Soares Novos tempos para a hotelaria no interior

Nem oito nem 80. Quando se trata de hotéis no interior do Brasil, de um lado se há pocilgas mofadas e do outro spas supérfluos. Mas o que o viajante de negócios precisa mesmo é de um quarto limpo, boas instalações, localização adequada, e gerenciado de forma profissional a um preço justo. A realidade é outra. A maioria destes hotéis, quando não decadente, opera de maneira não competitiva, e sobrevive por falta de concorrência. Vai de diárias abusivas, péssimas acomodações, até serviços sofríveis. Um panorama que começa a mudar com a ampliação de redes brasileiras e internacionais em mercados até recentemente mal explorados pela hotelaria.

Os dias parecem contados para o amadorismo de empreendimentos velhos e familiares que teimam em resistir aos novos tempos. “A oferta hoteleira do interior, em vários mercados, não é padronizada, e oferece produtos muito diferentes e heterogêneos”, explica Mariano Carrizo, diretor da consultoria Horwarth HTL, que junto com seu colega Michael Schnürle é autor do trabalho “O Desenvolvimento Hoteleiro no Interior do Brasil - Panorama e Oportunidades”. O documento destaca que os meios de hospedagem nas cidades do interior têm em média menos de 60 apartamentos por hotel e idade superior a 20 anos. Muitos cobram diárias pelo número de hóspedes, com a possibilidade de até cinco pessoas em um mesmo apartamento – isto sem ar condicionado e aquecimento de água central. Pior: são pequenos negócios sem recursos para promover retrofits visando reposicionar os empreendimentos.

Felizmente, o cenário está se transformando. A ampliação do interesse em desenvolver hotéis econômicos e supereconômicos em cidades secundárias, ou até terciárias, tem um foco principal. Busca-se locais que apresentem crescimento médio do PIB nos últimos oito anos acima dos 10%, com mais de 80 mil, mas menos de um milhão de habitantes. “São polos relacionados à expansão do agronegócio nas regiões Sul e Centro-Oeste, à mineração no Pará e em Minas Gerais, à exploração do petróleo no norte fluminense, e à busca de setores da indústria por lugares com mão de obra mais barata e uma logística melhor, como o interior de São Paulo”, apontam os consultores.

O potencial para investimentos é imenso. Basta dizer que das cerca de 260 cidades brasileiras que se encaixam no perfil ideal, apenas 25% delas contam com um hotel filiado a uma operadora. A nova fórmula de sucesso na hotelaria de interior, voltada para viajantes de negócios – representantes, técnicos, vendedores, que costumam viajar sozinhos e de carro – é construir unidades com 90 a 120 apartamentos. Sem a necessidade de restaurante para reduzir custos, precisam se localizar junto às principais vias de acesso às cidades ou a empreendimentos de uso misto, como shoppings, em áreas de até 2 mil m2, com investimentos até R$ 8 milhões (fora o terreno). Hoje, quem insiste em operar um hotel de negócios no interior do Brasil de forma independente precisa ser muito competente ou ter vocação suicida.

* Este texto foi publicado originalmente na coluna Viagens de Negócio, de Fábio Steinberg, no dia 1º de julho de 2014, no Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo.

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